domingo, 8 de setembro de 2013

Outros Estudos em Vermelho e Azul (Epílogo)



- Ela estava comigo. Quando o telefone tocou, ela inventou uma desculpa. Teve que inventar… Sentiu-se culpada, mas já não havia o que fazer. 

- Ela não faria isso comigo…

Mas uma pontada de dúvida e dor abriu caminho na mente sofrida do jovem rapaz.

- Mas fez. Estava carente e a oportunidade apareceu. Todas as pessoas são assim. Não tentes enganar-te… sabes bem que sim…

Misha sorriu. E seu sorriso pareceu muitíssimo sarcástico.

- Por que estás fazendo isso?

- Como eu já havia dito, para provar um ponto. As coisas e as pessoas não são o que parecem.

O rapaz, visivelmente afectado pela notícia, quase deixou cair a louça que havia recolhido da mesa, alguns instantes antes. Sentiu-se sozinho, usado… e traído. Um peso enorme caiu-lhe sobre os ombros e ele sentiu-se, subitamente, cansado. Virou-se para sair na direcção da cozinha, quando o outro disse-lhe:

- Traga-me uma daquelas natas, que me parecem tão frescas e apetitosas, por favor. De repente senti uma vontade enorme de comer uma delas.

Misha sorriu outra vez; um sorriso aberto e enganador; calculado, como as suas estudadas acções de sedução. 

Aquele sorriso pareceu, ao outro, uma grande provocação. O rapaz saiu, sem dizer nada mais. 

- Que se fodam as natas… 

O imprecativo saiu sem censura de sua mente, enquanto levava a louça suja para a cozinha do Café. Que outro se encarregasse de servir-lhe as natas…

(Grande filho da puta!)

***

- Senti-me mal e culpada. Fui fraca e deixei-me levar por uma situação, que podia facilmente controlar.

- Estavas carente e insegura...

- Não diminui a minha responsabilidade, nem o sentimento de culpa. Que burra eu fui!!! Olha só no que deu…

A terapeuta tentou não rir-se da atitude dela.

- Culpar-te, não vai resolver nada, nem trazer ninguém de volta. Sabes disso.

- É. Eu sei muito bem…

- Então, aceita e toca a vida adiante. Concentra-te no que seja importante, neste momento…
- Na morte… e no mistério que ficou…

Os olhos da investigadora pareceram levá-la para longe dali. A terapeuta observou-a franzir o cenho, como se estivesse vendo algo que não havia percebido antes…


***

- Como é que ele soube?

A mulher, visivelmente alterada, mostrava a mensagem no visor do telefone: “Dói. Muito!”

- Não sei. Por que tu achas que eu tenho alguma coisa a ver com isso? 

- Não sejas, cínico, Misha. O que foi que tu disseste a ele?

- Eu disse-lhe que podia acabar com a sua dor… se ele deixasse…

- O quê?

- Mas ele não quis ouvir-me. Disse que não queria nada de mim… nem comigo…

- És louco, ou o quê?

- Por quê? Ele até que era bem interessante…

Misha riu. Estava a provocar a mulher, que parecia não gostar, nem um pouco, da brincadeira.

- Deixe de ser asqueroso! Ele não é da tua estirpe!

- Não?!? Tens certeza disso? Olha que ele não foi tão indiferente ao beijo que eu dei…

Ela levantou a mão e ia dar-lhe uma sonora bofetada, mas ele foi rápido o suficiente para segurar-lhe o pulso, antes que fosse atingido. Chegou bem perto da face dela e riu-se. Olhou-a nos olhos e disse, bem devagar:

- Eu teria me divertido muito com ele, assim como diverti-me contigo. Aqueles olhinhos tristes iam ter uma alegria, que ele nunca imaginara ter… mas ele... digamos que desistiu, antes de saber.

- Solte-me, seu grande… porco! Sacana idiota!!!

Ela levantou o joelho, num gesto defensivo e atingiu-o numa parte delicada, entre o alto das duas pernas, levando-o a perder o controle e cair ao chão, urrando e contorcendo-se de dor. 

- Vaca!

- Vá para o inferno, seu filho da puta!

A mulher saiu, fumegando, pela porta afora, com o peito arfando, cheia de asco e revolta, deixando o agressor jogado no meio da sala. 

Ao cruzar a soleira e puxar a porta atrás de si, ainda ouviu um misto de gemido de dor com uma gargalhada de deboche, do rapaz loiro e de olhos azuis, tão profundos quanto o Oceano Pacífico, mas com a alma tão fútil quanto a de um anjo caído.

- Vais pagar por esta…    


***


- O que tu queres aqui? Vá embora!

- Vim trazer-te uma garrafa da melhor vodka russa que há. Ajuda a aliviar a dor.

- Por que tu achas que eu quero alguma coisa, que venha de ti? Já não fizeste mal suficiente? Ainda não estás contente? Tens que destruir tudo que tu tocas?

