Mostrar mensagens com a etiqueta passado. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta passado. Mostrar todas as mensagens

sábado, 5 de janeiro de 2019

Obliviar (Parte 4: O Futuro)



Os olhos do homem de pele muito pálida estavam tristemente fixos nos dois jovens amigos. Ele sabia o que eles queriam e sabia o que fazer, mas não tinha certeza se devia… ou queria… já que estava tão perto de…

***

- Feche os olhos e relaxe. Vai ser uma viagem difícil. Tente ficar calmo.

Ele seguiu as instruções, como lhe fora dito. Nem tinha como não fazê-lo. A viagem começou logo. Ele sentiu um calor no rosto. Parecia que havia uma luz muito forte à sua frente. Ele tentou abrir os olhos, mas foi como se olhasse directamente para o sol. Era impossível mantê-los abertos, sem o risco de magoar-se. Ele tornou a fechá-los bem, até que sentiu o calor arrefecer um pouco. Acreditando ser mais seguro, ele, então, abriu os olhos, com muito cuidado.

Foi então que ele o avistou. Era menor que imaginara e movia-se mais rápido que ele esperava. Oumuamua, ou algo muito similar, viajava no espaço à sua frente. Ele olhou à volta. Estava sozinho, no meio da escuridão do espaço, sentindo-se como quando caiu na fenda, alguns dias antes.

- Mas que diabos! Acho que estou delirando!

Seu corpo vibrava como se todas as moléculas quisessem manter-se unidas, mas precisavam de um esforço enorme para tanto. Ele sentiu uma dor dilacerante, quase insuportável. Depois, pareceu-lhe que todo aquele desespero cessou e ele viu-se de volta na densa escuridão. Como se estivesse sendo sugado, em alta velocidade, por dentro do tubo de um enorme aspirador, seu corpo foi jogado na direcção de uma luz muito branca, mas, daquela vez, perceptivelmente fria. Ele, então, caiu dentro de uma cápsula de vidro, no meio de uma sala toda branca e sem mobília. O choque foi inesperado. Agachado, pelo impacto da queda, ele tentava perceber onde estava.

Ele ouviu o som perturbador de uma sirene, tocando insistentemente, como se estivesse em aflição. Olhou à sua volta e viu um grupo de pessoas de aparência estranha, embora um tanto familiar. Havia, também, uma mulher cujos olhos eram tão verdes, que sobressaíam no meio deles, como um farol na escuridão da noite.

Ele reconheceu um homem de pele muito pálida e sorriu. Estava no futuro.

***

- Como é que tu sabias que o terminal ainda estava ativo?

O homem pálido olhou para o jovem e conjeturou se deveria dizer a verdade ou simplesmente evitar a pergunta e mudar de assunto. Decidiu que já era hora de dizer a verdade.

- Eu o consertei sozinho. Planeava ir de volta ao futuro, mas desconfiava que o terminal não fosse resistir a mais que uma viagem, se tanto, pelo estrago que havia sofrido. Foi sorte… Para falar a verdade, ainda não sei, ao certo, se conseguimos nosso intento.

- Não? Como não?

- As avarias eram quase irreparáveis. Mas como havia uma hipótese, eu tinha que tentar, de todas as formas. Da minha parte, não ia ser grande perda, se algo desse errado com a minha viagem. Eu não tinha nada a perder.

- Então por que não foste antes, sozinho? Ninguém ia saber…

- Eu não estava totalmente preparado e, então, vocês vieram e…

- Isso não é justo e é muito perigoso, de todas as formas.

- É o que é. Aquele jovem precisava de ajuda urgente e eu possuía os meios. Eu tinha que fazer alguma coisa para ajudar. Se tivermos sorte, ele voltará, com alguma resposta.

- E uma missão…

O homem de pele pálida tentou sorrir, mas não conseguiu. Ele não se sentia nada confortável. Estava preocupado. A tristeza em seus olhos era tão palpável, que parecia sólida.

- Esperemos que sim.

- Quanto tempo temos que esperar?

- Se tudo correr como planeado, cerca de uma hora, somente… mas sabes que o tempo é somente um conceito, neste tipo de situações. Existem muitas condicionantes…

O jovem olhou para ele. Ele estava, obviamente, muito preocupado. E se alguma coisa desse errado? Aquilo era uma loucura, mas como ele poderia controlar um amigo necessitado e com tanta teimosia e resistência?

