- Nunca deves fazer-me este tipo de propostas. Eu posso acreditar nelas e cobrar-te, com juros, mais tarde…
Disse aquilo com um sorriso e com uma naturalidade, que pareceu-me tratar-se de uma simples brincadeira de sedução. Mal sabia que a intenção, por trás daquela brincadeira, era mais séria que se podia imaginar.
- Tens medo?
- De quê? De acreditar? Claro que não!
Deu uma risada alta e jogou a cabeça para trás. Aquele gesto era-lhe absolutamente adorável e, aquele sorriso, deliciosamente apaixonante.
No meio daquela galhofa, íamos dizendo pequenas verdades, apalpando o terreno, nos aproximando aos poucos e propiciando um crescendo de expectativas. No fundo, queríamos mais do que verbalizávamos e desejávamos mais que tencionávamos demonstrar.
Minhas pupilas devem haver-se dilatado, quando olhou-me subitamente nos olhos, pois notei que simulou um sorriso maroto, que fez-me enrubescer, como se houvesse desvendado um mistério, sem necessariamente pretender. Eu estava à sua mercê, como um navio entregue nas mãos de um experiente timoneiro, mesmo que navegando em águas desconhecidas…
Aquela deixa não passou despercebida de todo. Um toque de pluma contornou-lhe o desenho das sobrancelhas, em volta dos olhos, desceu pela curva do nariz e, finalmente, seguiu o delicado traçado dos lábios… Nossos olhos encontraram-se novamente, quase por acaso, enquanto nossas bocas somente seguiram o curso natural das coisas.
Em poucos segundos estávamos grudados um no outro, num beijo tão ávido e num abraço tão firme, que parecia que um queria virar tatuagem impressa na pele do outro.
Suas mãos procuravam minhas costas, minhas nádegas, minhas coxas… meu corpo inteiro.
Minhas mãos seguravam firmemente seus cabelos e sua cabeça, buscando o pescoço, descendo com força, quase arranhando suas costas, trazendo seu corpo para mais perto do meu, como se aquilo fosse, de alguma maneira, possível…
Não sei onde nossas roupas foram parar, no meio daquele descomedido frenesi. Só sei que já não conseguia mais pensar, nem usar a razão ou mesmo a coerência… Havia-me transformado no mais servil escravo da emoção, do desejo e da luxúria.
Eu olhava os detalhes e admirava a pele rosada, sardenta… os pelos ruivos… a verdade sempre se esconde por baixo de tudo… Afinal, eles eram encantadora e atraentemente ruivos - e minha euforia ficou tão rubra quando a cor daqueles pelos, que inflamaram minha libido, transformando nossos corpos em pontos de ignição de um incêndio, a espalhar-se, incontrolável, com a velocidade de um furacão de prazer.
Deixei-me conduzir por labirintos de carne e músculos, peles e pelos, linhas tão bem desenhadas - por onde minhas mãos deslizavam sem parar -, salivas e secreções, sons e cores, sussurros e gemidos, num tempo atemporal e infinito… até que um grito abafado prenunciou um orgasmo, enquanto um vulcão em erupção lançava sua lava quente e imobilizava os espasmos do momento, num abraço apertado, envolvendo braços, pernas, bocas… e corpos tão emaranhadamente unidos…
No calor da exaustão que seguiu-se, as palavras, os gemidos e os sussurros transformaram-se em riso… e o derradeiro riso, num único compromisso:
- Podes fazer-me as propostas e as promessas que quiseres; quando quiseres; onde quiseres; mas nunca mais me deixes partir! Nunca!
Desta vez, tinha que escrever uma história que começasse e terminasse com a palavra "nunca". O objectivo foi cumprido. Ficou ousado, porém...
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