- E se eu me apaixonar por ti?
Ela não esperava por aquilo… A
mensagem a piscar no espaço digital à sua frente, naqueles longos segundos,
causou-lhe surpresa e um certo alarme. Em sua mente, foi como se uma luz
vermelha acendesse, imediatamente, em reacção àquelas palavras.
(Oh, Deus! E se eu já estiver apaixonada por ti, meu menino?)
Como responder àquela pergunta,
sem demonstrar todas as suas apreensões e suas dúvidas, somadas aos seus
desejos tão cuidadosamente dissimulados e ao seu receio de perdê-lo?
E se ela não estivesse preparada
para dizer-lhe, ou mesmo envolver-se mais que já realmente estava? Teria sido
cedo demais? Relacionamentos são sempre tão complicados, ponderou a mulher,
antes de tentar expressar o que realmente se passava na sua cabeça…
Por sorte, estavam apenas a
conversar no ‘cyber-chat’, sem câmera
ligada, por isso não precisava demonstrar as emoções expostas claramente em seu
rosto naquele momento. Ela digitou a mensagem e acrescentou um ‘emoticon’, representando um abraço. Decidira
ganhar tempo…
- Do que tens medo, meu amigo? De te machucar?
- Eu, na verdade, não sei do que tenho medo…
Ela ficou em silêncio… Aquela declaração
havia sido quase óbvia. A nova experiência, com uma mulher madura e
aparentemente mais experiente e destemida, podia ser a única razão pela qual
ele pudesse ter algum receio de arriscar-se. Mas, afinal, o que ele perderia se,
por acaso, se aventurasse a ficar com ela, enfrentando tantos temores e tantas
inseguranças? Ela estaria lá, para ele, o tempo todo… ou, pelo menos, enquanto
a eternidade do relacionamento durasse…
Sabendo o efeito que a próxima
mensagem ia ter, ela digitou-a, premiu a tecla “Enter” e esperou.
- Só um OK? Tu sabes como eu odeio quando envias somente um “OK”… dás-me
a impressão que não te importas… que não faz nenhuma diferença…
Ela riu e disse a si mesma, em
voz alta: Faz diferença, sim. Claro que faz…
Ela sentia um enorme carinho por
aquele rapaz que a fizera sentir-se feminina e viva, depois de um longo tempo.
Ele já fazia parte de sua história, ela reconhecia. E aquela parte de si, que
envolvia-se cada vez mais naquele relacionamento, confirmava as palavras que
ela havia pronunciado em alta voz. Fazia
uma diferença, sim… e esta diferença era bem grande…
E pensar que todo aquele
envolvimento começara a partir de um desvio casual de estratégia, para evitar o
contacto com outro personagem, inconveniente, que costumava fazer suas investidas
num bar recentemente inaugurado, à beira do rio…
Seus olhos perderam o foco,
automaticamente, quando as lembranças preencheram sua mente, como numa
avalanche incontrolada de memórias.
***
Vermelho…
A luz do sol de fim de tarde de
verão, que infiltrava-se pela parte de cima do vitral em arco - decorado com pequenos
detalhes florais um tanto ‘sui generis’,
à volta de um fundo vermelho, acima da linha de luminárias penduradas no teto
abobadado - causava um efeito luminoso bastante encantador a quem entrava. Na
parte central do grande salão, um bar fora construído em forma ovalada, de modo
a ter-se acesso por todos os lados, sem causar filas de atendimento aos
usuários.
‘O Templo’ era o lugar da moda. Os vitrais coloridos nas janelas em
arco gótico lembravam antigas igrejas, fazendo com que a incidência da luz do
dia diminuísse a necessidade de lâmpadas e luminárias acesas e tingisse o
ambiente com vários matizes de cores intensas.
A acústica era bem projectada, de
maneira a não criar reverberações devido ao alto pé direito do edifício e
aproveitar a distribuição dos altifalantes no grande salão, ainda assim
permitindo que se conversasse em tom razoavelmente baixo, sem poluir o
ambiente, devido ao volume da música ambiente. Tudo havia sido cuidadosamente
calculado, de modo a tornar o lugar devidamente aconchegante e convidativo.
