sábado, 22 de dezembro de 2018

Oblivion (Part 3: Dream)



The sound of metal hitting the wall intermittently woke him up. He was in the dark, but looking up, there was a slit of light up above. He tried to rub his clothes and body clean, trying to check if he was really alive still. His fingers and knees were so sore. He was alive. Dead people do not feel pain. He almost smiled at the thought, but that would not make any sense in the situation he was in.

That sound again… and again. Maybe it was his friend trying to rescue him out of that hole.

- Hey.

He shouted out loud. His voice was strange. The echo responded.

- Hey, hey, hey…

He whispered to himself.

- I’m fucked.

- Hey.

He looked up. Something was hanging up above and swinging from the top.

- I’m OK. Can you bring it down?

- I’m out of rope. Can you try to climb it up to the hook?

- I can try. The soil is very dry and loose.

- Try it! I have the Jeep here. I can pull you up, if you reach the hook.

He tried to see in the dark. Soon he saw the piece of metal and had the idea of digging steps on the wall, so he could climb them up to the hanging hook. It would take him some time, but it was worth it, so he did the best he could.

It took him almost one whole hour to finally reach the hook that would take him off that “shituation”.

- I got it.

He was tired, but he knew that from then on the Jeep would do the job.

- I got you. Hold it firmly.

So he did, but it was very hard and painful. His body swung and hit the wall several times. When he finally got up to the mouth of the ravine, his friend pulled him up by the clothes and dragged him off of the border.

- Fuck, man. I thought I’ve lost you. You were so quiet.

- I think I fainted…

- Oh, man. Good to see you back.

- Let’s get out of here, please. Never to come back again.

His friend smiled slightly. He was right.

They got into the vehicle and drove down the hill. The young man was still covered in dirt and there was some blood here and there, but he seemed to be ok. He stripped off his t-shirt and tried to clean himself a bit.

- I need a shower… or more than one… urgently.

- You do indeed. Let’s stop somewhere by the river and try to clean up a bit. Then we drive back home. Enough of this nonsense, for good and forever. You need to get over it, man... for your own sake!

- I know. I just wish I could simply lie my head down on the pillow and forget about all and everything that still bring my memories back and so alive, but it’s not that simple…

- I know, my friend, I know.

***

- Is it possible to send a message to the future? Do you remember anything that it’s still there from this time now?

- I’m not sure. It’s a long time and unless it was an important landmark, it would have not survived the passing of time.

- Think about it. If there is a way, we must try.

- Why is it so important?

- It just is… Have you ever heard of a time capsule? You could benefit from that also. Think about it.

- I know what you’re talking about. I did not stay there long enough to know much or many places. But maybe…

- What?

- I know of something that could have…

- It’s worth a try, isn’t it?

- Maybe…

- Do you think it would be possible to somehow turn back time?

- If it is, it’s a very faint chance.

- But there must be a way. I know that!

- This is just crazy, man. You must stop this.

- You know that would never happen.

- I know. Well, thinking better, there is this one thing I brought from the future. Although it would the opposite operation, it might work, if we try…

- What?

- This…

- But this is just…

***

He woke up in the middle of the night. A dream. A strange dream he had.

- What if that’s true? Would that be possible? Oh, man… I’m going crazy. I wonder if he really knows something and is just too scared to give it away… But why?

He got up and went to the kitchen. His mind was a turmoil of different emotions, all wrapped up together.

- I should have forgotten all about this already. Why do I keep on reliving that situation? It’s such a dead thing.

He took a deep sip of fresh water.

- But what if he…

He wondered if a dream would be that revealing or if it was just an illusion and a desire made up by his mind to compensate for his losses and the desire of soothing his pain and sorrow away.

He whispered to himself.

- I really wish that dream would come true. It would make me feel so much more comfortable…

- What happened?

He turned around. His friend was standing by the kitchen door. Had he heard his thought spoken aloud?

- I had a dream and cannot go back to sleep.

- A bad dream?

He just took a deep breath. His friend understood the signal as soon as he did. That thing was not over yet. He noticed the sorrow in his friend’s eyes and face.

He had to do something as soon as possible…

- Let’s go!