- Deixa-me entrar e conversamos. 

Ele abriu aquele seu sorriso estudado e segurou o braço do rapaz que estava a bloquear sua entrada no pequeno apartamento onde morava. O outro reagiu imediatamente.

- Saia já daqui!

Levantou o punho e deu um soco contra o vazio, pois Misha conseguiu esquivar-se rapidamente. Quase imediatamente, aproveitou-se da vantagem, deu um golpe certeiro, com a mão cheia e aberta, no peito do rapaz, que perdeu o equilíbrio e caiu, por cima da perna, que Misha colocara à frente, propositadamente. Meio corpo caído para dentro do apartamento foi o suficiente para permitir que entrasse, sem dificuldade, com a garrafa de vodka, cheia, na mão. A porta fechou-se, assim que o outro levantou-se, ainda meio desnorteado.


***


- É melhor vir aqui urgentemente… acho que estávamos bastante enganados.

- Como assim? Enganados?

- O resultado da autópsia saiu. A causa mortis’… não foi o que pensamos inicialmente.

- Já estou a caminho.

A mulher desligou o telefone e entrou no carro, apreensiva. Em sua cabeça, milhares de perguntas, sem resposta, iam-se formando, enquanto conduzia, quase instintivamente, até o laboratório da Polícia.   

Pela janela, as imagens iam passando, num show de slides vivos, enquanto em sua mente as impressões, sensações e sentimentos atropelavam-se, como se quisessem manifestar-se todas ao mesmo tempo.

Sombra… Crianças correndo... Sol... Árvore... Vidro e concreto... Muro... Hidrante… Sombra... Carro parado… Meninas, vestidas com uniforme da escola, a rir alto... Semáforo... Vermelho... Dor… Céu azul… Muita dor… Avenidas… Aço, concreto e vidro… ângulos rectos… esquinas e cruzamentos com sinais em vermelho… Sangue… Morte… Suicídio? … Homicídio? … Acidente?... Por quê?


***


- Nunca vamos conseguir provar que foi crime. O nível de álcool no organismo dele era demasiadamente alto. Estás a ver esta marca? 

Ela confirmou, ao ver a marca de uma batida na têmpora do rapaz morto. O médico legista apontava uma grande lesão, causada por uma superfície em ângulo recto, como numa quina de algo.

- Ele caiu, bateu com a cabeça, enquanto ia em queda e estatelou-se na calçada. Encontramos uma marca de sangue numa das sacadas da escada de incêndio. Pelo jeito, é mais que uma simples teoria. Só não conseguimos saber se houve intervenção de alguém… se foi empurrado ou algo assim. Não há nenhuma evidência no corpo, que demonstre isso. Procurei em tudo, mas não encontrei absolutamente nada. Jamais saberemos a verdade, pelo que pude deduzir…

Mas algo nela dizia que alguém tinha mais a ver com o ocorrido, que as evidências conseguiam demonstrar cientificamente.  


***


Quando a mulher entrou no “Templo”, já era o final da tarde. A iluminação dentro do grande salão trouxe-lhe memórias de um tempo que pareceu-lhe, de repente, tão distante. Uma estranha nostalgia fê-la olhar tudo com outros olhos. Era, agora, uma investigadora de polícia, em busca de respostas. Não estava convencida da inocência de ninguém… nem da dela mesma… 

Dirigiu-se ao bar, no centro e perguntou ao servente, que já conhecia:

- Tens visto Misha? 

- Faz algum tempo que não aparece por aqui. Dizem que voltou para o lugar de onde veio, mas quem poderá dizer com certeza?


***


Sentado à minúscula janela, o rapaz de olhos azuis olhava para fora, atento aos movimentos na pista do aeroporto. Temia que a qualquer momento a polícia invadisse a nave e o levassem para uma sala de interrogatório. Apesar de a temperatura estar regulada para cerca de 21 graus, Misha suava.

Quando as portas fecharam de vez e o avião ganhou a pista, em alta velocidade e levantou voo, deixando para trás a terra em que viveu por uns bons anos, Misha fechou os olhos e expirou, aliviado.

Em seus olhos, a imagem do rapaz, visivelmente bêbado e fragilizado, sentado no chão da sala, ainda estava bastante vívida. Seus braços estavam enlaçados a volta daqueles ombros, enquanto o outro chorava, angustiado, como uma criança. Misha aproveitou-se do momento e beijou-lhe, delicadamente, os lábios. O rapaz não o rejeitou, a princípio. Deixou-se levar por uns poucos segundos…

- Teus lábios são mais doces e macios que os dela…

O jovem afastou-se, indignado, passando a manga da camisa sobre a boca. Enojado, tanto pelo que acabara de fazer, quanto pelo que ouvira, saiu pela porta que ia até a sacada. Misha seguiu-o, agindo naturalmente, como se fora a coisa mais natural do mundo.

- Não há nada de errado com isso. Foi somente um beijo... 