O ‘happy hour’ era um acontecimento à parte. Música ‘Vintage’ para um grupo mais tranquilo de
frequentadores, que mudava consideravelmente à partir de um certo horário mais
adiantado da noite. Às quintas-feiras, especialmente, transformava-se em uma
grande festa com música electrónica e dança num ambiente paralelo. Era noite da
juventude e, assim, evitada pelos mais tradicionais.
Um longo e cansativo expediente
havia terminado e a investigadora de polícia decidira conhecer aquele novo
estabelecimento, do qual já muito ouvira falar, construído à beira da foz do
rio. Precisava beber algo… talvez um refresco, talvez uma bebida mais forte.
Quando entrou, a atmosfera
pareceu-lhe um tanto surreal. O ambiente era encantadoramente criativo e
inovador, tocando música bastante a seu gosto - incomum, até - em um volume
deliciosamente relaxante, àquela hora da tarde. Um facho de luz colorida - que
vinha de cima, em um ângulo agudo com o piso de madeira pesada e escura - quase
transformava o rapaz recostado no balcão, em personagem de um estranho conto de
fadas, pintado em matizes luminosos de vermelho.
Ele estava virado para a entrada,
brincando com um copo de cerveja à mão. Moveu-se para frente, saindo do facho
de luz filtrada pelo vitral. Ela percebeu sua mais fascinante característica,
assim que os viu pela primeira vez…
Azuis… como as águas do Oceano Pacífico…
Era assim que ele se referia aos
seus próprios olhos. Estes eram de um tom de cobalto tão intenso e tão
brilhante, que atraíram a atenção da investigadora quase de imediato. Acima
deles, molduras de sobrancelhas quase invisíveis, decoravam-lhe o olhar maroto.
A barba de pelos aloirados – estrategicamente
deixada por fazer já havia alguns dias -, adornava a atraente e harmoniosa face
- masculina e angelical, ao mesmo tempo. O sorriso era largo e adorável, com
dentes bem proporcionados e asseadamente brancos. Os lábios eram demasiadamente
bem desenhados. Os cabelos claros, com os quais o vento de fim da tarde
brincava, todas as vezes que a porta se abria, desafiava-a a desviar o olhar,
que já se encontrava magnetizado pela beleza ímpar do rapaz.
Ela perdeu a noção do tempo a
contemplar o impossível – ou inatingível -, no que pareceu-lhe um momento
infinitamente longo. Os olhos que miram o sol por muito tempo podem ficar
irremediavelmente queimados, foi o que pode perceber logo em seguida.
Misha tinha plena ciência de haver
causado um efeito surpreendente na mulher que acabara de entrar e que não desviava
os olhos de si. Sabia que era observado com grande interesse e fazia seu show
particular a provocar, enquanto ouvia e cantarolava, ao mesmo tempo, a canção
que lhes servia de trilha sonora para aquele momento – uma fusão de jazz
moderno com bossa nova – levemente dançante e altamente sensual.
“When loving me is so
easy, then why do I feel twisted, Cupid?” (from ‘Twisted Cupid’ – by Slow Train
Soul)
Aquele jovem homem sabia usar seu
charme de uma maneira extremamente provocante e com a maior naturalidade.
Quando cruzou o olhar com o dela, mostrou-lhe seu melhor sorriso, sabendo que
sua jogada era magistral e a mulher que o observava estava fascinada pela sua
figura imponentemente sedutora.
Na verdade, porém, sua presença
ali não era tão inofensiva quanto pareceu-lhe à primeira vista. Em pouco tempo,
seus olhos treinados perceberam mais que segundas intenções naquela parada para
um nem tão inocente drink ao final da
tarde. Ali havia mais mistérios encobertos, que ela decidira tentar desvendar,
sem que deixasse ele perceber suas reais intenções. Sob uma fachada de modelo
profissional, ele escondia o lado um tanto mais obscuro de sua personalidade.
Ser um ‘escort’ não era, definitivamente, sua menos bem-vista ocupação…
Passou a visitar o ‘Templo’ assiduamente. Às vezes ia sozinha, às vezes encontrava-se
com uma amiga, que era fotógrafa e repórter.
Em pouco tempo conseguiu avaliar
o seu comportamento e perceber o tipo de pessoa que o rapaz era. Aproximar-se
dele e incitar conversa havia sido um acto natural, já que sua presença naquele
lugar tinha um objectivo que tornou-se claro com o passar do tempo.