- Where to?

- If the key to reconcile to the past is in the future, there’s only one person who can help us now!

***

sábado, 15 de dezembro de 2018

Obliviar (Parte 3: Sonho)



O repetido som de algo metálico batendo nas paredes acordou-o de um sobressalto. Estava escuro, mas olhando para cima, podia-se ver uma fenda de luz, longe ao topo. O rapaz passou as mãos pelas roupas, tentando limpar-se e, talvez, perceber se ainda estava mesmo vivo e inteiro. Seus joelhos e os dedos estavam muito doridos. Ele estava vivo. Os mortos não sentem dor. Ele quase riu daquele pensamento, mas na situação em que estava, não fazia muito sentido sorrir. 

O som voltou, repetidamente, algumas vezes. Talvez fosse seu amigo a tentar resgatá-lo daquele buraco. 

- Ei. 

Ele gritou. Sua voz parecia estranha. O eco respondeu. 

- Ei. Ei. Ei… 

Ele sussurrou, para si mesmo. 

- Estou ferrado! 

- Ei. 

Ele olhou para cima. Alguma coisa estava pendurada e balançando de um lado para o outro, batendo contra a parede, alguns metros acima de sua cabeça. 

- Estou bem. Podes baixar mais um pouco? 

- A corda já está no máximo. Podes tentar subir até o gancho? 

- Posso tentar. A terra está muito seca e solta. 

- Tenta. Tenho o Jeep aqui. Posso-te puxar para cima se alcançares o gancho. 

Ele tentou olhar à volta, naquela escuridão. Ao ver o pedaço de metal, que era antes o cano, ele resolver usá-lo para cavar degraus na parede e tentar subir até onde o gancho alcançava. Ia levar algum tempo, mas era o que podia fazer. 

Depois de cerca de uma hora, ele, finalmente, alcançou o velho gancho de metal e gritou. 

- Já está! Pode puxar! 

Ele estava cansado e dolorido, mas o Jeep faria o resto. 

- Segura firme, que eu vou puxar. 

E foi o que ele fez, apesar da dor e da dificuldade em manter-se agarrado ao seu salvador. Seu corpo foi arrastado e pendurado, batendo contra a parede da ravina algumas vezes, mas ele manteve-se firme até chegar ao topo, onde o amigo puxou-o para fora, pela roupas e arrastou-o para longe da borda. 

Num ímpeto de alegria e excitação, o rapaz deixou escapar um imprecativo. 

- Putaquepariu! Pensei que havia-te perdido de vez. Tu estavas tão quieto. 

- Acho que desmaiei. 

O amigo riu e deu-lhe um abraço desajeitado. 

- Que bom que estás de volta! 

- Vamos sair daqui o quanto antes… para nunca mais voltar. 

- Vamos! Eu te ajudo a levantar. 

Eles entraram no veículo e começaram a descer a montanha, na direção do rio. O rapaz de óculos estava todo coberto de terra, poeira e havia sangue em alguns pontos. Ele tirou a camiseta e tentou bater a poeira das roupas e do corpo com ela. 

- Preciso de um duche, urgentemente. Ou mais de um. 

- Com certeza. Vamos parar no rio e tentar limpar um pouco. Depois vamos direto para casa. Chega desta loucura, de uma vez por todas. Tens que ultrapassar isso, amigo, para o teu próprio bem. 

- Eu sei. Eu gostaria somente de deitar minha cabeça no travesseiro e esquecer de tudo que ainda estas recordações tão vivas, à minha memória, mas não é tão simples… 

- Eu sei, amigo, eu sei. 

*** 

- É possível enviar uma mensagem ao futuro? Tu lembras de algo que ainda esteja lá e que pertença à esta era de agora? 

- Não tenho certeza. É muito tempo e, a menos que seja um marco importante, não poderia ter sobrevivido o passar dos tempos. 

- Pensa nisso! Se houver algo, nós temos que tentar. 

- Por que é tão importante assim? 

- Porque é. Já ouviste falar de cápsula do tempo? Tu também poder-te-ias beneficiar de uma. Pensa nisso. 

- Eu sei do que falas. Mas eu não vivi lá tempo suficiente para ver muitas coisas ou lugares. Talvez... 