- Afasta-te de mim. Já não basta o mal que causaste? Tens que destruir tudo que tocas, até o mais ínfimo detalhe?

Misha estendeu a mão, mas o outro reagiu com violência e um tanto de asco. Ele insistiu em se aproximar. Ao tentar afastar-se, sem ter consciência exacta de onde pisava, o rapaz chegou-se para trás, tropeçou num pequeno degrau e perdeu o equilíbrio, batendo contra a grade de ferro que protegia – muito mal – quem estivesse na pequena sacada. O efeito do álcool impediu-o de segurar-se, fê-lo perder o controle e cair… da sacada do quinto andar, contra o cimento frio e duro da calçada, batendo, durante a queda, na escada de incêndio.

Uma poça de sangue começou a formar-se à volta da cabeça do rapaz caído.

Misha abriu os olhos. A comissária de bordo vinha pelo corredor, com o carrinho de bebidas.

- O senhor deseja alguma bebida?

- Sim. Por favor. Uma vodka.

- Gelo?

- Não. Pura! 


***


Fim de tarde à beira do rio. Debruçada no ‘guard rail’, a mulher olhava um ponto distante, sem realmente ver, além da outra margem, onde uma construção com estranhas janelas coloridas erguia-se, distinguindo-se das outras edificações à volta. O vento, que soprava contra sua face e jogava-lhe os cabelos para trás, secava-lhe, ao mesmo tempo, as lágrimas recém-choradas. 

Uma dor corroía-lhe por dentro, sem piedade… a dor que misturava ódio, culpa, saudade e impotência, diante do maior algoz da vida: a própria morte. A terapia havia-a ajudado a passar aquela fase de perda e culpa, mas não conseguira fazê-la deixar de pensar no grande erro que cometera. 

Em sua cabeça, a recordação daquela última noite, ainda estava muito viva. Os detalhes, ela lembrava que os revivera, inúmeras vezes. As lembranças estavam tão nítidas, como se estivessem acontecendo naquele momento. Ela fechou os olhos. Um leve ruído a fez voltar a cabeça. 

- Desculpe. Sabe onde fica o “Templo”? 

Ela virou-se automaticamente, saindo de uma espécie de transe. Quase sem perceber, olhou directamente nos olhos azuis do rapaz, que vestia uma t-shirt vermelha e que estava em pé, ao seu lado, exibindo um estranho sorriso nos lábios… A sensação de borboletas, batendo as asas em seu estômago, lançou-lhe um sinal de alerta, que ela decidiu ignorar. 

O rapaz repetiu a pergunta: 

- Sabe onde fica o “Templo”? 

Ela simplesmente respondeu, sorrindo: 

- Sei…

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Other Studies in Red and Blue (Part 4)


- Do you know why you're here, Madam?

The woman, looking somewhat pale, sitting in front of the man in white, nodded.

- You had a serious syncope: a sort of anxiety attack caused by excessive and possibly compulsive work. You have been working too much, have you not, Madam? Probably you do not eat nor sleep properly either... Do you know the consequences of these, Madam?

The doctor on duty knew the diagnosis without making more than a few simple tests to the patient in front of him. The symptoms were too evident to one who was familiar to see, repeatedly, people presenting indecent obsessive behaviour towards their work.

- I think I know, more or less, SIR...

She used a good amount of irony when pronouncing the word, pausing almost imperceptibly.

- ...but you will tell me anyway, will you not?

The doctor pretended not to notice the sarcasm and went on:

- If you do not seek professional and specialised help immediately, Madam, you’re going to have to come back here and it will certainly be a lot worse... I will give you the name of a good psychologist and will prescribe some medical tests and an anti-depressant, but you will have to commit, without any apology, to follow the therapy very strictly, Madam, or else...

(If he calls me 'Madam' once more, I swear that I’ll pierce his eyes - to say the least!)

- Ok, doctor. I will follow your instructions... strictly... I promise!

- I talked to your superior already and he agrees with me. You WILL have to rigorously follow the therapy, Madam.

(Aaarrrghh!!! Now he asked for it. And he even had the guts to put the emphasis on the word ... I'll jump to his neck... right now! Somebody hold me, or else he will not escape from my nails...)

She got up, stretched out her hand with feigned politeness and a forced smile, turned around and walked off the room with a prescription for a strong anti-depressant in her pocket...


***

A young man with deep blue eyes entered the Café where he noticed a woman sitting alone by the window. He approached her table and asked.

- May I sit here?

She turned her head up, visibly stunned at the boldness of the young man who had just arrived. He sat down even before she was allowed time to answer. His action did not pass overlooked at all. He noticed her immediate discomfort. He also saw that one of the waiters, who stood near the counter of the Café, could not take his eyes off of them.

A vein of perversity flooded up with a bloody thirst for revenge, but he knew how to be patient and remain impassive. He needed to be more certain about his suspicion, so he called the young man and ordered a cup of coffee. His intention, however, had a much more specific purpose. When he noticed the uneasiness of both - the woman and the waiter - his doubts dissipated immediately. He also detected the almost imperceptible exchange of glances between the two of them.

