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sábado, 9 de janeiro de 2021

Occasionally



- What are you doing out here, so early?

- Thinking…

- About what?

- Things… in general… life… us… the future…

The sun had just slit the horizon with its razor of light, slowly colouring the sky with the first rays in shades of yellow and vermillion.  I felt like my soul was in a peaceful mood.

He sat down by my side on the soft white sand. The sound of the waves, my favourite soundtrack, helped me think, making my mind wander freely…

His arm touched mine, occasionally. His leg touched mine, occasionally. He did not say another word, for some time. He knew me. He just waited, patiently, respecting my time and my timing. I was not in hurry. Why would I be? I was in love and I was being loved by the sweetest man alive… and he was sitting right there, so close to me, at my side.

I was often emotional. He felt it, automatically and pressed my arm, without saying a word. He knew me so well, indeed.

That tender gesture triggered my reactions harder and deeper. I felt warm tears running down my face. He pulled me closer to him and embraced me, bringing my head to rest on his chest.

- I love you so very much…

I held his hand in mine and kissed it gently. 

He smelled my hair and closed his eyes, as if trying to hold that moment in his memory.

- Your scent is so remarkable…

I hummed an almost inaudible:

- You’re too sweet, my love

- I’ve been thinking…

- So have I.

He took a deep breath and held me tighter.

- Oh, my love…

I knew exactly what he intended to say. He did not need to speak it all out loud…

It was the same I wanted...

***



sábado, 22 de agosto de 2020

Viajante do Tempo. Epílogo. Os Caches. O Portal


- Pelo amor de Deus, homem, quantos de vocês andam por aí, afinal? Vocês são todos assim, tão parecidos em aparência?

 

- Somos um grupo de clones criados a partir do mesmo ADN original. É por isso que nos parecemos tanto. Éramos treze... A princípio...

 

- Oh, meu Senhor amado!

 

Os três amigos se entreolharam. Era a história a replicar-se... no futuro? Ou era apenas um jogo que se repetia, continuamente?

 

- O que são esses falsos 'geocaches', afinal? Certamente são partes que encaixam, umas nas outras, pelo que pudemos deduzir.

 

A mudança repentina de assunto foi mais do que bem-vinda.

 

- Sim, são. Duas partes de um único portal foram instaladas separadamente, de propósito. Não deveriam ser usados por ninguém, além do mensageiro... Eu, neste caso... Foram deixadas aqui com uma finalidade específica: a missão, para a qual eu fui enviado, como vocês já devem ter percebido.

 

Os três amigos não ficaram nada surpresos. Aquela conversa desenvolvia-se como uma série interessante de mistérios não resolvidos, que estavam prestes a ser explicados.

 

***

 

- O passado, assim como o futuro, pertencem ao tempo em que eles acontecem, originalmente. Não devem ser tocados, nem alterados, de forma alguma. Essa é uma lei sagrada e deve ser respeitada, acima de tudo e de todas as outras regras existentes, caso contrário, um caos descontrolado é o resultado. Quando existe o risco de quebra deste norma, a única forma de interferir é usando um subterfúgio.

 

- Oblívio...

 

- Correto. E, então, o portal aberto para aquela oportunidade é fechado, e nunca mais aparecerá ou se abrirá novamente.

 

- Como assim?

 

- É completamente destruído, de uma vez por todas.

 

- Mas pode haver outros...

 

- Os portais de tempo não são abertos, aleatoriamente, a menos que haja uma razão muito específica... E só o Conselho e o Supremo podem autorizar a criação e abertura de um novo. Se não houver um motivo muito bom e convincente para viajar, não há autorização. Um ponto importante é que o viajante deve voltar sempre pelo mesmo meio, seguindo uma programação específica.

 

- E há uma razão, agora, suponho, para um portal ter sido aberto.

 

- Sim. Há uma razão... Uma boa razão...

 

A antecipação estava estampada nos rostos dos três homens. O viajante olhou diretamente para o homem de pele pálida.

 

- Há uma razão muito boa, de facto!

 

***

 

- Eu fui mandado aqui, pelos cientistas, para te procurar e te levar de volta ao futuro, que é onde deverias estar. Não foi tão fácil te encontrar, como pensei que seria, quando cheguei... Deixei algumas pistas, mas que nunca foram usadas. Parece, porém, que alguém mais pode tê-las encontrado e começado a procurar as peças, que foram, prudentemente, separadas umas das outras.

