Κι αν ρωτήσεις πώς περνάω … (E se
me perguntares como estou
θα σου πω δυο ψέματα
Eu vou-te dizer duas mentiras
ένα πως δε σ' αγαπάω Uma: que eu não te amo
κι ένα πως σε ξέχασα (**) E
a outra: que eu já te esqueci) …
(**)
Dyo Psemata (δυο ψέματα): Antonis Remos
- Ainda lembras?
- Claro que sim. Algumas coisas não podem ser, simplesmente, apagadas da
memória.
- Pois não.
- A canção estava tão certa…
- Contra o que havia desejado. Eu sinto muito.
- Por quê?
Ele me olhou, como se fosse
fazer a maior revelação da sua vida, mas não emitiu nenhum som. A oportunidade
era aquela e, se fosse perdida, não haveria outra. Ele baixou os olhos.
Eu balancei a cabeça, num
gesto de desânimo e frustração, levantei-me, atravessei a varanda e fui para a
praia. Estava bastante desiludido.
De frente para o mar, eu me
sentia pequeno demais e aquela imensidão era intimidante. O conflito interno
era tão ou mais assustador que tudo à minha volta, todavia. Eu nem sabia se
sentia ódio, ou vontade de matar a saudade com um longo abraço apertado, mas
diante daquela falta de ação, eu decidi que não tinha que alimentar falsas expectativas.
Talvez aquela história já tivesse ido longe demais e acabado, afinal, apesar de
minhas malnutridas esperanças.
Fechei os olhos e respirei
fundo. Aquele ar salino me fazia tão bem. Eu quase ia ao passado buscar boas
memórias, para alimentar minha alma dorida.
Num lampejo de consciência,
reconheci que só o fato de estar ali, vivo, já era suficientemente bom, apesar
de todas as circunstâncias. Minha filha era meu maior bem; um bem maior que
minha própria vida. Não era justo sentir menos que gratidão pelo que eu havia
feito e plantado e pelos frutos que havia colhido.
Dei um longo suspiro e voltei-me.
Tinha que cuidar da minha vida…
***
A noite estava agradável. A
porta que dava para a varanda estava aberta e uma suave brisa soprava pela
casa. Eu sentei-me ao piano e comecei a cantarolar a mesma canção, que tanto
mexia comigo. Desta vez, eu estava redimido. Aquela tristeza na alma era uma
velha companheira, mas já não tinha o poder de outrora.
Ela sentou-se ao meu lado e
acompanhou-me nos vocais.
…” They
say that love can move a mountain
They say love can break your heart
They say love can make you forget
Things that happened in the past
They say love can break your heart
They say love can make you forget
Things that happened in the past
For I've tasted your love and
I need to taste some more
So wave goodbye to heaven for me
I've thrown it all away
Just to spend one more night with you”… (*)
I need to taste some more
So wave goodbye to heaven for me
I've thrown it all away
Just to spend one more night with you”… (*)
(*) One more night with
you: Ged McMahon
- Continuo a achar que é um bocado triste.
- E é.
Mas eu não quero reclamar. Não é justo.
Ela deitou a cabeça no meu
ombro, enquanto eu continuei a dedilhar as teclas, tão de leve, que parecia
acariciá-las, respeitosamente. Senti uma angústia subir até minha garganta e não
consegui mais falar… ou cantar… nem pude refrear as lágrimas, que caíram livres
pelo meu rosto, enquanto meu corpo estremecia por inteiro, como se estivesse em
convulsões.
Ela me abraçou e, com a
cabeça enterrada no meu peito, chorou junto comigo, ali, no meio da sala de
estar.
***
O sol da tarde estava mesmo
agradável, naquele dia de início de primavera. Não ventava, mas uma leve brisa
vinha do mar, trazendo aquele ar salino e iodado para mais perto de onde eu
estava. Estiquei as pernas e fechei os olhos, pensando que devia estar sentindo
falta de fazer minha fotossíntese. A bebé dormia na cadeirinha ao meu lado,
devidamente protegida do vento e do sol.
Uma nuvem deve ter passado
na frente do sol, pois senti que já não estava tão claro. Abri os olhos e vi
que aquilo que pensava ser uma nuvem, nada mais era que a silhueta de um homem, que
havia-se posicionado entre o sol e eu.
- Desculpe.
- O quê?
- Não quis importunar, mas o bebé acordou e estava a mexer-se, por isso
achei que devia verificar. Pensei que havia adormecido… Quer que eu traga
alguma coisa?
A menina estava apenas a
olhar-me com seus olhos esverdeados, mas não chorava. Eu devia ter, realmente,
adormecido, pois, normalmente, ouvia quando ela acordava. Devia estar mesmo
cansado… Ou relaxara tão profundamente…
- Ah. Não. Obrigado.