Assim que conversaram pela
primeira vez, a imagem que ela tinha dele decaiu muito, mas piorou bastante nas
ocasiões seguintes. Ela já estava acostumada com pessoas que não sabiam ouvir,
por terem o ego demasiadamente inchado, mas Misha ultrapassava todas as
expectativas. Não demorou a revelar-se um grande manipulador. Esta
característica dele, porém, ela conseguiu detectar a tempo de não se permitir
ser usada ou de fazer alguma grande tolice.
Aquele encanto inicial fenecera
rapidamente, tão logo compreendera quem ele era, por trás daquela atraente -
porém vazia - beleza física. Por dentro não passava de um homem um tanto amargo
e muitíssimo petulante - bastante patético e, até certo ponto, tocando as raias
do pedantismo. Uma pessoa que deixava muito a desejar em termos de confiança e
com uma tendência muito clara a se aproveitar das fragilidades das pessoas. Ele
não recebeu bem sua recusa em ajudá-lo em seus esquemas para levantar dinheiro
ou em acreditar em suas histórias trágicas, que sempre apareciam, devido ao seu
sangue quente e arrogância natural da juventude, aliados a um narcisismo
soberbamente agigantado.
Decidiu ter cautela ao tratar com
ele, para sua própria segurança.
Como já seria de esperar, foi fácil
decepcionar-se mais, com o passar do tempo. Numa briga de rua, os envolvidos
foram parar na delegacia onde a investigadora trabalhava. Por um infeliz acaso,
ela cruzou a sala, no momento em que Misha esperava sua vez de dar declaração.
Ele logo percebeu sua presença. Seus perspicazes olhos pousaram sobre ela, com
curiosidade intrigante. Franziu o cenho, como se estranhasse vê-la naquele
lugar, tão à vontade. Ela desviou-se sem dar nenhum sinal de reconhecê-lo. Ele
ainda tentou chamar-lhe a atenção, mas ela desapareceu da vista, antes de
demonstrar qualquer reacção. O rapaz, percebendo que ela o evitara, registou o
comportamento da mulher no seu subconsciente, assim como aquela nova informação
que acabara de obter, como se fosse um bem-vindo presente do destino. Haveria
de aparecer uma oportunidade para utilizar aquela novidade. Bastava ter
paciência…. E ele não ia perder nada por esperar. Apesar de estar sendo
registado na delegacia de polícia por atentado à ordem pública, o rapaz de
cabelos loiros e olhos azuis sorriu. Acabara de arranjar uma carta útil, para
manter escondida na manga, até a hora certa de jogar.
Ela resolveu evitar sua
frequência habitual ao ‘Templo’. Não queria expor-se tão cedo. Talvez o
incidente pudesse ser esquecido em pouco tempo, mas ela tinha receio que ele
fosse cobrar uma explicação para sua atitude do outro dia.
O ‘Café’ da esquina, próximo à sua morada, pareceu-lhe ser a
alternativa mais viável, para desestressar no final do dia… pelo menos enquanto
ela tentasse evitar encontrar-se com o belo, porém perigoso, Misha.
***
Vermelho… Azul... Vermelho… Azul…
Vermelho... Azul…
- Pare de olhar estas luzes assim. Tu não podes mudar o que aconteceu. Não
há mais nada que se possa fazer agora… Vamos embora daqui. Entre no carro. É
tarde demais...
Ela não parava de falar… e aquela falácia era uma tortura sem igual na
minha cabeça, já bastante fatigada e completamente atormentada. Por que as
mulheres insistem tanto em pensar que sempre sabem tudo? Eu sou uma e não penso
assim… Deve ter algo muito errado comigo…
Ela agarrou-me o braço com força e olhou-me com uma firmeza
perceptivelmente intimidadora, abstraindo-me da atenção fixa às luzes a girar. Se
não fosse a pessoa em quem eu mais confiasse - uma das poucas amigas que ainda
tinha, certamente a teria mandado calar-se e teria me desvencilhado de suas
mãos com um puxão – se tivesse encontrado forças para tal, naquela hora.
Embora não tivesse que esconder minhas emoções, devo admitir que ela
estava certa, afinal. Minha amiga, uma brilhante fotógrafa e repórter, embora
tomando uma atitude que me incomodava, naquele exacto momento, tencionava tão-somente
proteger-me.