 

- Eu li um ‘post’ que, supostamente, havia um ‘geocache’ falso no farol…

 

- E eu li aquele sobre o moinho.

 

- Alguém deve ter lido sobre eles, também, e quis verificar do que se tratavam.

 

- Não acho que tenha sido uma busca inocente. Essa gente sabe o que procura.

 

- Então? O que é que eles procuram?

 

- Vamos sair daqui. Vou explicar tudo no caminho.

 

***

- Quando tu foste mandado de volta ao passado, havia... quer dizer, haverá... Uff! Já nem sei como falar… Tanto faz... Houve um boato sobre a tua presença lá. Alguns dizem que salvaste o futuro da humanidade, outros dizem que levantaste uma suspeita séria sobre as intenções, que nosso Chefe Supremo tinha, sobre o próprio planeta.

 

- Talvez as duas coisas...

 

O homem de pele clara falou com um tom de voz muito grave.

 

- E o que dizem sobre a vacina?

 

- A vacina funciona bem. Está tudo sob controlo.

 

- Bem, parece que a viagem valeu a pena, afinal.

 

- Parece que sim.

 

O jovem de óculos olhou para os outros três homens, quando percebeu que estes trocaram um rápido e estranho olhar, entre eles. Não pareciam estar muito confortáveis ​​com o assunto.

 

- O que é que foi isso?

 

- Como assim? O que foi o quê?

 

- Vocês três estão escondendo alguma coisa de mim, não é? O que aconteceu?

 

O estranho olhou para os amigos, como se esperasse uma pista sobre o que dizer.

 

- Ele sabe do uso do ‘Oblívio’ e que, obviamente, foi um ingrediente adicionado na cápsula, antes de ser mandado de volta ao vosso passado, ou seja, ao nosso presente.

 

- Então, vejo que  é mais do que hora de falarmos a verdade.

 

***

 

- Mas por quê?

 

- Eles sentiram que tu irias quebrar a regra universal mais sagrada.

 

- Eu fiz algo errado?

 

- Na verdade, não. Mas acabou dizendo à Leona que o Supremo explodiria o planeta.

 

- Oh. E isso faz algum sentido? Ele faria algo assim?

 

- Não é provável, eu acho. Ele não pode fazer isso, sem a aprovação de todo o Conselho.

 

O homem de pele clara e o outro jovem falaram, ao mesmo tempo:

 

- Mas ele vai!

 

- O quê?

 

- Ele vai, definitivamente, destruir o planeta.

 

- Quando? Por quê? Como ele faria isso e como vocês podem ter tanta certeza?

 

- Foi assim que vim parar aqui, neste tempo e espaço, numa cápsula que foi enviada de volta ao passado, no momento em que o planeta explodiu. Ele me mandou para cá... E eu não viajei sozinho...

 

***

 

- O que essa gente quer?

 

- Eles não são, definitivamente, boa gente. Além de terem muito dinheiro, são donos de uma das mais influentes Indústrias Farmacêuticas, que tem poder para controlar o presente e, provavelmente, o futuro da humanidade. Eles assassinaram o outro passageiro, sem nenhum escrúpulo. Se conseguirem acesso ao portal, eles terão ainda mais poder e podem mudar muitos acontecimentos no futuro e… no passado... ou a qualquer momento... Eles transformariam este mundo em um caos completo, já que se colocam acima de toda e qualquer lei.

 

- Precisamos agir imediatamente. Vamos. Acho que estaremos protegidos no meio da mata...

 

- Então, qual é o plano?

 

- Precisamos chegar às instalações antes que o Supremo consiga o que quer. Caso contrário, estaremos perdidos no meio do nada, assim como o planeta, que será completamente reduzido a cinzas e poeira cósmica.

 

- E se chegarmos tarde demais?

 

- Eles estão esperando por nós. Não será tarde demais... Talvez tarde, mas não tarde demais... Precisamos falar com Leona, ou com o pai dela... Ou com os dois...

 

- Primeiro, falamos com os cientistas… Leona usou o ‘Oblivion’ contra ele, lembram?

 

Ele apontou para o homem de óculos.

 

- Ela é muito fiel ao Supremo... Vai precisar ser convencida, primeiro, e temos pouco tempo para isso.

 

- E se vocês falharem?

 

- Então nosso destino está selado. Mas devemos tentar. É nossa única hipótese.