- Eu sei o que estás a pensar. Estou tão preocupado quanto tu. Se a viagem não foi bem-sucedida, nós teremos perdido muito mais que uma hora do nosso precioso tempo, simplesmente… e, agora, não podemos fazer nada, além de esperar.

- Pois! Eu nunca deveria ter concordado com esta loucura!

- Agora é muito tarde! Como sempre, vamos ter que esperar e ver o que acontece.

***

- Como é que conseguiste viajar até aqui, através do tempo e do espaço? Quem te ajudou?

O Supremo estava totalmente fora de si, apesar de ser um homem calmo e razoável, na maioria das vezes. Ele já havia passado por situações semelhantes, em que viajantes do tempo haviam entrado, inadvertidamente, naquele terminal, mas, daquela vez, sentia que algo estava muito errado.

O estrangeiro continuava a olhar para a mulher, que estava, também, curiosa sobre a intenção daquela interferência em suas rotinas, por um homem jovem, vindo de um passado distante em seu planeta de origem.

O Supremo ficou mais impaciente e disse à mulher:

- Dê um jeito nisso! E mande-o de volta para quando e onde ele veio!

A mulher estava surpresa com aquele acesso de impaciência, diante de uma situação que já havia acontecido tantas vezes antes. Ela sabia, todavia, que ele não gostava dos visitantes que vinham do passado. Seu próprio irmão havia sido um péssimo exemplo a lembrar e, com certeza, era aquela a razão pela qual o Supremo lhe havia dado aquela missão, antes que algo pior voltasse a acontecer.

Ela pousou seus olhos verdes sobre o rapaz e pediu que ele a seguisse até o laboratório na Estação Estelar, onde o doutor poderia ajudá-los com a situação.

Até aquele momento o rapaz não havia dito nada. Quando estavam os dois sozinhos, ele olhou para a mulher, que percebeu, logo, que ele ia dizer uma coisa muito importante. Seu coração acelerou. Ele percebeu que não deviam ser boas notícias.

- Eu tenho uma mensagem do passado e do futuro.

- Tu não estás fazendo muito sentido.

- Eu sei, mas vais entender quando eu explicar.

- Então fale, rapaz!

- Leona…

Seus olhos arregalaram-se. Como ele poderia saber seu nome? O coração da mulher acelerou outra vez. Ela precisava se acalmar e não estava disposta a tal, até que a situação fosse completamente exposta.

- Eu não vim por uma razão somente. Mas precisarei da tua compreensão e da tua ajuda.

- Como é que sabes meu nome?

- Eu sei mais que o teu nome. Há coisas que precisas saber, para poder agir, antes que seja tarde demais. Mas eu vim por razões pessoais também. Eu preciso da tua ajuda, para voltar ao meu passado… uns anos antes da época da qual eu vim agora.

- Como é que eu posso confiar em ti e ajudar? Estas coisas não são fáceis. Os terminais são vigiados por câmaras projetadas para escrutinar quaisquer movimentos.

- Eu sei que há um velho terminal na Estação Estelar. O Décimo-Terceiro me disse.

- Quem?

- John, o Décimo-Terceiro…

- Como assim? Onde é que ele está?

- Ele está no passado… e não pode vir ao futuro.

- E como é que tu pudeste?

- Através do terminal que ele ia usar. Não foi totalmente destruído, quando vocês foram transportados na última vez, mas agora deve estar… Tu estás em grande perigo, Leona. Tens que acreditar em mim.

- Espera. Pode parar! Do que é que falas? John, o Décimo-Terceiro, ou seja que nome vocês o chamem, está muito doente. Nós estamos a trabalhar numa vacina e os resultados não são nada promissores. Ele não pode ter sobrevivido…

- Leona, eu preciso que falar com o teu pai. As vacinas estão sendo sabotadas.

- Sabotadas? Por quem? Quem seria tão estúpido?

- Não é estupidez, Leona. Ele é um homem muito inteligente, que tem um propósito maléfico e muita sede de poder. Nós temos que fazer algo… urgente, antes que seja tarde demais. O Supremo tornou-se um homem com uma mente muito pervertida. Ele é mau. Ele vai destruir este planeta, em questão de dias.

