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sábado, 22 de agosto de 2020

Viajante do Tempo. Epílogo. Os Caches. O Portal


- Pelo amor de Deus, homem, quantos de vocês andam por aí, afinal? Vocês são todos assim, tão parecidos em aparência?

 

- Somos um grupo de clones criados a partir do mesmo ADN original. É por isso que nos parecemos tanto. Éramos treze... A princípio...

 

- Oh, meu Senhor amado!

 

Os três amigos se entreolharam. Era a história a replicar-se... no futuro? Ou era apenas um jogo que se repetia, continuamente?

 

- O que são esses falsos 'geocaches', afinal? Certamente são partes que encaixam, umas nas outras, pelo que pudemos deduzir.

 

A mudança repentina de assunto foi mais do que bem-vinda.

 

- Sim, são. Duas partes de um único portal foram instaladas separadamente, de propósito. Não deveriam ser usados por ninguém, além do mensageiro... Eu, neste caso... Foram deixadas aqui com uma finalidade específica: a missão, para a qual eu fui enviado, como vocês já devem ter percebido.

 

Os três amigos não ficaram nada surpresos. Aquela conversa desenvolvia-se como uma série interessante de mistérios não resolvidos, que estavam prestes a ser explicados.

 

***

 

- O passado, assim como o futuro, pertencem ao tempo em que eles acontecem, originalmente. Não devem ser tocados, nem alterados, de forma alguma. Essa é uma lei sagrada e deve ser respeitada, acima de tudo e de todas as outras regras existentes, caso contrário, um caos descontrolado é o resultado. Quando existe o risco de quebra deste norma, a única forma de interferir é usando um subterfúgio.

 

- Oblívio...

 

- Correto. E, então, o portal aberto para aquela oportunidade é fechado, e nunca mais aparecerá ou se abrirá novamente.

 

- Como assim?

 

- É completamente destruído, de uma vez por todas.

 

- Mas pode haver outros...

 

- Os portais de tempo não são abertos, aleatoriamente, a menos que haja uma razão muito específica... E só o Conselho e o Supremo podem autorizar a criação e abertura de um novo. Se não houver um motivo muito bom e convincente para viajar, não há autorização. Um ponto importante é que o viajante deve voltar sempre pelo mesmo meio, seguindo uma programação específica.

 

- E há uma razão, agora, suponho, para um portal ter sido aberto.

 

- Sim. Há uma razão... Uma boa razão...

 

A antecipação estava estampada nos rostos dos três homens. O viajante olhou diretamente para o homem de pele pálida.

 

- Há uma razão muito boa, de facto!

 

***

 

- Eu fui mandado aqui, pelos cientistas, para te procurar e te levar de volta ao futuro, que é onde deverias estar. Não foi tão fácil te encontrar, como pensei que seria, quando cheguei... Deixei algumas pistas, mas que nunca foram usadas. Parece, porém, que alguém mais pode tê-las encontrado e começado a procurar as peças, que foram, prudentemente, separadas umas das outras.

 

- Eu li um ‘post’ que, supostamente, havia um ‘geocache’ falso no farol…

 

- E eu li aquele sobre o moinho.

 

- Alguém deve ter lido sobre eles, também, e quis verificar do que se tratavam.

 

- Não acho que tenha sido uma busca inocente. Essa gente sabe o que procura.

 

- Então? O que é que eles procuram?

 

- Vamos sair daqui. Vou explicar tudo no caminho.

 

***

- Quando tu foste mandado de volta ao passado, havia... quer dizer, haverá... Uff! Já nem sei como falar… Tanto faz... Houve um boato sobre a tua presença lá. Alguns dizem que salvaste o futuro da humanidade, outros dizem que levantaste uma suspeita séria sobre as intenções, que nosso Chefe Supremo tinha, sobre o próprio planeta.

 

- Talvez as duas coisas...

 

O homem de pele clara falou com um tom de voz muito grave.

 

- E o que dizem sobre a vacina?

 

- A vacina funciona bem. Está tudo sob controlo.

 

- Bem, parece que a viagem valeu a pena, afinal.

 

- Parece que sim.

 

O jovem de óculos olhou para os outros três homens, quando percebeu que estes trocaram um rápido e estranho olhar, entre eles. Não pareciam estar muito confortáveis ​​com o assunto.

 

- O que é que foi isso?

 

- Como assim? O que foi o quê?

 

- Vocês três estão escondendo alguma coisa de mim, não é? O que aconteceu?

 

O estranho olhou para os amigos, como se esperasse uma pista sobre o que dizer.

 

- Ele sabe do uso do ‘Oblívio’ e que, obviamente, foi um ingrediente adicionado na cápsula, antes de ser mandado de volta ao vosso passado, ou seja, ao nosso presente.