 

Os quatro homens entraram no bosque e encontraram uma pequena clareira, onde juntaram as duas partes do portal e, com uma chave trazida pelo viajante, uma porta curiosa se abriu, como por mágica. A grande diferença era que a magia era ciência pura, ainda não disponível na atualidade. Aquela tecnologia, em mãos erradas, seria um desastre para o mundo.

 

Os dois clones, semelhantes em aparência e propósito, se voltaram para os dois jovens e se prepararam para partir.

 

- Temos pouco tempo. É melhor irmos. Vocês vão ficar bem!

 

O som de um carro parando e de passos rápidos a se aproximar, colocaram todos em estado de alerta.

 

- Rápido. Vão!

 

Eles correram portal adentro, sem terem tempo de se despedirem adequadamente. O portal fechou, imediatamente, quando eles o cruzaram. Os dois jovens fugiram para a direção oposta, escondidos pelas árvores e pela mata, enquanto dois homens, vestidos de preto, chegavam à clareira, uma fração de segundo tarde demais.

 

- Essa não! Nós perdemos tempo! Estamos com um problema enorme, agora! O diretor nos vai matar.

 

- Vamos voltar! Temos que relatar o que aconteceu, imediatamente!

 

***

 

- Achas que eles chegaram a tempo de impedir o desastre?

 

- Acho é que nunca saberemos…

 

- Pois. Provavelmente não. Eu gostaria de pensar que eles conseguiram consertar as coisas, como previsto.

 

- Não era uma tarefa fácil... Mas valia a pena tentar...

 

- O que fazemos agora?

 

- Vamos voltar para casa... Não há mais nada que possamos fazer, a respeito daquilo... Eu li sobre um ‘geocache’ escondido no outro farol... Temos que parar lá e verificar.

 

O rapaz de óculos arregalou os olhos.

 

- Tu deves estar brincando comigo! Quero ficar longe dos ‘caches’... por um bom tempo... Vamos voltar para casa!

 

Os dois jovens entraram no jipe. A noite caía lentamente. A luz vermelha, no farol, piscou, cúmplice, quando eles passaram de carro, como se a convidá-los a voltar...

 

***


domingo, 12 de julho de 2020

Viajante do Tempo. Parte 1. O Farol.



- Sabe, às vezes eu sinto que não pertenço a este lugar e a este tempo. E é mais do que apenas algumas vezes.

- E tu és, agora, um viajante do tempo?

Ele fez a pergunta, sorrindo.

- Tu também não te sentes, às vezes, fora do tempo e do lugar?

Ele sorriu de novo, de uma maneira engraçada, como se soubesse mais do que estava dizendo ao amigo.

- Sinto, sim.

- Então me entendes, quando eu digo isso... É tão...

Dessa vez, ele ficou pensativo, como se algo mais sério lhe ocorresse.

- Tu não tens ideia do quanto eu te entendo...

***

- Nós não deveríamos estar aqui. Se alguém nos vê...

- Calado! Ninguém vai-nos ver. Nós estamos seguros. Já passa muito da meia-noite.

- E se a polícia aparecer?

- Seremos rápidos. Eu só quero ter certeza de que está realmente aqui.

- E como nós vamos saber?

- Eu vou saber, acredite em mim...

- Está bem.

- Deveria estar por aqui em algum lugar, mas é tão trivial que ninguém jamais notaria. Ou, se o fizerem, nunca teriam uma ideia do que realmente é. Cá está. Eu sabia!

- Pronto. Já achamos, agora vamos embora daqui! É apenas um ‘geocache’!

- É assim que pode parecer, mas é mais do que isso. Não é uma caixa. Vês? Tenho certeza que é um portal.

- O que nós vamos fazer?

- Nada. Não vamos fazer nada. É mais seguro que fique aqui, do jeito que está.

- Achas que há mais?

- Portais?

- Viajantes?

Ele olhou para o jovem de óculos, em silêncio. Seu rosto estava protegido pela sombra, mas houve uma súbita mudança na sua forma de respirar.

- Vamos sair daqui, agora. Não tarda a amanhecer.

- Espera. Alguém se aproxima. Ouves?

- Rápido! Faz alguns alongamentos. Finge que estamos exercitando.

O som dos passos ficou mais alto. Alguém vinha correndo a caminho do cais e se aproximava de onde eles estavam.

O rapaz de óculos virou-se e descansou a perna no parapeito inferior, esticando-se devagar com as mãos, tentado alcançar os pés, como se estivesse fazendo alongamentos. Seu companheiro segurava um pé com uma das mãos, suportado por uma perna, apenas.