- De jeito nenhum. Tu estás delirando. Ele nunca… Ele tem todo o poder que precisa. Além do mais, ele é o maior interessado em seguir os resultados das pesquisas e testes com a vacina.

- Acredita em mim, por favor. Nós estamos perdendo tempo. Como é que tu sabes que eu sei estas coisas todas? Eu tenho que falar com o teu pai. Por favor. Eu posso ajudar.

- Leona!

A mulher virou-se. Dois homens, bem mais velhos que eles, vinham, apressados, pelo corredor. Eles, simplesmente, ignoraram o estrangeiro, como se ali não estivesse. 

- Tens que vir e ver isso. A vacina não está a funcionar. O efeito é muito destrutivo, agora.

- Pai!

- Eu posso ajudar!

- E quem és tu?

- Um visitante do passado, que veio tentar salvar o futuro.

- Do que é que ele está a falar?

Ela tentou explicar, mas antes que começasse, um grito, vindo do laboratório, no outro lado do corredor, fê-los parar a conversa e começar a correr.

- Ele está morrendo!

***

sábado, 15 de dezembro de 2018

Obliviar (Parte 3: Sonho)



O repetido som de algo metálico batendo nas paredes acordou-o de um sobressalto. Estava escuro, mas olhando para cima, podia-se ver uma fenda de luz, longe ao topo. O rapaz passou as mãos pelas roupas, tentando limpar-se e, talvez, perceber se ainda estava mesmo vivo e inteiro. Seus joelhos e os dedos estavam muito doridos. Ele estava vivo. Os mortos não sentem dor. Ele quase riu daquele pensamento, mas na situação em que estava, não fazia muito sentido sorrir. 

O som voltou, repetidamente, algumas vezes. Talvez fosse seu amigo a tentar resgatá-lo daquele buraco. 

- Ei. 

Ele gritou. Sua voz parecia estranha. O eco respondeu. 

- Ei. Ei. Ei… 

Ele sussurrou, para si mesmo. 

- Estou ferrado! 

- Ei. 

Ele olhou para cima. Alguma coisa estava pendurada e balançando de um lado para o outro, batendo contra a parede, alguns metros acima de sua cabeça. 

- Estou bem. Podes baixar mais um pouco? 

- A corda já está no máximo. Podes tentar subir até o gancho? 

- Posso tentar. A terra está muito seca e solta. 

- Tenta. Tenho o Jeep aqui. Posso-te puxar para cima se alcançares o gancho. 

Ele tentou olhar à volta, naquela escuridão. Ao ver o pedaço de metal, que era antes o cano, ele resolver usá-lo para cavar degraus na parede e tentar subir até onde o gancho alcançava. Ia levar algum tempo, mas era o que podia fazer. 

Depois de cerca de uma hora, ele, finalmente, alcançou o velho gancho de metal e gritou. 

- Já está! Pode puxar! 

Ele estava cansado e dolorido, mas o Jeep faria o resto. 

- Segura firme, que eu vou puxar. 

E foi o que ele fez, apesar da dor e da dificuldade em manter-se agarrado ao seu salvador. Seu corpo foi arrastado e pendurado, batendo contra a parede da ravina algumas vezes, mas ele manteve-se firme até chegar ao topo, onde o amigo puxou-o para fora, pela roupas e arrastou-o para longe da borda. 

Num ímpeto de alegria e excitação, o rapaz deixou escapar um imprecativo. 

- Putaquepariu! Pensei que havia-te perdido de vez. Tu estavas tão quieto. 

- Acho que desmaiei. 

O amigo riu e deu-lhe um abraço desajeitado. 

- Que bom que estás de volta! 

- Vamos sair daqui o quanto antes… para nunca mais voltar. 

- Vamos! Eu te ajudo a levantar. 

Eles entraram no veículo e começaram a descer a montanha, na direção do rio. O rapaz de óculos estava todo coberto de terra, poeira e havia sangue em alguns pontos. Ele tirou a camiseta e tentou bater a poeira das roupas e do corpo com ela. 

- Preciso de um duche, urgentemente. Ou mais de um. 