Misha, then, smiled at her and his smile was the most charming he could produce at that time. She returned that smile, rather awkwardly, not knowing exactly what to do. The boy who served them frowned, disturbed.

(Bingo!)

The dark seed of doubt had been planted. It was only a matter of time then... and time was one of the things he had plenty to spare... Misha did not need, however, to take a further second step.

That night, when the woman and her lover boy were together, after loving each other like two desperate castaways looking for a lifeline, he rolled over and stayed in silence, staring at the ceiling. She realized there was something strange hovering in the air. Still, she said, gently:

- I really enjoy being here with you...

But the young man seemed to be a million miles away from her. A tear of sadness rolled down his side of the face, when he gave a long, painful sigh...


***

Misha started to observe the woman’s every footstep very closely. He realized that her trips to the corner Café ceased after that time they last met. He made himself sure first he was right and then decided to take advantage of the situation.

He waited a while and returned to the Café, addressing that table employee he already knew. He asked, as if it were the most natural thing in the world, where the other man’s girlfriend was. Despite the attempts of the young man saying that there was nothing between him and the police investigator, Misha did not seem convinced at all.

After a few minutes, he decided he should challenge the boy. He bet he could take the woman to his bed.

- If there is nothing between you, there is nothing to worry about, is it not?

- Why are you doing this?

- To prove that things are not what they appear to be... and besides, there is nothing going on between the two of you, as you affirmed unquestionably.

The real purpose, however, was very far from being that simple.


***


- I have noticed that you are alone and very lonely lately. Every time I see you, I have the impression you are sadder and sadder. Has that boy left you?

- What boy?

- Do you think I don’t know what's going on? Just because you don’t go to the 'Temple' anymore, that doesn’t mean you go unnoticed ... You’re an attractive woman, even behind this facade of a serious and tough cop. And I know you think I'm interesting.

('And arrogant' - she thought, slightly chuckling...)

- I see the way you look at me and I know that you must want me too...

- If I have ever looked at you with some desire, that must have been a long while ago. I have no attraction for you at all. Now I'm interested in another man, very different from your kind.

- The boy at the Café...

Her eyes swiftly showed a bitter sadness. He laughed, victorious.

She had not denied nor confirmed anything. The man’s statement had a good amount of truth. She was truly falling in love with the other young man, although at that time they were apart. They had not seen each other since the incident where he asked her to give him time to think. Her eyes filled with tears when she remembered the strangeness of their last meeting. That had happened already several days in the past...

Misha noticed her state and took advantage of the situation and fragility she showed at the time. He moved up closer and looked into her eyes and smiled. She could not look away. He touched her face - warmly and gently. She, in response, closed her eyes...


***

He was a master who knew all the secrets of seduction, how to prepare a sensual ambience and knew the most sensitive points of the woman’s body. He gave her pleasures she did not know ever existed, even when she was with her young lover. It was evident that Misha was a professional in the business and knew very well how to please.

- Now you're going to have to lie to the boy...

They were in bed, side by side, lying on their backs and looking at the unlit ceiling.

- I don’t need to lie. I just don’t need to speak the whole truth... And we never promised to be loyal nor restricted to each other...

But she knew that what she had just said was not quite true... and she was sorry for that.

As in a well-rehearsed screen play, her cell phone rang...

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Outros Estudos em Vermelho e Azul... (Parte 4)


- A senhora sabe porque está aqui?

A mulher, com aspecto um tanto lívido, sentada à frente do homem de branco, balançou a cabeça, positivamente.

- Teve uma síncope: uma forma de ataque de pânico, ocasionado pelo excesso de trabalho, provavelmente compulsivo. A senhora tem trabalhado demais, não tem? Provavelmente não se alimenta, nem dorme direito… A senhora sabe as consequências disso?

O médico de plantão já conhecia o diagnóstico, sem precisar fazer mais que uns simples exames à paciente à sua frente. Os sintomas eram evidentes demais, para quem já estava acostumado a ver, repetidamente, as pessoas terem comportamentos indecentemente obsessivos em relação ao trabalho.

- Sei, mais ou menos… mas o ‘SENHOR’ (ela usou uma dose de ironia ao pronunciar a palavra, fazendo uma pausa quase imperceptível) vai dizer-me de todo o jeito, não vai?

O médico fingiu não perceber o sarcasmo e disparou:

- Se não procurar ajuda profissional especializada, imediatamente, vai ter que voltar aqui e com certeza será muito pior… Além de alguns exames médicos e um acinético, vou-lhe passar o nome de uma óptima psicóloga, mas a senhora vai ter que se comprometer, sem desculpas, a seguir a terapia à risca…

(Se ele me chamar de ‘senhora’ mais uma vez, juro que, no mínimo, furo-lhe os olhos!!!)