Eles não conseguiam ver se o rosto do corredor recém-chegado, no interior do capuz do casaco de treino escuro, era jovem ou velho, mas pela maneira como ele se movia, podia-se dizer que era um homem atlético. Ele passou pela pista e deu a volta ao redor do farol, voltou ao cais e saiu pelo mesmo caminho que veio, entrando no calçadão. Logo ganhou a rua e desapareceu na escuridão novamente. O som de seus passos foi desaparecendo ao longe.

Os dois homens se entreolharam, aliviados.

- Essa foi por pouco!

- Que nada! Pare de ter tanto medo de tudo. Vamos voltar. Já tivemos mais que o suficiente esta madrugada.

Eles saíram rapidamente para onde o jipe ​​estava estacionado e entraram, não sem antes olharem a volta.

Não viram o homem vestindo um casaco de treino, escuro e com capuz, parado do outro lado da área do estacionamento, protegido da vista, pela penumbra.

Assim que o carro saiu, ele atravessou o parque e voltou a se aproximar do farol, correndo...

***

Os dois chegaram em casa em alguns minutos, já que não havia tráfego àquela hora da manhã. Ainda tinham algumas coisas para discutir.

- Que porra era aquela? Era mesmo um portal? A sério? Eu pensei que havíamos ido procurar um ‘geocache’…

- Tu sabes muito bem que era um portal e não um ‘cache’. Tu viste os detalhes…

O homem de óculos estava totalmente confuso, pois sabia que aquelas coisas eram difíceis de entender e acreditar.

Seu amigo parecia mais à vontade com a existência de um portal, embora desde que eles haviam deixado o farol, parecia bastante distraído, como se estivesse em outro mundo… ou época.

- Tu achas que nós deveríamos...?

- Eu acho.

- Quando?

- Quanto mais cedo melhor. Vamos arrumar algumas coisas nas mochilas. Talvez não voltemos hoje.

***

O sol mal acabava de nascer e eles já estavam na estrada para o norte. A A28 estava silenciosa, mas logo estaria movimentada, devido ao tráfego para as zonas industriais e às pessoas que iam para as praias.

- Um portal? Não é possível! Mas aquele último foi totalmente destruído!

- Eu sei. Mas tudo aponta para um novo e nós o localizamos. Está lá, tão à vista quanto um ‘geocache’ normal… mas com detalhes muito característicos.

- Como isso pode ser possível? A menos que... Espera!... Não, não, não... Isso é improvável...

- O quê? Espera aí! Tu estás sugerindo que eles voltaram para cá?

- Do que vocês dois estão falando? Isto não faz nenhum sentido.

- Mas por que aqui e por que agora? O que há aqui, nesta era, que poderia ser de algum interesse para eles?

- Eu não faço ideia. Se tivéssemos alguma indicação do que aconteceu, quando...

Eles olharam para o homem de óculos.

- ‘Oblívio’, o ‘Esquecimento’...

- OK! Vamos parar aqui e agora. Quero saber tudo sobre este incidente com ‘Oblívio’... Passou-se bastante tempo. Já está mais que na hora de falarmos sobre isso. E não me tentem enganar mais, por favor!

Os dois homens olharam para aquele que usava óculos. Ele estava lívido.

- OK. É melhor sentar. Vou-te trazer um pouco de água. Relaxe um pouco, sim?

- Eu não quero e nem vou relaxar. Tudo isso parece estar relacionado. Digam-me já o que aconteceu... Quero saber agora!

- Ok, mas agora, sente-se, por favor. Beba a água. Eu vou explicar... Ou, pelo menos, vou tentar esclarecer-te esta história, de uma vez por todas.

***



sábado, 5 de janeiro de 2019

Obliviar (Parte 4: O Futuro)



Os olhos do homem de pele muito pálida estavam tristemente fixos nos dois jovens amigos. Ele sabia o que eles queriam e sabia o que fazer, mas não tinha certeza se devia… ou queria… já que estava tão perto de…

***

- Feche os olhos e relaxe. Vai ser uma viagem difícil. Tente ficar calmo.

Ele seguiu as instruções, como lhe fora dito. Nem tinha como não fazê-lo. A viagem começou logo. Ele sentiu um calor no rosto. Parecia que havia uma luz muito forte à sua frente. Ele tentou abrir os olhos, mas foi como se olhasse directamente para o sol. Era impossível mantê-los abertos, sem o risco de magoar-se. Ele tornou a fechá-los bem, até que sentiu o calor arrefecer um pouco. Acreditando ser mais seguro, ele, então, abriu os olhos, com muito cuidado.