- O quê? 

- Talvez algo possa haver algo… 

- Vale a pena, não vale? 

- Talvez. 

- Achas que podemos voltar no tempo? 

- Se pudermos, pode ser uma hipótese muito vaga. 

- Mas tem de haver uma saída. Sei que tem! 

- Isso é loucura. Tu tens que parar com isso. 

- Sabes que isso nunca vai acontecer. 

- Eu sei. Mas pensando bem, há uma coisa que eu trouxe comigo, do futuro. Embora seja o oposto do que devia ser, pode funcionar, se tentarmos. 

- E o que é? 

- Isso… 

- Mas isso é só… 

*** 

Ele acordou no meio da noite. Um sonho. Aquele havia sido um sonho muito estranho. 

- E se for, mesmo, verdade? Seria possível? Oh, meu Deus! Acho que estou ficando louco. Será que ele sabe mais do que diz e está com medo de contar a verdade? Por qual razão? 

O rapaz levantou-se e foi até a cozinha. Sua cabeça estava um turbilhão confuso de emoções contraditórias e diferentes, todas misturadas num novelo só. 

- Eu já devia ter esquecido tudo isso. Por que é que eu fico sempre a reviver aquela situação, o tempo todo? É uma coisa tão ultrapassada… tão morta! 

Tomou um largo gole de água fresca. 

- Mas, e se ele… 

Ele se perguntou se um sonho poderia ser assim revelador, ou se era apenas uma ilusão criada por sua mente, para compensar as perdas e o desejo de ultrapassar a nostalgia e a dor. 

Ele falou baixinho, para si mesmo. 

- Gostaria que o meu sonho fosse realidade. Far-me-ia sentir tão melhor e mais confortável… 

- O que aconteceu? 

O rapaz virou-se. Seu amigo estava de pé, na soleira da porta da cozinha. Teria ele ouvido seu pensamento dito em voz alta? 

- Tive um sonho e não consigo voltar a dormir. 

- Um sonho ruim? 

Ele inalou o ar, devagar e profundamente, num longo suspiro. O amigo percebeu, logo, o que estava acontecendo. Aquilo ainda não estava ultrapassado. Ele percebeu o olhar pesado e triste do amigo. 

Precisava fazer algo, o quanto antes… 

- Vamos! 

- Para onde? 

- Se a chave para fazer as pazes com o passado, está no futuro, somente uma pessoa nos pode ajudar! 

***

sábado, 8 de dezembro de 2018

Oblivion (Part 2: Going Back)


- No. It’s impossible!

- Read it again, please. Try to read between the lines. It’s small, its surface is reflective, and it has not been detected by the telescopes until it was too close, but too fast to be followed by the cameras in the satellites… Look at the picture. Don’t you think it is…?

- Stop it. That can’t be anything from an alien planet…

- But it can be from our planet, in another era, ahead of this time, can’t it?

- You’re trying to confuse me.

- I’m just trying to find a way, a theory, a response, a way out…

- You know I’m not a scientist. How many times do I need to remind you of this?

- You’re made of the best genetic material there was… there is… there will be… Oh, man... How can I put it right?

- Just don’t.

- Think with me. Try to think as a scientist, please. You’ve survived because you’re one of the most skilled and prepared beings. Just use your brain in a practical way.

- I survived because I was sent back in time a few seconds before the explosion… And I was not the only one, as you know.

- Think! Please?

That man with very pale skin looked very seriously at the young men in front of him and spoke his heart.

- In the era where I came from there were no such types of transports. We used to travel using time-transport terminals, which were a lot more efficient. The only vehicle I was introduced to was the one that brought me here when the planet exploded and that was absolutely outdated, but still efficient for the purpose. The man who destroyed the planed used it so not to be detected by the system which monitored the terminals. The capsule was sent to the past through a slit deliberately opened in time, by him, at the moment of the explosion. That would never have the format of your ‘Oumuamua’ thing. It might have come from the past, not the future and it’s been probably travelling for many hundred, maybe thousands of years…

- Then you agree that it is from another planet.

