Os olhos do homem de pele muito pálida estavam
tristemente fixos nos dois jovens amigos. Ele sabia o que eles queriam e sabia
o que fazer, mas não tinha certeza se devia… ou queria… já que estava tão perto
de…
***
- Feche os olhos e
relaxe. Vai ser uma viagem difícil. Tente ficar calmo.
Ele seguiu as instruções, como lhe fora dito. Nem
tinha como não fazê-lo. A viagem começou logo. Ele sentiu um calor no rosto.
Parecia que havia uma luz muito forte à sua frente. Ele tentou abrir os olhos,
mas foi como se olhasse directamente para o sol. Era impossível mantê-los
abertos, sem o risco de magoar-se. Ele tornou a fechá-los bem, até que sentiu o
calor arrefecer um pouco. Acreditando ser mais seguro, ele, então, abriu os
olhos, com muito cuidado.
Foi então que ele o avistou. Era menor que
imaginara e movia-se mais rápido que ele esperava. Oumuamua, ou algo muito similar, viajava no espaço à sua frente.
Ele olhou à volta. Estava sozinho, no meio da escuridão do espaço, sentindo-se
como quando caiu na fenda, alguns dias antes.
- Mas que diabos! Acho
que estou delirando!
Seu corpo vibrava como se todas as moléculas
quisessem manter-se unidas, mas precisavam de um esforço enorme para tanto. Ele
sentiu uma dor dilacerante, quase insuportável. Depois, pareceu-lhe que todo aquele
desespero cessou e ele viu-se de volta na densa escuridão. Como se estivesse
sendo sugado, em alta velocidade, por dentro do tubo de um enorme aspirador,
seu corpo foi jogado na direcção de uma luz muito branca, mas, daquela vez,
perceptivelmente fria. Ele, então, caiu dentro de uma cápsula de vidro, no meio
de uma sala toda branca e sem mobília. O choque foi inesperado. Agachado, pelo
impacto da queda, ele tentava perceber onde estava.
Ele ouviu o som perturbador de uma sirene, tocando
insistentemente, como se estivesse em aflição. Olhou à sua volta e viu um grupo
de pessoas de aparência estranha, embora um tanto familiar. Havia, também, uma
mulher cujos olhos eram tão verdes, que sobressaíam no meio deles, como um
farol na escuridão da noite.
Ele reconheceu um homem de pele muito pálida e
sorriu. Estava no futuro.
***
- Como é que tu sabias
que o terminal ainda estava ativo?
O homem pálido olhou para o jovem e conjeturou se
deveria dizer a verdade ou simplesmente evitar a pergunta e mudar de assunto.
Decidiu que já era hora de dizer a verdade.
- Eu o consertei
sozinho. Planeava ir de volta ao futuro, mas desconfiava que o terminal não fosse
resistir a mais que uma viagem, se tanto, pelo estrago que havia sofrido. Foi
sorte… Para falar a verdade, ainda não sei, ao certo, se conseguimos nosso
intento.
- Não? Como não?
- As avarias eram quase
irreparáveis. Mas como havia uma hipótese, eu tinha que tentar, de todas as
formas. Da minha parte, não ia ser grande perda, se algo desse errado com a minha
viagem. Eu não tinha nada a perder.
- Então por que não
foste antes, sozinho? Ninguém ia saber…
- Eu não estava
totalmente preparado e, então, vocês vieram e…
- Isso não é justo e é
muito perigoso, de todas as formas.
- É o que é. Aquele
jovem precisava de ajuda urgente e eu possuía os meios. Eu tinha que fazer
alguma coisa para ajudar. Se tivermos sorte, ele voltará, com alguma resposta.
- E uma missão…
O homem de pele pálida tentou sorrir, mas não
conseguiu. Ele não se sentia nada confortável. Estava preocupado. A tristeza em
seus olhos era tão palpável, que parecia sólida.
- Esperemos que sim.
- Quanto tempo temos que
esperar?
- Se tudo correr como planeado,
cerca de uma hora, somente… mas sabes que o tempo é somente um conceito, neste
tipo de situações. Existem muitas condicionantes…
O jovem olhou para ele. Ele estava, obviamente,
muito preocupado. E se alguma coisa desse errado? Aquilo era uma loucura, mas
como ele poderia controlar um amigo necessitado e com tanta teimosia e
resistência?
- Eu sei o que estás a
pensar. Estou tão preocupado quanto tu. Se a viagem não foi bem-sucedida, nós
teremos perdido muito mais que uma hora do nosso precioso tempo, simplesmente…
e, agora, não podemos fazer nada, além de esperar.
- Pois! Eu nunca deveria
ter concordado com esta loucura!
- Agora é muito tarde!
Como sempre, vamos ter que esperar e ver o que acontece.
***
- Como é que conseguiste
viajar até aqui, através do tempo e do espaço? Quem te ajudou?
