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domingo, 15 de outubro de 2017

O Décimo-Terceiro (Epílogo)


Uma estrela e dois pequenos planetas podiam ser vistos no céu, pela janela da Sala do Conselho, no Edifício Principal. Um homem sozinho contempla, sério e pensativo, a imensa escuridão, decorada com minúsculos pontículos de luz, brilhando no lado de fora, alheios ao seu pesar.

“Este mundo já está condenado pela mesmice e pela rotina. Vive-se por tempo longo demais, mas não é necessariamente uma existência com prazer. Não há um real objectivo em viver longamente, preservar a espécie, ou até mesmo o planeta. Se houvesse um acidente que destruísse esta civilização, que diferença o universo iria sentir? Qual a diferença que o passado poderia fazer? E se o tal acidente for em algum lugar do passado, antes mesmo da grande destruição? Será que fará mesmo alguma diferença?

Aqui, neste momento, não há nada que possa nos dar qualquer razão para orgulho ou para querermos viver. A existência é vazia. É tudo muito cinza e sem beleza. Não existem sentimentos. Para que manter essa coisa a funcionar?”

***

- Chega de ser mais um experimento. Chega de servir de cobaia para a criação de uma vacina estéril. Eu já não quero ser mudado. É isso que me faz um ser único, no meio desta multidão de iguais.

- Mas a mutação está bastante acelerada. Tuas costas estão cobertas destas manchas negras e brancas, que já se espalham pelo resto do corpo e tuas defesas estão em baixa. Não vais resistir muito tempo.

- É uma opção minha.

- Tu não tens esta opção, pelas regras… Nenhum clone tem… nestas circunstâncias…

- Eu sou David, o Décimo-Terceiro… Se as coisas tivessem sido diferentes, eu seria escolhido para ser o próximo Supremo, por ser mais forte e resistente, ou para viajar pelo Universo. Agora sou apenas uma aberração. É melhor deixar que a vida siga seu curso normal. … e vou viver com isso… enquanto for possível…

- O que pode ser por muito pouco tempo, agora.

- Que seja. A vacina não funciona, de qualquer maneira.

***

- Nós vivemos num complexo de planetas, que gira em torno de uma pequena estrela, que possui luz natural limitada, mas mantém o sistema a funcionar equilibradamente. A órbita do planeta em torno de si mesmo ocorre por um período menos longo que na terra, por razões óbvias. O tempo passou, então, a ter um conceito diferente. Como o dia tem menos horas, a contagem dos anos é, portanto, diferente. O controlo da vida neste sistema de planetas pertence a um grupo de cientistas, que formam uma elite intelectual.

- Por que usam a contagem dos anos como A.D.?

- Porque os fundadores quiseram homenagear a Terra, o planeta de onde vieram, originalmente.

- E para que servem os clones, afinal?

- Este pequeno planeta fica ao centro de um grupo de outros planetóides de menor tamanho, cada qual com sua própria particularidade. O que o faz habitável é a característica única e pouco comum de possuir oxigénio, embora em quantidade muito menor que no planeta Terra. O elemento, vital para vida humana, é tratado, filtrado e usado dentro das estruturas protegidas, que chamamos de Estações. Esta característica não é a única coisa que temos em comum com o nosso distante antecessor da outra galáxia. Um manancial de líquido, com composição semelhante à da água, que corre por rios subterrâneos, é colhido, reprocessado e transformado em água potável e, então, disponibilizada aos habitantes, de forma natural. Mas estamos a enfrentar um novo problema: o manancial é limitado e está escasseando rapidamente. Equipas de pesquisa já foram enviadas em busca de alternativas, pela galáxia, mas até agora, nada real. Estas pequenas equipas, são, na sua maioria, compostas por clones seleccionados e treinados especialmente para isso. Uma unidade robótica avançada acompanha a tripulação de cada nave que parte. No momento, temos umas poucas, porque não conseguimos criar clones em quantidades suficientes.