- I don’t agree or disagree with anything. We have very little information about it to conclude anything with a good accuracy. All we have are theories. What I said was that it did not come from the same place and time I came from...
 
The pale man looked to the two young soldiers. His eyes were showing a kind of deep sadness when he completed the sentence.

- …And to where and when I will never come back again. The only way to get in touch with the future is if someone in the future wants to get in contact with us, here in the past. There is no other way. And we know that is not possible anymore. That future is not there, anymore, anyway…

***

- I told you to stop this nonsense.

- I know. But there was a chance, anyway. And now, what?

- Now we go back to our normal lives, as usual. Let the past stay where it belongs to.

- Perhaps there is another way…

- Don’t start with this again.

The two young men looked at each other’s faces. The one wearing glasses had a distant expression and a funny grin decorating his young face.

***

- What? Didn’t you have enough of this yet? Why do you want to go back there?

- I have to. I would like you to come with me, if you don’t mind.

- I do mind, of course, but I will. That area is still forbidden, you know. Hope we don’t get in trouble.

- Nobody will ever know we’d been there.

- Anyway, we better take care. I’m sure that site is still being monitored somehow.

- We will be OK.

- Yeah. Right.

***

The young soldier wearing glasses seemed to be so far away, in the middle of the immense desolation field that their childhood village turned into, after the explosion. His eyes were filled with tears of sadness and homesickness.

The other soldier looked around in silence. He was not as distracted as his friend, but was also filled with childhood memories, when they used to play from there to the river or when they climbed the mountain and camped up there, on their summer holidays.

It was weird to be there, in the middle of what used to be their homes, watching the empty desert that land had become. The mountain was just a hill now and there was an immense crater, where the nuclear base used to be. The base disappeared completely underneath the dry and sterile soil. The desolation of the place was an evidence that it still kept radioactive activity, which kept any and every thing from growing healthy from that earth. The soldiers had taken precautions, but they knew they could not stay in that place for long, for obvious reasons.

- We’ve got to go now. There is nothing else in here that we can still see. As expected, all’s gone.

- OK. Let’s go. Could we go to the mountain before we leave for good?

- What for?

- It was over there where it all happened. I think I need to go there and resolve the situation in my head. Not all’s gone yet, you know.

- I don’t really like this, but it’s OK. We need to be quick, however.

They drove the Jeep up to the mountain through the old road to the base. Almost at the summit, they had to stop where the earth split open as a large crack, impeding them to go any further. They’d hopped off the vehicle and walked along the side of the crevice, trying to find a place where they could cross over to the other side. The opening was deep and large. They would have to jump over, if they could find a place where the distance was short enough for them to do so.

They finally got to a spot, south-eastern of the main base, where the two sides of the crack seemed to be closer to each other and decided that would be the right place to try and jump over to the other side. The young man wearing glasses ran and crossed over the open mouth of the mountain. His friend followed him. They’d climbed up to the border of the crater, which was deep and about eighty meters in diameter. The nuclear base was totally buried in the dry ground. There was no sign of what was before, for the ones who did not know the place, but not for them.

- There is nothing here anymore, as you can see. Funny how different this is now. Everything is dead buried underneath this sterile soil, just like the past now. We really have to go now. It’s too risky to be here for long.

The young man wearing glasses looked around, took a deep breath and sighed.

- Yeah.

The two friends got back their way down to the place where they could cross back again to where the Jeep was. The first one jumped over to the other side. When he hit the ground, he felt the earth quailed underneath his feet. He turned around and saw the horror on his friend’s face.

- Quick! Jump over here!

The soldier wearing glasses did as he was told to, but the earth quaked again and the crack started opening more apart. He lost his balance and fell slowly into the slit. He tried to hold on to something on the way but the earth was very dry and loose and he could not avoid sliding down.

- Oh, no! Not again!

- Hold on. Try to find something to hold on to while I get the hook and the rope we have in the Jeep.

The young man wearing glasses did not respond. He just looked down and tried to find anything that would make him stop sliding down, but that crack seemed to be hungry with its open mouth ready to slowly swallow him down its throat.