O Supremo estava totalmente fora de si, apesar de
ser um homem calmo e razoável, na maioria das vezes. Ele já havia passado por
situações semelhantes, em que viajantes do tempo haviam entrado,
inadvertidamente, naquele terminal, mas, daquela vez, sentia que algo estava
muito errado.
O estrangeiro continuava a olhar para a mulher, que
estava, também, curiosa sobre a intenção daquela interferência em suas rotinas,
por um homem jovem, vindo de um passado distante em seu planeta de origem.
O Supremo ficou mais impaciente e disse à mulher:
- Dê um jeito nisso! E
mande-o de volta para quando e onde ele veio!
A mulher estava surpresa com aquele acesso de
impaciência, diante de uma situação que já havia acontecido tantas vezes antes.
Ela sabia, todavia, que ele não gostava dos visitantes que vinham do passado.
Seu próprio irmão havia sido um péssimo exemplo a lembrar e, com certeza, era
aquela a razão pela qual o Supremo lhe havia dado aquela missão, antes que algo
pior voltasse a acontecer.
Ela pousou seus olhos verdes sobre o rapaz e pediu
que ele a seguisse até o laboratório na Estação Estelar, onde o doutor poderia
ajudá-los com a situação.
Até aquele momento o rapaz não havia dito nada.
Quando estavam os dois sozinhos, ele olhou para a mulher, que percebeu, logo,
que ele ia dizer uma coisa muito importante. Seu coração acelerou. Ele percebeu
que não deviam ser boas notícias.
- Eu tenho uma mensagem
do passado e do futuro.
- Tu não estás fazendo
muito sentido.
- Eu sei, mas vais
entender quando eu explicar.
- Então fale, rapaz!
- Leona…
Seus olhos arregalaram-se. Como ele poderia saber
seu nome? O coração da mulher acelerou outra vez. Ela precisava se acalmar e
não estava disposta a tal, até que a situação fosse completamente exposta.
- Eu não vim por uma
razão somente. Mas precisarei da tua compreensão e da tua ajuda.
- Como é que sabes meu
nome?
- Eu sei mais que o teu
nome. Há coisas que precisas saber, para poder agir, antes que seja tarde
demais. Mas eu vim por razões pessoais também. Eu preciso da tua ajuda, para
voltar ao meu passado… uns anos antes da época da qual eu vim agora.
- Como é que eu posso
confiar em ti e ajudar? Estas coisas não são fáceis. Os terminais são vigiados
por câmaras projetadas para escrutinar quaisquer movimentos.
- Eu sei que há um velho
terminal na Estação Estelar. O Décimo-Terceiro me disse.
- Quem?
- John, o
Décimo-Terceiro…
- Como assim? Onde é que
ele está?
- Ele está no passado… e
não pode vir ao futuro.
- E como é que tu
pudeste?
- Através do terminal
que ele ia usar. Não foi totalmente destruído, quando vocês foram transportados
na última vez, mas agora deve estar… Tu estás em grande perigo, Leona. Tens que
acreditar em mim.
- Espera. Pode parar! Do
que é que falas? John, o Décimo-Terceiro, ou seja que nome vocês o chamem, está
muito doente. Nós estamos a trabalhar numa vacina e os resultados não são nada
promissores. Ele não pode ter sobrevivido…
- Leona, eu preciso que
falar com o teu pai. As vacinas estão sendo sabotadas.
- Sabotadas? Por quem?
Quem seria tão estúpido?
- Não é estupidez,
Leona. Ele é um homem muito inteligente, que tem um propósito maléfico e muita
sede de poder. Nós temos que fazer algo… urgente, antes que seja tarde demais.
O Supremo tornou-se um homem com uma mente muito pervertida. Ele é mau. Ele vai
destruir este planeta, em questão de dias.
- De jeito nenhum. Tu
estás delirando. Ele nunca… Ele tem todo o poder que precisa. Além do mais, ele
é o maior interessado em seguir os resultados das pesquisas e testes com a
vacina.
- Acredita em mim, por
favor. Nós estamos perdendo tempo. Como é que tu sabes que eu sei estas coisas
todas? Eu tenho que falar com o teu pai. Por favor. Eu posso ajudar.
- Leona!
A mulher virou-se. Dois homens, bem mais velhos que
eles, vinham, apressados, pelo corredor. Eles, simplesmente, ignoraram o
estrangeiro, como se ali não estivesse.
- Tens que vir e ver
isso. A vacina não está a funcionar. O efeito é muito destrutivo, agora.
- Pai!
- Eu posso ajudar!
- E quem és tu?
- Um visitante do
passado, que veio tentar salvar o futuro.
- Do que é que ele está
a falar?
Ela tentou explicar, mas antes que começasse, um
grito, vindo do laboratório, no outro lado do corredor, fê-los parar a conversa
e começar a correr.
- Ele está morrendo!
***
O passado e futuro se encontram: algo pode mudar?
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