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sábado, 9 de janeiro de 2021

Occasionally



- What are you doing out here, so early?

- Thinking…

- About what?

- Things… in general… life… us… the future…

The sun had just slit the horizon with its razor of light, slowly colouring the sky with the first rays in shades of yellow and vermillion.  I felt like my soul was in a peaceful mood.

He sat down by my side on the soft white sand. The sound of the waves, my favourite soundtrack, helped me think, making my mind wander freely…

His arm touched mine, occasionally. His leg touched mine, occasionally. He did not say another word, for some time. He knew me. He just waited, patiently, respecting my time and my timing. I was not in hurry. Why would I be? I was in love and I was being loved by the sweetest man alive… and he was sitting right there, so close to me, at my side.

I was often emotional. He felt it, automatically and pressed my arm, without saying a word. He knew me so well, indeed.

That tender gesture triggered my reactions harder and deeper. I felt warm tears running down my face. He pulled me closer to him and embraced me, bringing my head to rest on his chest.

- I love you so very much…

I held his hand in mine and kissed it gently. 

He smelled my hair and closed his eyes, as if trying to hold that moment in his memory.

- Your scent is so remarkable…

I hummed an almost inaudible:

- You’re too sweet, my love

- I’ve been thinking…

- So have I.

He took a deep breath and held me tighter.

- Oh, my love…

I knew exactly what he intended to say. He did not need to speak it all out loud…

It was the same I wanted...

***



domingo, 24 de março de 2019

Uma Noite a Mais (Parte 3)


Κι αν ρωτήσεις πώς περνάω  … (E se me perguntares como estou
θα σου πω δυο ψέματα                Eu vou-te dizer duas mentiras
ένα πως δε σ' αγαπάω                 Uma: que eu não te amo
κι ένα πως σε ξέχασα (**)          E a outra: que eu já te esqueci) …

(**) Dyo Psemata (δυο ψέματα): Antonis Remos

- Ainda lembras?

- Claro que sim. Algumas coisas não podem ser, simplesmente, apagadas da memória.

- Pois não.

- A canção estava tão certa…

- Contra o que havia desejado. Eu sinto muito.

- Por quê?

Ele me olhou, como se fosse fazer a maior revelação da sua vida, mas não emitiu nenhum som. A oportunidade era aquela e, se fosse perdida, não haveria outra. Ele baixou os olhos.

Eu balancei a cabeça, num gesto de desânimo e frustração, levantei-me, atravessei a varanda e fui para a praia. Estava bastante desiludido.

De frente para o mar, eu me sentia pequeno demais e aquela imensidão era intimidante. O conflito interno era tão ou mais assustador que tudo à minha volta, todavia. Eu nem sabia se sentia ódio, ou vontade de matar a saudade com um longo abraço apertado, mas diante daquela falta de ação, eu decidi que não tinha que alimentar falsas expectativas. Talvez aquela história já tivesse ido longe demais e acabado, afinal, apesar de minhas malnutridas esperanças.

Fechei os olhos e respirei fundo. Aquele ar salino me fazia tão bem. Eu quase ia ao passado buscar boas memórias, para alimentar minha alma dorida.

Num lampejo de consciência, reconheci que só o fato de estar ali, vivo, já era suficientemente bom, apesar de todas as circunstâncias. Minha filha era meu maior bem; um bem maior que minha própria vida. Não era justo sentir menos que gratidão pelo que eu havia feito e plantado e pelos frutos que havia colhido.

Dei um longo suspiro e voltei-me. Tinha que cuidar da minha vida…

***

A noite estava agradável. A porta que dava para a varanda estava aberta e uma suave brisa soprava pela casa. Eu sentei-me ao piano e comecei a cantarolar a mesma canção, que tanto mexia comigo. Desta vez, eu estava redimido. Aquela tristeza na alma era uma velha companheira, mas já não tinha o poder de outrora.

Ela sentou-se ao meu lado e acompanhou-me nos vocais.

…” They say that love can move a mountain
      They say love can break your heart 
      They say love can make you forget 
      Things that happened in the past
      For I've tasted your love and
      I need to taste some more 
      So wave goodbye to heaven for me
      I've thrown it all away 
      Just to spend one more night with you”
…  (*)

      (*) One more night with you: Ged McMahon

- Continuo a achar que é um bocado triste.

- E é. Mas eu não quero reclamar. Não é justo.

Ela deitou a cabeça no meu ombro, enquanto eu continuei a dedilhar as teclas, tão de leve, que parecia acariciá-las, respeitosamente. Senti uma angústia subir até minha garganta e não consegui mais falar… ou cantar… nem pude refrear as lágrimas, que caíram livres pelo meu rosto, enquanto meu corpo estremecia por inteiro, como se estivesse em convulsões.

Ela me abraçou e, com a cabeça enterrada no meu peito, chorou junto comigo, ali, no meio da sala de estar.

***

O sol da tarde estava mesmo agradável, naquele dia de início de primavera. Não ventava, mas uma leve brisa vinha do mar, trazendo aquele ar salino e iodado para mais perto de onde eu estava. Estiquei as pernas e fechei os olhos, pensando que devia estar sentindo falta de fazer minha fotossíntese. A bebé dormia na cadeirinha ao meu lado, devidamente protegida do vento e do sol.