- Com certeza. Vamos parar no rio e tentar limpar um pouco. Depois vamos direto para casa. Chega desta loucura, de uma vez por todas. Tens que ultrapassar isso, amigo, para o teu próprio bem. 

- Eu sei. Eu gostaria somente de deitar minha cabeça no travesseiro e esquecer de tudo que ainda estas recordações tão vivas, à minha memória, mas não é tão simples… 

- Eu sei, amigo, eu sei. 

*** 

- É possível enviar uma mensagem ao futuro? Tu lembras de algo que ainda esteja lá e que pertença à esta era de agora? 

- Não tenho certeza. É muito tempo e, a menos que seja um marco importante, não poderia ter sobrevivido o passar dos tempos. 

- Pensa nisso! Se houver algo, nós temos que tentar. 

- Por que é tão importante assim? 

- Porque é. Já ouviste falar de cápsula do tempo? Tu também poder-te-ias beneficiar de uma. Pensa nisso. 

- Eu sei do que falas. Mas eu não vivi lá tempo suficiente para ver muitas coisas ou lugares. Talvez... 

- O quê? 

- Talvez algo possa haver algo… 

- Vale a pena, não vale? 

- Talvez. 

- Achas que podemos voltar no tempo? 

- Se pudermos, pode ser uma hipótese muito vaga. 

- Mas tem de haver uma saída. Sei que tem! 

- Isso é loucura. Tu tens que parar com isso. 

- Sabes que isso nunca vai acontecer. 

- Eu sei. Mas pensando bem, há uma coisa que eu trouxe comigo, do futuro. Embora seja o oposto do que devia ser, pode funcionar, se tentarmos. 

- E o que é? 

- Isso… 

- Mas isso é só… 

*** 

Ele acordou no meio da noite. Um sonho. Aquele havia sido um sonho muito estranho. 

- E se for, mesmo, verdade? Seria possível? Oh, meu Deus! Acho que estou ficando louco. Será que ele sabe mais do que diz e está com medo de contar a verdade? Por qual razão? 

O rapaz levantou-se e foi até a cozinha. Sua cabeça estava um turbilhão confuso de emoções contraditórias e diferentes, todas misturadas num novelo só. 

- Eu já devia ter esquecido tudo isso. Por que é que eu fico sempre a reviver aquela situação, o tempo todo? É uma coisa tão ultrapassada… tão morta! 

Tomou um largo gole de água fresca. 

- Mas, e se ele… 

Ele se perguntou se um sonho poderia ser assim revelador, ou se era apenas uma ilusão criada por sua mente, para compensar as perdas e o desejo de ultrapassar a nostalgia e a dor. 

Ele falou baixinho, para si mesmo. 

- Gostaria que o meu sonho fosse realidade. Far-me-ia sentir tão melhor e mais confortável… 

- O que aconteceu? 

O rapaz virou-se. Seu amigo estava de pé, na soleira da porta da cozinha. Teria ele ouvido seu pensamento dito em voz alta? 

- Tive um sonho e não consigo voltar a dormir. 

- Um sonho ruim? 

Ele inalou o ar, devagar e profundamente, num longo suspiro. O amigo percebeu, logo, o que estava acontecendo. Aquilo ainda não estava ultrapassado. Ele percebeu o olhar pesado e triste do amigo. 

Precisava fazer algo, o quanto antes… 

- Vamos! 

- Para onde? 

- Se a chave para fazer as pazes com o passado, está no futuro, somente uma pessoa nos pode ajudar! 

***

sábado, 17 de novembro de 2018

Obliviar (Parte 1: O mensageiro que veio antes)




Esta estranha bruma de lembranças
Que se desfaz lentamente,
Como se fosse poeira,
Faz meu coração bater sereno
E minha alma repousar,
Numa paz silenciosa e calma.
Deito minha cabeça numa grande almofada
De brancas plumas,
Em uma cama de pétalas rubras,
Para sonhar com anjos
A aplacar minha dor.
Suas asas me envolvem
O corpo e a alma
E me trazem o conforto,
E a protecção morna
De amantes que se abrigam
E se protegem
Num tíbio e terno abraço.

***

- Por que ainda choras por isto? Já foi há tanto tempo. Isto pertence ao passado.