Foi então que ele o avistou. Era menor que imaginara e movia-se mais rápido que ele esperava. Oumuamua, ou algo muito similar, viajava no espaço à sua frente. Ele olhou à volta. Estava sozinho, no meio da escuridão do espaço, sentindo-se como quando caiu na fenda, alguns dias antes.

- Mas que diabos! Acho que estou delirando!

Seu corpo vibrava como se todas as moléculas quisessem manter-se unidas, mas precisavam de um esforço enorme para tanto. Ele sentiu uma dor dilacerante, quase insuportável. Depois, pareceu-lhe que todo aquele desespero cessou e ele viu-se de volta na densa escuridão. Como se estivesse sendo sugado, em alta velocidade, por dentro do tubo de um enorme aspirador, seu corpo foi jogado na direcção de uma luz muito branca, mas, daquela vez, perceptivelmente fria. Ele, então, caiu dentro de uma cápsula de vidro, no meio de uma sala toda branca e sem mobília. O choque foi inesperado. Agachado, pelo impacto da queda, ele tentava perceber onde estava.

Ele ouviu o som perturbador de uma sirene, tocando insistentemente, como se estivesse em aflição. Olhou à sua volta e viu um grupo de pessoas de aparência estranha, embora um tanto familiar. Havia, também, uma mulher cujos olhos eram tão verdes, que sobressaíam no meio deles, como um farol na escuridão da noite.

Ele reconheceu um homem de pele muito pálida e sorriu. Estava no futuro.

***

- Como é que tu sabias que o terminal ainda estava ativo?

O homem pálido olhou para o jovem e conjeturou se deveria dizer a verdade ou simplesmente evitar a pergunta e mudar de assunto. Decidiu que já era hora de dizer a verdade.

- Eu o consertei sozinho. Planeava ir de volta ao futuro, mas desconfiava que o terminal não fosse resistir a mais que uma viagem, se tanto, pelo estrago que havia sofrido. Foi sorte… Para falar a verdade, ainda não sei, ao certo, se conseguimos nosso intento.

- Não? Como não?

- As avarias eram quase irreparáveis. Mas como havia uma hipótese, eu tinha que tentar, de todas as formas. Da minha parte, não ia ser grande perda, se algo desse errado com a minha viagem. Eu não tinha nada a perder.

- Então por que não foste antes, sozinho? Ninguém ia saber…

- Eu não estava totalmente preparado e, então, vocês vieram e…

- Isso não é justo e é muito perigoso, de todas as formas.

- É o que é. Aquele jovem precisava de ajuda urgente e eu possuía os meios. Eu tinha que fazer alguma coisa para ajudar. Se tivermos sorte, ele voltará, com alguma resposta.

- E uma missão…

O homem de pele pálida tentou sorrir, mas não conseguiu. Ele não se sentia nada confortável. Estava preocupado. A tristeza em seus olhos era tão palpável, que parecia sólida.

- Esperemos que sim.

- Quanto tempo temos que esperar?

- Se tudo correr como planeado, cerca de uma hora, somente… mas sabes que o tempo é somente um conceito, neste tipo de situações. Existem muitas condicionantes…

O jovem olhou para ele. Ele estava, obviamente, muito preocupado. E se alguma coisa desse errado? Aquilo era uma loucura, mas como ele poderia controlar um amigo necessitado e com tanta teimosia e resistência?

- Eu sei o que estás a pensar. Estou tão preocupado quanto tu. Se a viagem não foi bem-sucedida, nós teremos perdido muito mais que uma hora do nosso precioso tempo, simplesmente… e, agora, não podemos fazer nada, além de esperar.

- Pois! Eu nunca deveria ter concordado com esta loucura!

- Agora é muito tarde! Como sempre, vamos ter que esperar e ver o que acontece.

***

- Como é que conseguiste viajar até aqui, através do tempo e do espaço? Quem te ajudou?

O Supremo estava totalmente fora de si, apesar de ser um homem calmo e razoável, na maioria das vezes. Ele já havia passado por situações semelhantes, em que viajantes do tempo haviam entrado, inadvertidamente, naquele terminal, mas, daquela vez, sentia que algo estava muito errado.