- Ok, doutor. Eu vou seguir suas instruções à risca… Prometo!

- Já falei com seu superior e ele concorda comigo. A senhora VAI seguir a terapia à risca.

(Aaarrrghh!!! Agora ele pediu. E ainda teve a audácia de colocar a ênfase no verbo… Vou-lhe directo ao pescoço… sem dúvida alguma! Alguém me segure, senão ele não me escapa das unhas…)

Levantou-se, estendeu-lhe a mão, com educação fingida e, com um sorriso forçado, virou-se e saiu pela porta afora, com a prescrição médica de um forte calmante dentro do bolso da calça…

***

Um rapaz com profundos olhos azuis entrou no Café. Avistou a mulher sentada, sozinha, à janela e aproximou-se.

-‘Posso sentar-me aqui?’

Ela olhou-o, visivelmente pasmada ante a ousadia do rapaz que acabara de chegar. Ele acomodou-se, antes mesmo que ela tivesse tempo de responder. Sua acção não passou despercebida de todo. Ele observou com cuidado o ambiente e o desconforto dela. Viu também que um dos atendentes de mesas que estava de pé, próximo ao balcão do Café, não tirava os olhos de cima deles. Uma veia perversa inundou-se o sangue com sede de vingança, mas ele soube permanecer impassível. Precisava de mais certeza. 

Chamou o rapaz para pedir um café, mas com um intuito bem mais específico. Percebeu o nervosismo de ambos. Suas dúvidas dissiparam-se, imediatamente, assim que viu a troca de olhares entre os dois. Misha sorriu-lhe e seu sorriso foi o mais encantador que ele conseguiu produzir. Ela retribuiu, meio desajeitadamente, sem saber exactamente o que fazer. O rapaz, que os servia, franziu o cenho.

(Bingo!)

 A semente da dúvida havia sido plantada. Agora era somente uma questão de tempo… e, este, ele tinha à sua inteira disposição… e mais que de sobra. Misha não precisou, entretanto, de um segundo assédio.

Naquela noite, quando estavam juntos, após amarem-se como dois náufragos desesperados, em busca de uma tábua de salvação, enquanto o calor arrefecia seus corpos, o rapaz rolou para o lado e ficou, em silêncio, a olhar o teto. Ela percebeu que ficou um clima algo estranho a pairar no ar.  Mesmo assim, falou, com cuidado:

- Eu gosto tanto de estar aqui…

Mas o rapaz parecia estar muitas milhas distante dela. Uma lágrima de tristeza rolou-lhe pelo lado da face, quando ele deu um longo e angustiado suspiro…

***

Misha passou a observar, de perto, os passos da mulher. Viu que suas idas ao Café da esquina cessaram após aquela ocasião em que esteve presente. Certificou-se, primeiro, que estava certo, depois decidiu aproveitar-se da situação. Deixou passar um tempo e voltou ao Café, dirigindo-se ao funcionário de mesa que já conhecia.

Perguntou, como se fosse a coisa mais natural do mundo, como estava a namorada. Apesar das tentativas do rapaz em afirmar que não havia nada entre ele e a investigadora de polícia, o outro não pareceu convencido.

Após uns poucos minutos, Misha então, desafiou o rapaz. Apostou que conseguia levar a mulher para cama.

- Se não há nada entre vocês, não há porque se preocupar, não é mesmo?

-‘Por que estás fazendo isso?’

- ‘Para provar que as coisas não são o que aparentam ser’

O verdadeiro intuito, porém, estava longe de ser tão simples.

***

-Tenho percebido que andas muito sozinha. Cada vez que te vejo, tenho a impressão que estás mais triste. O menino deixou-te?

- Que menino?

- Achas que eu não sei o que se passa? Só porque não frequentas mais o ‘Templo’, não quer dizer que passas despercebida… Tu és uma mulher atraente, mesmo por trás desta fachada séria de policial durona. E eu sei que me achas interessante.

(‘E arrogante’ - pensou ela, fazendo um leve muxoxo…)

- Vejo o jeito que me olhas e sei que também me deves desejar...

- Se alguma vez te olhei com algum desejo, deve ter sido há muito tempo atrás. Essa atracção já não existe. Agora eu estou interessada em outro homem, muito diferente de ti.

- O menino do Café…

Ela meio que entristeceu. Ele riu, vitorioso.

Ela não negou, nem confirmou. A afirmação tinha um grande fundo de verdade. Estava-se apaixonando pelo outro rapaz, embora, naquela ocasião, estivessem separados, depois do incidente em que ele lhe pedira um tempo para pensar. Seus olhos encheram-se de lágrimas a recordar a estranheza do último encontro que tiveram. Já haviam-se passado vários dias…

Ele percebeu o estado dela e aproveitou-se da situação e fragilidade demonstrada no momento. Chegou-se mais perto, olhou-a nos olhos e sorriu. Ela não conseguiu desviar o olhar. Ele tocou-lhe, com delicadeza, a face morna e ela, em reacção, fechou os olhos…

***

Misha era um mestre na arte. Sabia todos os segredos da sedução, como preparar um ambiente sensual e conhecia os pontos sensíveis do corpo da mulher. Deu-lhe prazeres que ela não sabia que existiam, mesmo quando estava com seu jovem amante. Era evidente que ele era um profissional do ramo e sabia muito bem como agradar.

