- Pelo amor de Deus, homem, quantos de vocês andam por aí,
afinal? Vocês são todos assim, tão parecidos em aparência?
- Somos um grupo de clones criados a partir do mesmo ADN
original. É por isso que nos parecemos tanto. Éramos treze... A princípio...
- Oh, meu Senhor amado!
Os três amigos se
entreolharam. Era a história a replicar-se... no futuro? Ou era apenas um jogo
que se repetia, continuamente?
- O que são esses falsos 'geocaches', afinal? Certamente
são partes que encaixam, umas nas outras, pelo que pudemos deduzir.
A mudança repentina de
assunto foi mais do que bem-vinda.
- Sim, são. Duas partes de um único portal foram instaladas
separadamente, de propósito. Não deveriam ser usados por ninguém, além do
mensageiro... Eu, neste caso... Foram deixadas aqui com uma finalidade
específica: a missão, para a qual eu fui enviado, como vocês já devem ter percebido.
Os três amigos não
ficaram nada surpresos. Aquela conversa desenvolvia-se como uma série
interessante de mistérios não resolvidos, que estavam prestes a ser explicados.
***
- O passado, assim como o futuro, pertencem ao tempo em
que eles acontecem, originalmente. Não devem ser tocados, nem alterados, de
forma alguma. Essa é uma lei sagrada e deve ser respeitada, acima de tudo e de todas
as outras regras existentes, caso contrário, um caos descontrolado é o
resultado. Quando existe o risco de quebra deste norma, a única forma de
interferir é usando um subterfúgio.
- Oblívio...
- Correto. E, então, o portal aberto para aquela
oportunidade é fechado, e nunca mais aparecerá ou se abrirá novamente.
- Como assim?
- É completamente destruído, de uma vez por todas.
- Mas pode haver outros...
- Os portais de tempo não são abertos, aleatoriamente, a
menos que haja uma razão muito específica... E só o Conselho e o Supremo podem
autorizar a criação e abertura de um novo. Se não houver um motivo muito bom e
convincente para viajar, não há autorização. Um ponto importante é que o
viajante deve voltar sempre pelo mesmo meio, seguindo uma programação específica.
- E há uma razão, agora, suponho, para um portal ter sido
aberto.
- Sim. Há uma razão... Uma boa razão...
A antecipação estava
estampada nos rostos dos três homens. O viajante olhou diretamente para o homem
de pele pálida.
- Há uma razão muito boa, de facto!
***
- Eu fui mandado aqui, pelos cientistas, para te procurar
e te levar de volta ao futuro, que é onde deverias estar. Não foi tão fácil te
encontrar, como pensei que seria, quando cheguei... Deixei algumas pistas, mas que
nunca foram usadas. Parece, porém, que alguém mais pode tê-las encontrado e
começado a procurar as peças, que foram, prudentemente, separadas umas das
outras.
- Eu li um ‘post’ que, supostamente, havia um ‘geocache’
falso no farol…
- E eu li aquele sobre o moinho.
- Alguém deve ter lido sobre eles, também, e quis
verificar do que se tratavam.
- Não acho que tenha sido uma busca inocente. Essa gente
sabe o que procura.
- Então? O que é que eles procuram?
- Vamos sair daqui. Vou explicar tudo no caminho.
***
- Quando tu foste mandado de volta ao passado, havia... quer
dizer, haverá... Uff! Já nem sei como falar… Tanto faz... Houve um boato sobre
a tua presença lá. Alguns dizem que salvaste o futuro da humanidade, outros
dizem que levantaste uma suspeita séria sobre as intenções, que nosso Chefe
Supremo tinha, sobre o próprio planeta.
- Talvez as duas coisas...
O homem de pele clara
falou com um tom de voz muito grave.
- E o que dizem sobre a vacina?
- A vacina funciona bem. Está tudo sob controlo.
- Bem, parece que a viagem valeu a pena, afinal.
- Parece que sim.
O jovem de óculos
olhou para os outros três homens, quando percebeu que estes trocaram um rápido
e estranho olhar, entre eles. Não pareciam estar muito confortáveis com o assunto.
- O que é que foi isso?
- Como assim? O que foi o quê?
- Vocês três estão escondendo alguma coisa de mim, não é?
O que aconteceu?
O estranho olhou para
os amigos, como se esperasse uma pista sobre o que dizer.
- Ele sabe do uso do ‘Oblívio’ e que, obviamente, foi um
ingrediente adicionado na cápsula, antes de ser mandado de volta ao vosso
passado, ou seja, ao nosso presente.