Eu levantei-me e procurei a
mamadeira com água, dentro da bolsa. A bolsa havia ficado ao sol e a água
estava meio morna.
- Acho que vou precisar de uma garrafinha de água fresca, por favor.
Esta já passou da temperatura aceitável.
- Vou pedir para trazerem. Quer um café também?
- Bem pensado. Acho que preciso
de um, na verdade.
Às vezes eu me perguntava
por qual razão ele era gentil comigo, até um pouco além do esperado por um
cliente normal. Era agradável, mas eu não era muito habituado a aquele tipo de
coisas.
A moça trouxe a água e duas chávenas
de café, que pousou sobre a mesa. Eu olhei com aquele ar inquisidor, mas logo
percebi. O gerente veio e sentou-se comigo, sem muita cerimónia e disse:
- Espero que não se importe que eu sente aqui, por um momento.
- Claro que não. Fique à vontade.
- Eu adoro esta hora do dia. Não só pela tranquilidade, mas pela luz e
pelas cores. É como se o mundo desse uma trégua e parasse de girar por uns
momentos, para que a gente pudesse, simplesmente, apreciar um bom café.
Eu olhei para ele, admirado,
não só pela leveza e poesia do que ele dissera, mas pela forma com que se
expressara, tão fluentemente e à vontade.
Ele riu.
- O que foi? Disse alguma asneira?
- Não. Ao contrário. Foi muito bem colocado.
- Então?
- Não esperava. Só isso.
Ele fingiu que não se sentiu
satisfeito por haver-me surpreendido e tomou seu café, calmamente, a olhar o mar,
que parecia espreguiçar-se sobre a fina areia branca. Eu fingi que estava
somente a cuidar da menina, mas observei um leve sorriso, na sua face tranquila.
- Posso fazer uma pergunta?
Ele riu.
- Pode. Mas não prometo responder.
Ele usava minha fala. Que
esperto!
- Por que me trata assim?
- Assim como?
- Com esta gentileza e com um tanto de familiaridade, sem ser,
necessariamente, íntimo. Eu sou apenas um cliente.
- Talvez não. Eu sou um homem habituado a viver sozinho e reconheço
quando vejo uma pessoa com as mesmas características. Está sempre aqui sozinho,
com a menina, mas nunca entre amigos. Não se sente só?
- Nunca. Acho que sempre fui assim, introvertido e ocupado com minhas
coisas, ao invés de pessoas.
- Eu compreendo. Não sente falta de ter alguém?
Fugi à questão.
- Eu tenho alguém. E ela é adorável.
Ele riu, fazendo um muxoxo.
Percebeu que eu fugia à conversa.
- Pois eu sinto. Embora nunca tenha sido homem de longos
relacionamentos, sinto falta de alguém.
- Curioso. Nunca falamos sobre isto.
- Eu sei. É uma demonstração de confiança, não é?
- Acho que sim. Mas por que não?
- Acho que eu demoro para acreditar nas pessoas. Passei por algumas
situações, que me fizeram perder a confiança…
A frase ficou assim, meio no
ar, meio incompleta, meio a deixar azo para que se imaginasse tantas situações…
- Acho que eu também. Somos parecidos nisso.
- Vejo que sim. Que dois!
Ele levantou a chávena de
café e disse, com um sorriso e um piscar de olhos:
- Aos solitários!
- Aos solitários!
Tive a impressão que só
naquele momento percebi que havia música vinda dos dois pequenos altifalantes,
alocados na parte de cima da varanda. Era uma canção conhecida minha. Eu
cantarolei o pedacinho do refrão.
Κι αν ρωτήσεις πώς περνάω (Ki an ro̱tí̱seis pó̱s
pernáo̱) (E se me perguntares como estou
θα σου πω δυο ψέματα (ha sou po̱ dyo
psémata) Eu vou-te dizer duas mentiras
ένα πως δε σ' αγαπάω (éna po̱s de s '
agapáo̱) Uma: que eu não te amo
κι ένα πως σε ξέχασα (*) (ki éna po̱s se xéchasa) E a outra: que eu já te esqueci)
(**)
Dyo Psemata (δυο ψέματα): Antonis Remos
- Conheces esta canção?
- Claro. Mas não esperava ouvi-la aqui. É uma antiga canção grega…
- Sabes o significado, não sabes?
- Por acaso, sei. É um tanto triste, não é?
Ele me olhou, sério. Fui
pego de surpresa com a afirmação que fez, a seguir.
- É. Mas uma coisa destas não gostaria, jamais, que acontecesse connosco…
***
A terceira parte da história com um pouco mais de esclarecimentos. A relação entre pai e filha e, também...
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