- A clonagem é, na verdade, uma realidade e é inevitável, sendo praticamente a única forma de reprodução, neste momento. O processo é interrompido, a partir do momento em que verificamos que a resistência do corpo a qualquer tipo de problemas, físicos ou mentais, está praticamente garantida. Depois de aplicada a vacina, deixa-se que algumas características amadureçam sozinhas, formando indivíduos diferentes, dentro dos casulos, como crisálidas, nas incubadoras. Não usamos úteros humanos. Nem todos chegam ao fim do processo e sobrevivem, porque a vacina é bastante agressiva, mas é necessário que assim seja. Quando estão prontos, os mais fortes são seleccionados e reportados ao Supremo, que os inspecciona, juntamente com o Conselho, para mandá-los para o Edifício Principal. O planeta é habitado por uma raça única, que fala uma língua única. Os novos humanos são praticamente desprovidos de pelos, tendo sua caixa craniana aumentado em tamanho e seus corpos diminuído em proporção. Depois de bem treinados, farão parte das equipas seleccionadas pelo Conselho, para explorar a galáxia. Os outros, de uma linhagem mais regular, porém resistente, são enviados para a produção de Oxigénio. A densidade demográfica é mantida sob estrito controlo. Os nossos recursos são limitados, por isso temos que usá-los com eficácia.

- Isso é incrível. E tudo começou com base na minha pesquisa, num passado tão remoto…

O chefe dos cientistas riu, meio sem graça. O homem parecia não ter plena consciência da importância que sua pesquisa teve no desenvolver daquela raça, que representava, de uma forma ou de outra, o futuro da humanidade. Não se podia condená-lo, afinal, levando-se em consideração que mais de vinte e cinco séculos se haviam passado desde então.

- Sim, doutor. Tudo isso com base na sua preciosa pesquisa… num passado remoto e num planeta um bocado diferente deste.

***

- Leona! Preciso que vocês venham até o laboratório imediatamente. Aconteceu uma coisa muito estranha.

- Que coisa?

- Melhor virem ver… eu não sei o que dizer…

Ao chegarem constataram que o laboratório estava vazio, exceto por uma Monarca, pousada na parede.

- Como isso veio parar aqui?

Leona riu.

- Eu não sei, ao certo, mas tenho uma ideia de onde possa ter vindo… Um certo clone… que viajou ao passado e que se encantou com uma revoada de borboletas…

***

- O surto está incontrolável. Os clones perecem muito rapidamente e a linha já não dá conta de produzi-los, para suprir as necessidades, devido ao período de incubação. A continuação da vida está condenada.

- Tive uma ideia. Ainda temos a Monarca connosco?

- Sim. Mas para que serve uma borboleta, agora?

- Foi como o estudo começou. Talvez tenhamos uma hipótese…. Vamos ter que recomeçar o processo todo. Isolamos o ADN e produzimos uma nova vacina. A original não funciona mesmo. Temos que começar do nada. Houve alguma coisa neste meio tempo, que deixou de funcionar e não temos mais tempo para tentar reparar. Temos que fazer tudo novo.

- Deixemos de tentar recuperar o irrecuperável e fazer tudo, do começo, outra vez.

- OK. Mas pode levar muito tempo, até conseguirmos chegar ao ponto em que estávamos, antes do incidente.

- Talvez. Pelo menos saberemos o que fazer…

***

O Supremo olhava para as manchas negras e brancas a cobrir seu corpo magro e pálido. Elas pareciam cobertas de uma densa camada de pelos, muito suaves ao toque. Sentiu uma pontada de dor na cabeça. Sabia que suas defesas estavam comprometidas, por consequência da anomalia e por já não tomar as vacinas.

Ele suspirou e olhou para o céu daquele planeta desolado, tão insignificante, no meio do infindo Universo, tão pouco conhecido, apesar de todas as evoluções, após o Caos Primeiro, e decidiu que estava em tempo de tomar uma decisão radical.

“Não era isso que eu queria. Eles estão muito perto de chegar à uma solução. Se desconfiarem de alguma coisa, vão-se voltar contra mim. Mas nunca vou deixar que eles saibam o que eu fiz. Agora vou ter que dar um jeito, em definitivo, nesta situação, antes que seja tarde demais.”

Programou o computador principal, que comandava todas as unidades, para duas acções. A destruição era absolutamente necessária. Concluiu o comando e sentou-se, relaxadamente, como nunca havia feito, desde que se havia tornado o Supremo.