- Agora vais ter que mentir ao menino…

- Eu não minto; só não preciso falar toda a verdade… Nunca prometemos fidelidade, nem tampouco exclusividade, um ao outro…

Sabia, porém, que o que acabara de dizer não era bem uma verdade incontestável… e sentia muito que assim fosse.

Como se numa encenação bem ensaiada, o telefone dela tocou…

domingo, 11 de agosto de 2013

Um Frio Deserto


A grande onda de calor veio, de repente, como se fosse por mágica… ou por maldição. Para os mais desavisados, nem as lojas estavam preparadas para suprir a repentina demanda de ventoinhas ou aparelhos de ar condicionado.

Deitados no chão da sala, com as persianas baixas e as luzes apagadas, em frente à única ventoinha que havia sobrado na loja e que teria de servir, para o momento, ficamos quietos, lado a lado, como se soubéssemos que, qualquer movimento desnecessário, só nos iria trazer mais desconforto.

Havia, por sugestão da doutora, borrifado sua barriga e peito com água fria, para tentar refrescá-lo um pouco. Ele, assim como eu, já não sentia apetite algum… apenas sede; muita sede. 

Menos de uma semana depois, quando as temperaturas começaram a voltar ao normal, ainda não havíamos recuperado a rotina. Apenas nos forçávamos a comer o mínimo e continuávamos a ingerir muito líquido. Ele, porém, começou a enfraquecer e perder peso. Preocupado, voltei à clínica e o submetemos a uma série de exames e análises mais minuciosos.

Os resultados não foram animadores. Os rins estavam gravemente afetados. Parecia sentir dor nas articulações das patas traseiras também. A medicação, especialmente preparada, iria apenas sustentar seu corpinho, que ia definhando aos poucos e que preocupava-me sobremaneira. Meu grande amigo e companheiro, de tantas aventuras e alegrias, havia adoecido gravemente e eu não sabia o que fazer.

Aquele gato ativo e superinteligente, manipulador, desastrado e brincalhão, que não deixava passar, sem seu controle, nenhum horário das refeições ou de ir para a cama, de apagar as luzes ou fechar as portas, tornara-se um bichinho sofrido e apático, que apenas deitava-se ao meu lado, ainda, como dantes, porém já sem conseguir fazer-me rir. Apenas ficava a olhar-me, com seus olhinhos tristes, como se aconselhasse, com aquele olhar, a preparar-me para o que vinha, rapidamente, a seguir.

Pouquíssimas semanas passaram-se, frustrando todas as minhas tentativas de fazê-lo animar-se e reagir. Ele não reclamava. Não gemia. Não miava. Mal andava e, quando o fazia, era com um esforço imenso. Por fim, até mesmo o peso da cabeça impedia-o de beber água sozinho. Havia necessidade de segurá-lo pelos ombrinhos, para que pudesse atingir a água sem que o nariz pendesse e ele se afogasse.

Ele passou de cem por cento a zero, em menos de três semanas. Completamente dependente de mim para todas as funções, sendo alimentado e medicado por seringa e aplicações de soro subcutâneo, ele entregou-se ao destino.

Desesperado e despreparado, ainda tentei até o fim.

Na madrugada de uma quinta-feira (ah! Como eu ainda odeio quintas-feiras!), dormindo, como de costume, ao meu lado, na grande cama de casal, ele gemeu. Levantei-me, com ele no colo e levei-o à cozinha, onde tentei dar-lhe água e levá-lo à caixa de areia. Foi em vão, todavia. Ele recusou ambas as ações.

Deitado sobre meu peito, no sofá da sala, ele deu seu quase último suspiro, avisando-me que estava próximo do inevitável fim. Partiu, plácido e calado, poucos minutos depois, ainda sob os meus cuidados e meu carinhoso e suave abraço, a volta de seu corpinho debilitado. Minhas lágrimas pousaram, mornas e inúteis, sobre seu dorso sem vida.

Meu grande amigo e companheiro, de mais de treze anos, foi-se embora para sempre. (Para onde vão os gatos, afinal, quando morrem? Existe um Paraíso para eles? Existe um, para nós, humanos?) Fiquei sozinho, triste e desconsolado, sem saber como viver - sem a sua tão forte presença.

Acredito que tenha sido a situação mais desesperante da minha vida. E porque amei-o total e incondicionalmente, como nenhuma outra criatura antes dele, eu chorei. Admito, sem vergonha, que nunca havia chorado tanto, como fiz naquele dia (e, também, nos subsequentes)...