 

- Então, vejo que  é mais do que hora de falarmos a verdade.

 

***

 

- Mas por quê?

 

- Eles sentiram que tu irias quebrar a regra universal mais sagrada.

 

- Eu fiz algo errado?

 

- Na verdade, não. Mas acabou dizendo à Leona que o Supremo explodiria o planeta.

 

- Oh. E isso faz algum sentido? Ele faria algo assim?

 

- Não é provável, eu acho. Ele não pode fazer isso, sem a aprovação de todo o Conselho.

 

O homem de pele clara e o outro jovem falaram, ao mesmo tempo:

 

- Mas ele vai!

 

- O quê?

 

- Ele vai, definitivamente, destruir o planeta.

 

- Quando? Por quê? Como ele faria isso e como vocês podem ter tanta certeza?

 

- Foi assim que vim parar aqui, neste tempo e espaço, numa cápsula que foi enviada de volta ao passado, no momento em que o planeta explodiu. Ele me mandou para cá... E eu não viajei sozinho...

 

***

 

- O que essa gente quer?

 

- Eles não são, definitivamente, boa gente. Além de terem muito dinheiro, são donos de uma das mais influentes Indústrias Farmacêuticas, que tem poder para controlar o presente e, provavelmente, o futuro da humanidade. Eles assassinaram o outro passageiro, sem nenhum escrúpulo. Se conseguirem acesso ao portal, eles terão ainda mais poder e podem mudar muitos acontecimentos no futuro e… no passado... ou a qualquer momento... Eles transformariam este mundo em um caos completo, já que se colocam acima de toda e qualquer lei.

 

- Precisamos agir imediatamente. Vamos. Acho que estaremos protegidos no meio da mata...

 

- Então, qual é o plano?

 

- Precisamos chegar às instalações antes que o Supremo consiga o que quer. Caso contrário, estaremos perdidos no meio do nada, assim como o planeta, que será completamente reduzido a cinzas e poeira cósmica.

 

- E se chegarmos tarde demais?

 

- Eles estão esperando por nós. Não será tarde demais... Talvez tarde, mas não tarde demais... Precisamos falar com Leona, ou com o pai dela... Ou com os dois...

 

- Primeiro, falamos com os cientistas… Leona usou o ‘Oblivion’ contra ele, lembram?

 

Ele apontou para o homem de óculos.

 

- Ela é muito fiel ao Supremo... Vai precisar ser convencida, primeiro, e temos pouco tempo para isso.

 

- E se vocês falharem?

 

- Então nosso destino está selado. Mas devemos tentar. É nossa única hipótese.

 

Os quatro homens entraram no bosque e encontraram uma pequena clareira, onde juntaram as duas partes do portal e, com uma chave trazida pelo viajante, uma porta curiosa se abriu, como por mágica. A grande diferença era que a magia era ciência pura, ainda não disponível na atualidade. Aquela tecnologia, em mãos erradas, seria um desastre para o mundo.

 

Os dois clones, semelhantes em aparência e propósito, se voltaram para os dois jovens e se prepararam para partir.

 

- Temos pouco tempo. É melhor irmos. Vocês vão ficar bem!

 

O som de um carro parando e de passos rápidos a se aproximar, colocaram todos em estado de alerta.

 

- Rápido. Vão!

 

Eles correram portal adentro, sem terem tempo de se despedirem adequadamente. O portal fechou, imediatamente, quando eles o cruzaram. Os dois jovens fugiram para a direção oposta, escondidos pelas árvores e pela mata, enquanto dois homens, vestidos de preto, chegavam à clareira, uma fração de segundo tarde demais.

 

- Essa não! Nós perdemos tempo! Estamos com um problema enorme, agora! O diretor nos vai matar.

 

- Vamos voltar! Temos que relatar o que aconteceu, imediatamente!

 

***

 

- Achas que eles chegaram a tempo de impedir o desastre?

 

- Acho é que nunca saberemos…

 

- Pois. Provavelmente não. Eu gostaria de pensar que eles conseguiram consertar as coisas, como previsto.

 

- Não era uma tarefa fácil... Mas valia a pena tentar...

 

- O que fazemos agora?

 

- Vamos voltar para casa... Não há mais nada que possamos fazer, a respeito daquilo... Eu li sobre um ‘geocache’ escondido no outro farol... Temos que parar lá e verificar.

 

O rapaz de óculos arregalou os olhos.

 

- Tu deves estar brincando comigo! Quero ficar longe dos ‘caches’... por um bom tempo... Vamos voltar para casa!

 

Os dois jovens entraram no jipe. A noite caía lentamente. A luz vermelha, no farol, piscou, cúmplice, quando eles passaram de carro, como se a convidá-los a voltar...

 

***