“Genocídio e suicídio. Fiz bem em sabotar a produção das vacinas, desde que descobri que a anomalia podia ser uma grande oportunidade, para o extermínio desta raça. Isso tudo vai parecer um acidente, mas para quem terei que explicar algo, afinal? Não sobrará nada! Que grande plano!”

Ele fechou os olhos e esperou. Em poucos segundos, o planeta implodia e, em seguida, explodia completamente, numa sequência predeterminada, tonando-se uma imensa nuvem de detritos, já desprovida de qualquer sinal de vida, viajando em alta velocidade pelo espaço, em todas as direcções.

Uma cápsula solitária vagava, à deriva, não muito distante de onde o asteróide existia, poucos momentos antes. Em seu interior, um tubo de metal trazia informações preciosas sobre uma raça de humanóides, que viveu em um pequeno e árido planeta e que deixara de existir. A cápsula é lançada, juntamente com os detritos do planeta destruído, pelo vazio silencioso e escuro do espaço, sendo puxada para dentro de uma fenda no meio do caos, em meio a um clarão e, a seguir, desaparecendo completamente.

***

Numa praia quase deserta, dois rapazes caminhavam lado a lado, cada um com uma lata de cerveja na mão e conversando tranquilamente. Um clarão riscou o céu, vindo da frente deles, chamando-lhes a atenção, especialmente porque o céu parecia limpo, estrelado e sem previsão de chuva. O som de algo grande, caindo no mar, bem atrás de onde vinham, fê-los parar e voltar.

O estranho objecto metálico boiava na água salgada, balançando ao sabor das ondas, ainda fumegando.

Era um dia quente de Verão, no Anno Domini 2018.


***

sábado, 23 de agosto de 2014

Um Lance de Mestre (Parte 2: Estranhos)


Da penumbra da escada onde estava escondido, o homem podia observar bem o que acontecia no piso térreo, mas ao mesmo tempo tinha dúvidas se estava mesmo a ver ou se estaria imaginando coisas.

O velho homenzinho estava de pé, próximo a uma porta quase imperceptível, quase camuflada, na parede oposta à saída principal,  por trás do lance de escadas, onde o outro espreitava, com interesse e espanto. Ele, então, levantou a machadinha à altura do rosto e segurou-a, concentradamente, próximo à boca.

Em seguida, abriu a boca, que alargou-se enormemente, como o homem nunca havia visto ninguém fazer antes, abocanhou a lâmina da machadinha, por completo e, quando retirou-a, aquela estava limpa, já sem nenhum sinal do inseto que nela jazia há poucos segundos atrás.

- (Que diabos está acontecendo ali? Como é que ele conseguiu fazer... Aquilo não pode ser nada normal...)

O homem deixou aquela reflexão formar-se em silêncio e sufocou sua admiração, tentando não gritar, mas deixou escapulir um som abafado. O estranho levantou a cabeça e olhou para onde ele estava semiescondido, mas já não incógnito.

Ele saiu da sombra da escada e deixou-se ser visto, sem falar nada. O homenzinho, então, disse, sorrindo e com um genuíno ar benevolente, ao perceber que o outro parecia bastante perplexo:

- Ah! Eu sentia que não estava sozinho...

Mas o homem teve um certo medo do estranho homenzinho, que tinha uma característica tão incomum. As coisas não estavam correndo muito bem para o seu lado. Sem saber o que dizer, ele desculpou-se, mais por temor do que por educação.

- Eu sinto muito. Não quis ser indiscreto. O que vi, foi, realmente, um acidente...

- Não te preocupes. Não há realmente um problema em conheceres o meu segredo!

Aparentemente o velho não estava nada preocupado em haver-se revelado ao estranho que o mirava, sem realmente compreender. O que aquela aparente tranquilidade significava, entretanto, o homem de cabelos castanhos não sabia exatamente. Começava a desconfiar que podia não ser nada bom para si.

Secretamente, lá no fundo de sua mente, o homem perguntou-se que novo personagem seria aquele.

- (Que tipo de criatura seria aquele homenzinho estranho? Será que estava imaginando coisas? Teria sido, de alguma maneira, o efeito do vinho?... E eu nem bebi mais que uma taça daquele vinho verde, nem sinto-me minimamente bêbado...).