O estrangeiro continuava a olhar para a mulher, que estava, também, curiosa sobre a intenção daquela interferência em suas rotinas, por um homem jovem, vindo de um passado distante em seu planeta de origem.

O Supremo ficou mais impaciente e disse à mulher:

- Dê um jeito nisso! E mande-o de volta para quando e onde ele veio!

A mulher estava surpresa com aquele acesso de impaciência, diante de uma situação que já havia acontecido tantas vezes antes. Ela sabia, todavia, que ele não gostava dos visitantes que vinham do passado. Seu próprio irmão havia sido um péssimo exemplo a lembrar e, com certeza, era aquela a razão pela qual o Supremo lhe havia dado aquela missão, antes que algo pior voltasse a acontecer.

Ela pousou seus olhos verdes sobre o rapaz e pediu que ele a seguisse até o laboratório na Estação Estelar, onde o doutor poderia ajudá-los com a situação.

Até aquele momento o rapaz não havia dito nada. Quando estavam os dois sozinhos, ele olhou para a mulher, que percebeu, logo, que ele ia dizer uma coisa muito importante. Seu coração acelerou. Ele percebeu que não deviam ser boas notícias.

- Eu tenho uma mensagem do passado e do futuro.

- Tu não estás fazendo muito sentido.

- Eu sei, mas vais entender quando eu explicar.

- Então fale, rapaz!

- Leona…

Seus olhos arregalaram-se. Como ele poderia saber seu nome? O coração da mulher acelerou outra vez. Ela precisava se acalmar e não estava disposta a tal, até que a situação fosse completamente exposta.

- Eu não vim por uma razão somente. Mas precisarei da tua compreensão e da tua ajuda.

- Como é que sabes meu nome?

- Eu sei mais que o teu nome. Há coisas que precisas saber, para poder agir, antes que seja tarde demais. Mas eu vim por razões pessoais também. Eu preciso da tua ajuda, para voltar ao meu passado… uns anos antes da época da qual eu vim agora.

- Como é que eu posso confiar em ti e ajudar? Estas coisas não são fáceis. Os terminais são vigiados por câmaras projetadas para escrutinar quaisquer movimentos.

- Eu sei que há um velho terminal na Estação Estelar. O Décimo-Terceiro me disse.

- Quem?

- John, o Décimo-Terceiro…

- Como assim? Onde é que ele está?

- Ele está no passado… e não pode vir ao futuro.

- E como é que tu pudeste?

- Através do terminal que ele ia usar. Não foi totalmente destruído, quando vocês foram transportados na última vez, mas agora deve estar… Tu estás em grande perigo, Leona. Tens que acreditar em mim.

- Espera. Pode parar! Do que é que falas? John, o Décimo-Terceiro, ou seja que nome vocês o chamem, está muito doente. Nós estamos a trabalhar numa vacina e os resultados não são nada promissores. Ele não pode ter sobrevivido…

- Leona, eu preciso que falar com o teu pai. As vacinas estão sendo sabotadas.

- Sabotadas? Por quem? Quem seria tão estúpido?

- Não é estupidez, Leona. Ele é um homem muito inteligente, que tem um propósito maléfico e muita sede de poder. Nós temos que fazer algo… urgente, antes que seja tarde demais. O Supremo tornou-se um homem com uma mente muito pervertida. Ele é mau. Ele vai destruir este planeta, em questão de dias.

- De jeito nenhum. Tu estás delirando. Ele nunca… Ele tem todo o poder que precisa. Além do mais, ele é o maior interessado em seguir os resultados das pesquisas e testes com a vacina.

- Acredita em mim, por favor. Nós estamos perdendo tempo. Como é que tu sabes que eu sei estas coisas todas? Eu tenho que falar com o teu pai. Por favor. Eu posso ajudar.

- Leona!

A mulher virou-se. Dois homens, bem mais velhos que eles, vinham, apressados, pelo corredor. Eles, simplesmente, ignoraram o estrangeiro, como se ali não estivesse. 

- Tens que vir e ver isso. A vacina não está a funcionar. O efeito é muito destrutivo, agora.

- Pai!

- Eu posso ajudar!

- E quem és tu?

- Um visitante do passado, que veio tentar salvar o futuro.

- Do que é que ele está a falar?

Ela tentou explicar, mas antes que começasse, um grito, vindo do laboratório, no outro lado do corredor, fê-los parar a conversa e começar a correr.

- Ele está morrendo!

***