- Acho que nunca ultrapassei aquilo, na verdade.

- Devias. Isso não é bom para ti.

Aquele jovem, cujos olhos nunca pareciam acompanhar o sorrir dos lábios, numa entrega por inteiro, até tentou, mas o que conseguiu foi mostrar uma careta estranha. Por qual razão ele mantinha seu coração num luto constante, depois de tanto tempo? Aquilo já não fazia sentido.

***

Os dois amigos sentaram-se nas cadeiras de balanço, que estavam instaladas na varanda, a olhar o sol a se pôr, lenta e silenciosamente, no horizonte. Cada qual estava tão absorto em seus próprios pensamentos, que a interrupção foi quase como uma interferência à aquela quietude, como se a paz tivesse sido violada, mas que, ao mesmo tempo, soava apenas como uma extensão do pensamento, que vinha a se concretizar em palavras.

- Uma vez eu tive um irmão.

- Bom, agora tens a mim. Sou quase como um irmão para ti, de todo o jeito. Alguns amigos são mais próximos que irmãos, sabias?

- Nunca pensei nisso, na realidade.

- Dizem que os amigos são os irmãos que nós escolhemos para conviver connosco.

- De onde tu tiras estas coisas, afinal?

- Eu leio muito, na verdade…

O rapaz que usava óculos tentou sorrir, mas não pareceu funcionar. Seu amigo estava preocupado com sua sanidade, já que ele parecia estar sempre tão distante, ultimamente. Eles haviam evitado falar sobre o passado, por muito tempo. Mas os fantasmas simplesmente não desaparecem da memória, por mais que se deseje isso. Eles podem se esconder por uns tempos, mas nunca morrem. Parecia que aquela era uma das ocasiões em que eles vinham das trevas, de onde se escondiam, para expor-se à luz, por alguma razão inexplicável.

- Tu não pensas no que aconteceu? Nunca sentes falta deles, às vezes?

- Deles?

- Tua família…

- Claro que sim.

- Ainda bem que sim. Ultimamente tenho pensado muito neles.

- Por qual razão?

- Sinto tanto a falta deles.

- Tu sabes que o passado está enterrado… e bem fundo… literalmente…

- Talvez não…

O rapaz olhou para o amigo. Seus olhos estavam tão perdidos na distância. A dor e a tristeza eram tão evidentes, que pareciam materializar-se ali, na frente deles.

- Temos que tocar a vida para a frente, como sempre fizemos.

- Ah. Tá. Como se fosse fácil. Eu gostaria de poder viajar no tempo e mudar o que aconteceu. As coisas podiam ser tão diferentes agora.

- É. Só que não podemos.

- Tens certeza disto?

Ele sorriu. Parecia que uma ideia completamente insana se formava em sua mente.

- No que é que estás a pensar?

- Eu tive uma ideia. Há alguém que devemos visitar no fim-de-semana, quando ninguém vai suspeitar de uma saída do quartel.

- Ah. Não!

***

- Não é possível, de jeito nenhum! Se fosse, eu já podia ter voltado lá.

- Lá? Já não existe lá. Aquilo foi explodido e completamente destruído.

- Talvez se voltasse um pouco antes da destruição…

- Aquele mundo já não está lá…

- Tu não ias entender. Nem sei se eu entendo, se pensar bem na situação.

- Tem que haver um jeito. É muito importante para mim… para nós…

- Vocês não entendem. Eu não posso ajudá-los. Eu sou apenas um clone, não um cientista. Eu sou a criatura, não o criador…

***

- Tem que haver um jeito.

- Deixa de ser bobo. Tu sabes que não há… pelo menos por agora… nesta era.

- Eu não vou desistir.

- Pois devias. Já soas como um louco.

***
Oumuamua?

"Um mensageiro de longe, que chega primeiro".

- Eu imagino a confusão que está a causar aos cientistas, para tentar explicar a aparição.

- Pois. Mas as teorias são muito vãs, por enquanto.

- Eu tenho uma e acho que é a chave para o que procuramos.

- Pare com isso! Nunca ouvi tamanha loucura. 

- Tenho certeza que nosso amigo vai concordar comigo. Vamos visitá-lo mais uma vez...

- Oh, meu Deus! Lá vamos nós de novo!

***