O velho ainda sorria, olhando para ele, com ar interessado e, provavelmente, ainda a estudar as suas reações.

Um ruído, vindo do topo da escada, porém, desviou-lhe os pensamentos e a atenção da cena ainda a desenrolar-se à sua frente. Alguém, com passos bastante pesados, começava a descer o primeiro lance de degraus. O homenzinho olhou o outro e disse, com a voz calma e baixa, mas em tom de aviso, antes de sair pela porta lateral, quase escondida por trás de uma pilha de barricas.

- Tome bastante cuidado... tenha muito cuidado mesmo! Eles não são, definitivamente, o que parecem ser. De alguma estranha maneira, creio que ainda nos voltaremos a encontrar…

Para falar bem a verdade, o homem de cabelos castanhos já nem tinha certeza do que realmente era e do que apenas parecia, naquele momento.

Quis seguir o velhinho, mais para proteger-se do que propriamente ir atrás dele, mas a abertura, pela qual o bizarro personagem passou, não tinha maçaneta e fechou-se muito rapidamente. Ficou sem saber o que fazer, a não ser esconder-se, para não ser visto. Esgueirou-se por trás das prateleiras e das barricas - umas de azeite, outras de vinho - no fundo do piso, por trás da pesada e escura escada e esperou, com os olhos atentos à porta da saída principal.

Sabia que sua presença ali só poderia levantar suspeitas e uma série de questionamentos, para os quais ele não tinha explicação plausível, além de sua curiosidade fora do normal e da sua tendência de meter-se em situações confusas e complicadas, inadvertidamente.

De onde estava, observou que o homem que passara era bastante forte e vestia um casaco feito de uma espécie de couro muito escuro de réptil, talvez crocodilo, mas ele não tinha certeza, já que não era adepto daquele tipo de material para casacos ou, mesmo, para roupas de qualquer espécie. O tal brutamontes era o mesmo homem que o havia encarado e não tinha ares de bons amigos. Desejou, secretamente, que o estranho de pele azeitonada e ar hostil não o visse.

O homem, porém,  ao chegar à porta principal, empurrou-a, olhou para os dois lados, como se procurasse por alguém e saiu. Atrás de si, desceram os outros três e, sem falar, saíram para fora, seguiram o líder e foram pela calçada afora, provavelmente na direção do carro.

O homem, assustado, esperou ainda alguns minutos até certificar-se que já haviam-se afastado bastante, com os ouvidos muito atentos ao som dos passos, que desvanecia na distância. Saiu com cautela e, já do lado de fora, decidiu que tinha tido aventura demais por uma noite e sentiu um certo receio de ser confrontado pelos homens estranhos, uma vez mais. Apressou-se a dirigir-se ao seu carro, que estava um pouco distante. Procurou, mas já não viu o veículo preto, dos homens estranhos, no estacionamento. Ainda olhou, com atenção, à volta, para certificar-se que estava mais a salvo e seguiu, pronto a sair dali o quanto antes.

Estava com a chave na mão, quando ouviu o som de passos apressados atrás dele. Seu sangue gelou, mas ao virar-se viu apenas uma mocinha, com olhos verdes muito claros, a vir na sua direção. Ela disse, apontando para o bosque:

- Entra no carro, depressa. Aquele homem tem respostas e a indicação de como podemos sair daqui.

Reagiu meio por instinto, antes de pensar que já a havia visto antes. Era a mesma que havia esbarrado em sua cadeira e sorrido, há uns minutos antes, na esplanada na ribeira. Ele não tinha a mínima ideia do que ela queria dizer com ‘sair daqui’, quando entrou e sentou-se ao seu lado, no banco da frente, mas não perguntou nada. Contornou o estacionamento e foi na direção onde haviam avistado o tal homem, que parecia ter estado a procurar alguma coisa nos galhos dos pinheiros. Parou, no espaço entre o complexo de lojas e o estranho bar e esquadrinhou o local perto das árvores, com cuidado, pois já não o via. A mocinha fazia o mesmo.

Uma batida no vidro de sua janela deu-lhe um susto descomunal. Um homem, com olhos de um tom azul-acinzentado, estava ao seu lado, fazendo uns gestos, pedindo para entrar. Ele abriu, instintivamente, a porta traseira e deixou-o acomodar-se no banco atrás de si.