Uma nuvem deve ter passado na frente do sol, pois senti que já não estava tão claro. Abri os olhos e vi que aquilo que pensava ser uma nuvem, nada mais era que a silhueta de um homem, que havia-se posicionado entre o sol e eu.

- Desculpe.  

- O quê?

- Não quis importunar, mas o bebé acordou e estava a mexer-se, por isso achei que devia verificar. Pensei que havia adormecido… Quer que eu traga alguma coisa?

A menina estava apenas a olhar-me com seus olhos esverdeados, mas não chorava. Eu devia ter, realmente, adormecido, pois, normalmente, ouvia quando ela acordava. Devia estar mesmo cansado… Ou relaxara tão profundamente…

- Ah. Não. Obrigado.

Eu levantei-me e procurei a mamadeira com água, dentro da bolsa. A bolsa havia ficado ao sol e a água estava meio morna.

- Acho que vou precisar de uma garrafinha de água fresca, por favor. Esta já passou da temperatura aceitável.

- Vou pedir para trazerem. Quer um café também?

 - Bem pensado. Acho que preciso de um, na verdade.

Às vezes eu me perguntava por qual razão ele era gentil comigo, até um pouco além do esperado por um cliente normal. Era agradável, mas eu não era muito habituado a aquele tipo de coisas.

A moça trouxe a água e duas chávenas de café, que pousou sobre a mesa. Eu olhei com aquele ar inquisidor, mas logo percebi. O gerente veio e sentou-se comigo, sem muita cerimónia e disse:

- Espero que não se importe que eu sente aqui, por um momento.

- Claro que não. Fique à vontade. 

- Eu adoro esta hora do dia. Não só pela tranquilidade, mas pela luz e pelas cores. É como se o mundo desse uma trégua e parasse de girar por uns momentos, para que a gente pudesse, simplesmente, apreciar um bom café.

Eu olhei para ele, admirado, não só pela leveza e poesia do que ele dissera, mas pela forma com que se expressara, tão fluentemente e à vontade.

Ele riu.

- O que foi? Disse alguma asneira?

- Não. Ao contrário. Foi muito bem colocado.

- Então?

- Não esperava. Só isso.

Ele fingiu que não se sentiu satisfeito por haver-me surpreendido e tomou seu café, calmamente, a olhar o mar, que parecia espreguiçar-se sobre a fina areia branca. Eu fingi que estava somente a cuidar da menina, mas observei um leve sorriso, na sua face tranquila.

- Posso fazer uma pergunta?

Ele riu.

- Pode. Mas não prometo responder.

Ele usava minha fala. Que esperto!

- Por que me trata assim?

- Assim como?

- Com esta gentileza e com um tanto de familiaridade, sem ser, necessariamente, íntimo. Eu sou apenas um cliente.

- Talvez não. Eu sou um homem habituado a viver sozinho e reconheço quando vejo uma pessoa com as mesmas características. Está sempre aqui sozinho, com a menina, mas nunca entre amigos. Não se sente só?

- Nunca. Acho que sempre fui assim, introvertido e ocupado com minhas coisas, ao invés de pessoas.

- Eu compreendo. Não sente falta de ter alguém?

Fugi à questão.

- Eu tenho alguém. E ela é adorável.

Ele riu, fazendo um muxoxo. Percebeu que eu fugia à conversa.

- Pois eu sinto. Embora nunca tenha sido homem de longos relacionamentos, sinto falta de alguém.

- Curioso. Nunca falamos sobre isto.

- Eu sei. É uma demonstração de confiança, não é?

- Acho que sim. Mas por que não?

- Acho que eu demoro para acreditar nas pessoas. Passei por algumas situações, que me fizeram perder a confiança…

A frase ficou assim, meio no ar, meio incompleta, meio a deixar azo para que se imaginasse tantas situações…

- Acho que eu também. Somos parecidos nisso.

- Vejo que sim. Que dois!

Ele levantou a chávena de café e disse, com um sorriso e um piscar de olhos:

- Aos solitários!

- Aos solitários!

Tive a impressão que só naquele momento percebi que havia música vinda dos dois pequenos altifalantes, alocados na parte de cima da varanda. Era uma canção conhecida minha. Eu cantarolei o pedacinho do refrão.

Κι αν ρωτήσεις πώς περνάω      (Ki an ro̱tí̱seis pó̱s pernáo̱) (E se me perguntares como estou
θα σου πω δυο ψέματα               (ha sou po̱ dyo psémata)      Eu vou-te dizer duas mentiras  
ένα πως δε σ' αγαπάω                (éna po̱s de s ' agapáo̱)          Uma: que eu não te amo
κι ένα πως σε ξέχασα (*)           (ki éna po̱s se xéchasa)          E a outra: que eu já te esqueci) 

(**) Dyo Psemata (δυο ψέματα): Antonis Remos

- Conheces esta canção?
    
- Claro. Mas não esperava ouvi-la aqui. É uma antiga canção grega…
  
- Sabes o significado, não sabes?

- Por acaso, sei. É um tanto triste, não é?

Ele me olhou, sério. Fui pego de surpresa com a afirmação que fez, a seguir.

- É. Mas uma coisa destas não gostaria, jamais, que acontecesse connosco…

***