He did not shout. He just tried to stop the descending by using his fingers and feet, but all he got was more than just some scratches. He saw a kind of a metal tube hanging from the side of the wall and tried to move his body towards it. He turned around, lost his grip from the collapsing ground and jumped over the tube, which got off free from the wall and fell down with him into the deep and dark void.

***

sábado, 1 de dezembro de 2018

Obliviar (Parte 2: A Volta)


- É impossível!

- Leia outra vez. Tente ler nas entrelinhas. É pequeno, a superfície é reflectora e não pode ser detectado pelos telescópios, até o momento em que estava muito perto, mas também muito rápido para ser seguido pelas câmaras dos satélites… Olhe a figura. Não achas que…?

- Pode parar! Não acho nada! Aquilo não pode ter vindo de um planeta alienígena…

- Mas pode ter vindo do nosso planeta, duma outra era, muito adiante do nosso tempo, não pode?

- Começas a confundir-me.

- Estou a tentar achar um jeito, uma teoria, uma resposta, uma saída…

- Tu sabes que eu não sou um cientista. Quantas vezes preciso lembrar-te disso?

- Tu és feito do melhor material genético que já houve… que há… que haverá… Nunca pensei que isso iria ser tão difícil de ser colocado numa conversa.

- Não tente. Desista.

 - Pensa comigo. Tente pensar como um cientista. Tu sobreviveste porque tu és um dos seres mais preparados e habilitados. Usa teu cérebro da maneira mais prática que houver.

- Eu sobrevivi, porque fui enviado ao passado, uns pouquíssimos segundos antes da explosão. E eu não fui o único, como vocês já sabem.

- Pensa comigo! Por favor?

Aquele homem de pele pálida olhou muito seriamente para os dois jovens soldados e falou o que passava na sua mente.

- Na era de onde eu vim não havia aquele tipo de transportes. Nós viajávamos usando terminais de transporte tempo-espaço, que eram mais eficientes. O único veículo que eu conheci foi aquele que me trouxe para cá, quando o planeta explodiu. Era antiquado, mas eficiente para o propósito, pois não usava os terminais e não seria detectado pelo sistema, nem colocaria em causa a operação que o homem, que destruiu o planeta, planeou. Foi enviado ao passado através de uma fenda deliberadamente aberta no tempo, por ele, no momento da explosão. A cápsula nunca poderia ser comparada ao vosso “Oumuamua”. Este poderia ter vindo do passado, não do futuro e deve provavelmente estar a viajar por centenas, talvez até milhares de anos.

- Então tu concordas que tenha vindo de outro planeta.

- Eu não concordo, nem discordo. Nós temos muito pouca informação sobre ele, quase nada além de teorias, para tirar conclusões. Se nem os cientistas mais especializados conseguem ter certeza de nada, imagina se eu ia poder. O que é certo, e que eu quis dizer foi que não veio do mesmo tempo e espaço de onde eu vim…

O homem de pele pálida encarou os dois jovens soldados. Seus olhos mostravam uma tristeza nostálgica profunda, quando concluiu a frase.

- …E para onde eu nunca vou poder voltar. A única forma de entrar em contacto com o futuro seria se alguém de lá quisesse entrar em contacto com o passado. Não há outra forma. E nós sabemos que isso já não é mais possível.

***

- Eu te disse para parar com esta besteira.

- Eu sei. Mas era uma hipótese a ser considerada. E agora?

- Agora voltamos para nossas vidas, como sempre. Deixemos o passado lá onde ele pertence.

- Talvez haja ainda uma forma…

- Não recomeces!

Os dois se olharam. O rapaz de óculos tinha uma expressão distante e um leve sorriso a esboçar-se, discretamente, na face jovem e jovial.

***

- O quê? Por que tu ainda queres voltar para lá? Ainda não basta disto?

- Eu tenho que voltar lá. Eu gostaria que tu viesses comigo, se não te importares.

- Claro que eu me importo, mas vou contigo, sim. Aquela área ainda é proibida. Sabes muito bem disso. Só espero que não entremos numa fria.

- Ninguém vai saber que estivemos lá, de toda forma.

- Bom, é melhor termos cuidado, mesmo assim. Tenho certeza que está sendo monitorizada de alguma forma.