Na noite daquele dia, a grande cama de casal parecia um deserto. Estéril e desolado. A sensação era de um verdadeiro, imenso e frio deserto... glacial demais… a sufocar-me o fôlego, a comprimir meu peito. Afiadíssimas lâminas de um gelo frígido e ácido perfuravam, corroíam  e congelavam meu pobre coração.

A casa ficou quieta… vazia… enorme… como o enorme e amargo vazio deixado na minha vida e na minha alma…



sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Propostas


- Nunca deves fazer-me este tipo de propostas. Eu posso acreditar nelas e cobrar-te, com juros, mais tarde…

Disse aquilo com um sorriso e com uma naturalidade, que pareceu-me tratar-se de uma simples brincadeira de sedução. Mal sabia que a intenção, por trás daquela brincadeira, era mais séria que se podia imaginar.

- Tens medo?

- De quê? De acreditar? Claro que não!

Deu uma risada alta e jogou a cabeça para trás. Aquele gesto era-lhe absolutamente adorável e, aquele sorriso, deliciosamente apaixonante.

No meio daquela galhofa, íamos dizendo pequenas verdades, apalpando o terreno, nos aproximando aos poucos e propiciando um crescendo de expectativas. No fundo, queríamos mais do que verbalizávamos e desejávamos mais que tencionávamos demonstrar.

Minhas pupilas devem haver-se dilatado, quando olhou-me subitamente nos olhos, pois notei que simulou um sorriso maroto, que fez-me enrubescer, como se houvesse desvendado um mistério, sem necessariamente pretender. Eu estava à sua mercê, como um navio entregue nas mãos de um experiente timoneiro, mesmo que navegando em águas desconhecidas…

Aquela deixa não passou despercebida de todo. Um toque de pluma contornou-lhe o desenho das sobrancelhas, em volta dos olhos, desceu pela curva do nariz e, finalmente, seguiu o delicado traçado dos lábios… Nossos olhos encontraram-se novamente, quase por acaso, enquanto nossas bocas somente seguiram o curso natural das coisas.

Em poucos segundos estávamos grudados um no outro, num beijo tão ávido e num abraço tão firme, que parecia que um queria virar tatuagem impressa na pele do outro.

Suas mãos procuravam minhas costas, minhas nádegas, minhas coxas… meu corpo inteiro.

Minhas mãos seguravam firmemente seus cabelos e sua cabeça, buscando o pescoço, descendo com força, quase arranhando suas costas, trazendo seu corpo para mais perto do meu, como se aquilo fosse, de alguma maneira, possível…

Não sei onde nossas roupas foram parar, no meio daquele descomedido frenesi. Só sei que já não conseguia mais pensar, nem usar a razão ou mesmo a coerência… Havia-me transformado no mais servil escravo da emoção, do desejo e da luxúria.

Eu olhava os detalhes e admirava a pele rosada, sardenta… os pelos ruivos… a verdade sempre se esconde por baixo de tudo… Afinal, eles eram encantadora e atraentemente ruivos - e minha euforia ficou tão rubra quando a cor daqueles pelos, que inflamaram minha libido, transformando nossos corpos em pontos de ignição de um incêndio, a espalhar-se, incontrolável, com a velocidade de um furacão de prazer.

Deixei-me conduzir por labirintos de carne e músculos, peles e pelos, linhas tão bem desenhadas - por onde minhas mãos deslizavam sem parar -, salivas e secreções, sons e cores, sussurros e gemidos, num tempo atemporal e infinito… até que um grito abafado prenunciou um orgasmo, enquanto um vulcão em erupção lançava sua lava quente e imobilizava os espasmos do momento, num abraço apertado, envolvendo braços, pernas, bocas… e corpos tão emaranhadamente unidos…

No calor da exaustão que seguiu-se, as palavras, os gemidos e os sussurros transformaram-se em riso… e o derradeiro riso, num único compromisso:

- Podes fazer-me as propostas e as promessas que quiseres; quando quiseres; onde quiseres; mas nunca mais me deixes partir! Nunca!

domingo, 28 de julho de 2013

O Grande Discurso


- Meus estimadíssimos amigos… Ah! Como eu gosto de chamá-los de amigos. Quase poderia chamá-los de meus queridos filhos… de tanto que, agora, vos admiro.

A voz soou poderosa, em cadeia nacional de televisão, cobrindo todos os possíveis canais, com uma precisão invasiva de dar inveja a qualquer hacker. O foco da imagem foi-se ajustando, mostrando a estranha silhueta da figura em primeiro plano, enquanto o fundo ia desfocando de uma série de barbáries, filmadas em tempo real e reportadas ao longo das eras. E continuou:

- Eu tenho que reconhecer haver feito um belo trabalho convosco. Nunca pensei que uma raça tão limitada, como a vossa, fosse superar quaisquer expectativas que eu pudesse ter. Vós conseguistes ultrapassar toda uma carga de maldades e perversões que eu sequer pude congeminar. E posso garantir que estais em verdadeira e rápida evolução… de iniquidade… Não vos amo, porque não conheço este sentimento… mas vós sois tão odiosos, que me comovem…

Sem pigarrear, nem titubear, a voz procedia naturalmente, como se o discurso tivesse há muito sido preparado, para ser corrente e fluido, durante a transmissão.