O estranho, realmente, tinha informações a dar. Além de reafirmar-lhe para ter cautela, repetindo o que já dissera, anteriormente, o homenzinho da roupa castanha, ele mostrou-lhe um item muito interessante, que tirou do bolso do velho casaco cinzento, que vestia. O homem teve a leve impressão que, apesar do calor, aquela devia ser a 'noite dos casacos', mas não mencionou nada.

O tal item era uma caixinha metálica, decorada com delicados arabescos de prata batida, que continha um velho pergaminho amarelado. Nele estava impresso um antigo mapa, que mostrava uma marca muito característica, bem onde havia um desenho, representando uma velha árvore, aparentemente oca, no meio de um bosque. Ao lado do desenho do centro, haviam uns números escritos a lápis, em vermelho. Aquelas últimas anotações deviam ter sido acrescentadas recentemente, pois estavam bastante vivas no papel visivelmente envelhecido e amarelado.

Por um instante pensou haver visto uma troca de olhares entre o homem e a mocinha sentada ao seu lado, mas poderia ter sido somente sua usual paranoia e desconfiança, causando-lhe uma estranha impressão. Ele estava completamente tomado pela curiosidade acerca do objetivo daquela estranha situação e queria saber até onde o tal mapa poderia levá-lo.

Mas o mapa tinha um preço, obviamente. O homem  ficou bastante surpreso quando o estranho lho disse.

Aquela, porém, era apenas uma das razões que o traziam ali…

***

Estavam no meio do bosque, procurando seguir as indicações contidas no mapa. O homem tinha o GPS de mão e procuravam a tal árvore oca que, no pergaminho, estava marcada com as coordenadas de localização, que haviam sido anotadas à mão, recentemente. Não deveria ser difícil chegar ao nosso destino em breve, pois a aparelho indicava que estava localizado há poucos metros, bem à frente deles.

A árvore, uma velha figueira, erguia-se sobre um pequeno elevado, coberto de relva e folhas secas, numa linha á esquerda de onde estavam, fora de uma trilha quase nunca usada, por onde haviam seguido. De onde estavam, não viam nada demais, mas ao contornarem, viram uma abertura, quase não suficientemente grande para um homem do seu tamanho passar. Estava coberta por umas lianas e muito musgo, tornando-a quase impercetível. Afastou a cortina natural com as mãos e passou pela abertura, sendo seguido pela mocinha.

O tronco era realmente todo oco e, por dentro, parecia bem maior que percebido por fora. A cerca de uns 45 graus à esquerda, via-se um pequeno declive, com uma abertura para um pequeno portal, bem no final do mesmo. Uma outra mocinha, também de olhos verdes muito claros, aguardava-os, logo que atravessaram o limiar do portal. Ela tomou-lhe a mão e disse-lhe que o Mestre precisava falar com ele. O homem não sabia quem era o tal Mestre, nem o que ele poderia querer, mas tentou convencer quem o havia trazido até ali a continuar aquela estranha jornada consigo até o fim.

- Vem comigo, por favor.

- Não posso, ainda… Deves ir com ela.

Havia uma longa caverna, que ia abrindo e ficava um pouco mais alta à medida que desciam. O homem percebeu que a mocinha devia conhecer muito bem o local, pois sabia exatamente em quais galerias entrar. Sacudiu a cabeça, como se tentasse apagar o pensamento, pois era mais que evidente que ela sabia para onde estava a conduzi-lo. Depois de caminharem por muitos minutos, entraram por uma das pequenas aberturas laterais.

Após uma leve curva na caverna, num nicho quase imperceptível, havia um velho baú, depositado no chão, escondido num canto. Era de madeira castanho-escura e tinha um trinco de metal batido, representando o que pareceu-lhe ser alguma espécie desconhecida de réptil, em alto-relevo. A mocinha puxou o ferrolho para cima e levantou a tampa do mesmo. 

Antes que o homem se aproximasse o suficiente para inspecionar o que havia lá dentro, ela segurou-lhe a mão com firmeza e, com uma força descomunal, para uma miúda daquela aparente delicada compleição física, puxou-o para dentro da arca, com ela. 

Foi então que ele percebeu que a tal arca não tinha fundo...

***