- Então, vejo que é mais do que hora de falarmos a verdade.
***
- Mas por quê?
- Eles sentiram que tu irias quebrar a regra universal
mais sagrada.
- Eu fiz algo errado?
- Na verdade, não. Mas acabou dizendo à Leona que o
Supremo explodiria o planeta.
- Oh. E isso faz algum sentido? Ele faria algo assim?
- Não é provável, eu acho. Ele não pode fazer isso, sem a
aprovação de todo o Conselho.
O homem de pele clara
e o outro jovem falaram, ao mesmo tempo:
- Mas ele vai!
- O quê?
- Ele vai, definitivamente, destruir o planeta.
- Quando? Por quê? Como ele faria isso e como vocês podem
ter tanta certeza?
- Foi assim que vim parar aqui, neste tempo e espaço,
numa cápsula que foi enviada de volta ao passado, no momento em que o planeta
explodiu. Ele me mandou para cá... E eu não viajei sozinho...
***
- O que essa gente quer?
- Eles não são, definitivamente, boa gente. Além de terem
muito dinheiro, são donos de uma das mais influentes Indústrias Farmacêuticas,
que tem poder para controlar o presente e, provavelmente, o futuro da
humanidade. Eles assassinaram o outro passageiro, sem nenhum escrúpulo. Se
conseguirem acesso ao portal, eles terão ainda mais poder e podem mudar muitos
acontecimentos no futuro e… no passado... ou a qualquer momento... Eles
transformariam este mundo em um caos completo, já que se colocam acima de toda
e qualquer lei.
- Precisamos agir imediatamente. Vamos. Acho que estaremos
protegidos no meio da mata...
- Então, qual é o plano?
- Precisamos chegar às instalações antes que o Supremo
consiga o que quer. Caso contrário, estaremos perdidos no meio do nada, assim
como o planeta, que será completamente reduzido a cinzas e poeira cósmica.
- E se chegarmos tarde demais?
- Eles estão esperando por nós. Não será tarde demais...
Talvez tarde, mas não tarde demais... Precisamos falar com Leona, ou com o pai
dela... Ou com os dois...
- Primeiro, falamos com os cientistas… Leona usou o ‘Oblivion’
contra ele, lembram?
Ele apontou para o
homem de óculos.
- Ela é muito fiel ao Supremo... Vai precisar ser
convencida, primeiro, e temos pouco tempo para isso.
- E se vocês falharem?
- Então nosso destino está selado. Mas devemos tentar. É
nossa única hipótese.
Os quatro homens
entraram no bosque e encontraram uma pequena clareira, onde juntaram as duas
partes do portal e, com uma chave trazida pelo viajante, uma porta curiosa se
abriu, como por mágica. A grande diferença era que a magia era ciência pura,
ainda não disponível na atualidade. Aquela tecnologia, em mãos erradas, seria um
desastre para o mundo.
Os dois clones,
semelhantes em aparência e propósito, se voltaram para os dois jovens e se
prepararam para partir.
- Temos pouco tempo. É melhor irmos. Vocês vão ficar bem!
O som de um carro
parando e de passos rápidos a se aproximar, colocaram todos em estado de
alerta.
- Rápido. Vão!
Eles correram portal
adentro, sem terem tempo de se despedirem adequadamente. O portal fechou,
imediatamente, quando eles o cruzaram. Os dois jovens fugiram para a direção
oposta, escondidos pelas árvores e pela mata, enquanto dois homens, vestidos de
preto, chegavam à clareira, uma fração de segundo tarde demais.
- Essa não! Nós perdemos tempo! Estamos com um problema enorme,
agora! O diretor nos vai matar.
- Vamos voltar! Temos que relatar o que aconteceu,
imediatamente!
***
- Achas que eles chegaram a tempo de impedir o desastre?
- Acho é que nunca saberemos…
- Pois. Provavelmente não. Eu gostaria de pensar que eles
conseguiram consertar as coisas, como previsto.
- Não era uma tarefa fácil... Mas valia a pena tentar...
- O que fazemos agora?
- Vamos voltar para casa... Não há mais nada que possamos
fazer, a respeito daquilo... Eu li sobre um ‘geocache’ escondido no outro
farol... Temos que parar lá e verificar.
O rapaz de óculos
arregalou os olhos.
- Tu deves estar brincando comigo! Quero ficar longe dos ‘caches’...
por um bom tempo... Vamos voltar para casa!
Os dois jovens
entraram no jipe. A noite caía lentamente. A luz vermelha, no farol, piscou, cúmplice,
quando eles passaram de carro, como se a convidá-los a voltar...
***