- Vai dar tudo certo.

- Ah. Tá…

***

O rapaz de óculos parecia estar tão distante, no meio da desolação daquele campo imenso em que se tornou a vila, onde moravam, antes da grande explosão. Seus olhos estavam cheios de lágrimas de nostalgia.

O outro olhava à volta, não tão absorto, mas também envolvido em suas memórias de infância, quando brincavam da redondeza até o riacho, ou subiam a montanha e acampavam por lá, nas férias de verão.

Era estranho estarem ali, no meio do que havia sido seus lares, contemplando o vazio e o deserto que a terra havia-se transformado. A montanha virara um monte, apenas, com uma enorme cratera, aberta onde havia sido a base nuclear, agora completamente soterrada e inactiva. A desolação do local mostrava que havia, ainda, actividade radioactiva, o que impedia qualquer coisa de crescer por ali. Os soldados haviam tomado as precauções, mas sabiam que não podiam ficar no local por muito pouco tempo, por razões mais que óbvias.

- Temos que ir. Já não há nada que ainda possamos ver. Como era de se esperar, não sobrou nada para contar a história…foi-se tudo…

- OK. Vamos embora. Podíamos ir até a montanha, antes de irmos de vez?

- Para quê?

- Foi lá que tudo aconteceu. Acho que preciso ir até lá e resolver isso tudo na minha cabeça. Sinto que nem tudo foi-se…ainda…

- Eu não gosto disso, mas OK. Se é para ir, vamos logo. Temos que nos apressar.

Subiram pela antiga estrada que levava à base, até quase a cratera, quando uma grande fenda na estrada os impediu de passar. Os dois saltaram do Jeep e começaram a caminhar, tentando contornar a grande rachadura e achar um lugar onde pudessem atravessar. A fenda ainda era muito profunda e larga. Eles teriam que saltar para o outro lado, onde a distância não fosse tão grande.

Quase no topo, a sudeste da base principal, onde os dois lados do barranco pareciam mais próximos, o rapaz de óculos tomou impulso e saltou para o outro lado. O amigo fez o mesmo. Chegaram à borda da cratera, que era profunda e tinha diâmetro de, pelo menos, uns oitenta metros. A base estava totalmente soterrada. Não havia vestígio aparente do que havia sido antes, para quem desconhecesse o local, mas não para eles.

- Não há mais nada aqui, como vês. Nem parece o que já foi, há tempos. Está tudo soterrado em baixo desta terra estéril, assim como o passado. Temos que ir embora. É arriscado ficar muito tempo aqui.

O rapaz de óculos deu um longo suspiro.

- OK. Vamos.

Os dois começaram a descer, até onde haviam saltado. O primeiro fez impulso e saltou. Quando seus pés bateram firmes no chão, do outro lado, sentiu que a terra tremeu sob eles. Olhou para trás e viu a cara de pavor do rapaz de óculos.

- Salta! Depressa!

Ele saltou, mas quando tocou o outro lado, a terra tremeu novamente e a fenda cedeu um pouco. Ele perdeu o equilíbrio e começou a escorregar para dentro da enorme rachadura, lentamente, junto com a terra seca e solta, sem poder agarrar-se a nada.

- Oh, não! Não outra vez!

- Aguenta firme. Tenta achar uma raiz, ou coisa que o valha, para agarrar-te, que eu vou buscar o gancho e a corda do Jeep.

O rapaz de óculos não respondeu. Apenas olhou para baixo, tentando localizar qualquer coisa que o fizesse parar de descer, mas a fenda parecia abrir uma enorme boca e tentar engoli-lo lentamente.

Ele não gritou. Tentou parar, usando os dedos das mãos e os pés, mas não conseguiu mais que esfolar-se todo. Ele avistou o que parecia ser o resto de uma tubulação metálica e tentou dirigir sua rota para aquela saída. Seu corpo escorregava mais rápido e ele virou-se, tomou impulso e saltou sobre o tal tubo.

Foi, então, que aquilo, que era apenas um pedaço do que poderia ter sido um velho encanamento, desprendeu-se da parede de terra seca e começou a cair, junto com ele, para o fundo escuro do largo buraco.

***