- O Altíssimo vos presenteou com o livre arbítrio, com toda boa vontade que lhe é peculiar. Uma pena, para Ele, que a prenda não vos serviu. Eu dei-lhes, em contraponto, a semente da maldade. Não consegui prever, porém, que ela fosse encontrar terreno tão fértil em vós… Se não fosse uma grande blasfémia, eu até diria: Aleluia!!!

Fez um muxoxo, como se a palavra pronunciada lhe queimasse a língua e lábios, mas terminou com um movimento de canto de boca, que mostrou tratar-se apenas de uma ironia, propositadamente colocada, para ter um efeito mais dramático.

- Realmente, eu fui parvo a ponto de achar que era o próprio Mal. (Talvez até já tenha sido… há muito tempo atrás). Tenho muita vergonha de haver-me deixado ultrapassar por uma raça tão ínfima quanto a vossa. Vós conseguistes inventar tantas asneiras, tantas regras que conseguistes quebrar, tantos mandamentos de boa conduta - que fazeis questão de não seguir e que impingem dor e culpa aos vossos semelhantes -, tantos pecados capitais - que fazeis questão de superar com as mais requintadas das maldades -, que chegais a envergonhar até o mais desalmado dos demónios.

Vós rides de vossos semelhantes, daqueles que diferem de vossos padrões – tão perfeitos, esteticamente, que não os conseguis alcançar. E quando vossos corpos são moldados com muito exercício físico, falta-lhes um mínimo de bom senso… ou cérebro, por assim dizer.

Havia um peso silencioso no ar. O mundo havia parado para ouvir o discurso do Diabo. E ele parecia bastante coerente no que dizia. Quanta crueldade existia na verdade, jogada assim, na cara da Humanidade…

- Vós criastes os vossos deuses para, tão-somente, ignorá-los. Engendrastes vossas religiões, vossos novos cultos com os “manuais de procedimento” e discursos cheios de pompa, voracidade e entusiasmo, com palavras vazias de conteúdo e o intuito único de explorar, à vantagem, os pobres e os ignorantes – tão facilmente manipuláveis… E como o fazeis tão perfeitamente bem… Quanta inspiração maléfica tendes! Que pantomima exemplar! Tirais dos pobres para dares aos ricos! Que tão bem feita maldade…

Perdestes toda a fé e a capacidade de sentir remorsos…Nem no Diabo acreditais mais...

Por vaidade - (esse pecado merecia ser escrito com letra maiúscula!) e ganância - (esse também!) haveis cometido tamanhos desvarios e tantas inexplicáveis loucuras… que faltam-me palavras para vos enaltecer. Aliás, criar sete pecados capitais foi uma ideia de génio! Eu devia ter pensado nisso, antes que a igreja os houvesse publicado…

 Sabia que havia tocado num ponto crucial, mas também sabia que o mundo estava perdido. O discurso era enaltecedor - não um arrependimento, nem uma promessa de mudança…

- Vossos líderes - tanto políticos quanto religiosos - tem a capacidade de reverter qualquer posição tomada e assumida em completa vantagem pessoal. Vossos governantes e magnatas querem sempre mais e não medem esforços para deter toda a riqueza e poder possível, a qualquer custo. Que óptimo! Haveis acumulado não somente opulência, mas também desumanidade e indiferença… e orais para ter mais.

Orar? Para ter mais? Para ter mais dinheiro??? Mais riquezas???

O Grande Maligno deu uma gargalhada.

- Falais de pobreza, promoveis o castigo aos ímpios e pecadores e, no fim, sentais em tronos de ouro, com vossos dedos ornados com anéis de grande valor e ostentação… Ora, que grande atrevimento! Que genialidade maléfica!

Vós mereceis que eu vos tire o chapéu, ou até mesmo os meus cornos, em reconhecimento à vossa tão depravada imaginação!!!

A humanidade está, realmente, condenada, por vosso imensamente estimado livre arbítrio...

Graças a Deus! ...Oops! Perdão…

Ele deu uma risadinha e esperou, um segundo interminável.

As plateias, reunidas à volta de enormes telas em Times Square, Tóquio, Rio de Janeiro, Londres, Paris e Sydney, entre outros grandes centros de concentração, ficou em silêncio, por mais um instante. O diabo tinha um discurso bastante congruente. Parecia um grande político, fazendo um retrato dos seus mais desejados eleitores...

Alguém perguntou em alta voz se tratava-se de uma campanha política…

O diabo sorriu para si mesmo. Que grande ideia acabara de nascer!!!