Eu estava esgotada, pálida e prestes a perder o equilíbrio e o controlo.
Precisava concentrar-me e recompor-me antes que fizesse alguma asneira. Minha
vontade, porém, era somente de gritar... e gritar alto… bem alto!
(Por que eu não cheguei apenas uns míseros minutos antes, meu Deus, por
que? Tanta coisa podia ser diferente… por que, meu Deus, por que?)
A coerência, porém, forçava-me a engolir minha dor, meu orgulho e minha
fraqueza, para não desabar ali mesmo, na frente de tanta gente. Entrei no
carro, mas não consegui dar a partida de imediato. Ela também entrou e
sentou-se ao meu lado - desta vez calada - mas atenta aos meus mínimos movimentos,
como uma desconfiada gata, à espreita de toda actividade à sua volta e pronta a
não deixar passar nada, sem que visse ou interferisse instintivamente.
As atenções dos curiosos, técnicos e policiais ainda estavam todas
voltadas para a cena a desenrolar-se a poucos metros do carro. Eu sentia como
se estivesse fora daquele contexto, vendo tudo de fora, como num filme, numa
atmosfera bastante surreal. Quase não acreditava o que via diante dos meus
olhos cansados. Aquilo não podia estar, realmente, acontecendo.
As luzes acesas no topo das viaturas policiais, que formavam um paredão
de isolamento de um lado da rua, continuavam a girar e a pintar o cenário,
alternadamente, de vermelho… e azul… e vermelho… e azul…
Fechei os olhos e respirei fundo… Quando os abri, minha visão ainda
estava turva pelas lágrimas que retive, mas decidi ser mais forte que meu
sofrimento. Eu sou uma policial condicionada a controlar minhas emoções e ser
coerente e fria, especialmente diante de situações consideradas fortes pela
maioria das pessoas… Eu sabia que tinha de ser mais que forte, diante daquela
cena, que me abalara, sensível e consideravelmente, as estruturas, mostrando
que, apesar de bem treinada, eu era humana, afinal de contas…
Ela me conhecia muito bem e decidira não dizer uma palavra a mais, felizmente,
enquanto aguardava que eu me recompusesse. Levantei a cabeça, decidida, pigarreei
alto e com energia forçada e girei a chave na ignição…
***
Deitada, sentindo-se estranhamente
desconfortável no macio divã da analista, a inquieta mulher contava a angústia
que passara nos últimos dias. Ao mesmo tempo, sentia sua dor revivida em
detalhes, em cada palavra que usava para descrever o que vira e sentira e que a
fizera estar ali, naquele consultório, sobriamente decorado em tons de sépia e
âmbar, a falar de si – uma das situações mais difíceis que se aventurara a
enfrentar.
A terapia havia sido encaminhada
pelo médico de plantão, que a socorrera, após o princípio de colapso por stress
e excesso de horas em vigília e, provavelmente, trabalho compulsivo. Mal sabia
ele, que a verdadeira razão do ataque de depressão, estava directamente ligada ao
mistério à volta do crime que ela tinha que resolver… tanto as causas, quanto
as consequências, a tirar-lhe noites de sono…
A psicoterapeuta, uma mulher de
idade indefinida – uma matrona de mais de quarenta anos, com certeza - daquelas
que imagina-se, mas não consegue-se precisar exactamente quantos anos já vivera,
induziu-a a percorrer um caminho dolorosamente trilhado, enquanto aplicava
pressão em pontos específicos nas plantas dos bem cuidados pés da investigadora
de polícia. Suas técnicas de shiatsu
e reflexologia, associadas a um planeado exercício mental, onde uma bem
definida linha condutora era dada como guia, tinham um objectivo muito específico
no tratamento: perceber os mecanismos da mente em dissociar e recompor os detalhes
da memória dos acontecimentos e apresentar saídas propostas pela própria
paciente.
A mulher fechou, lentamente, os
olhos. Tanto na sua cabeça, como diante de si, uma sequência de cores
continuava a piscar insistentemente, incessantemente, hipnoticamente, … como se
lâminas giratórias de luz fossem alternadamente recortando as memórias e suas
percepções, … ora em azul… ora em vermelho… azul… vermelho…azul… vermelho…
A triste visão dos olhos azuis a
mirar o nada e uma grande poça vermelha formando-se, lentamente, à sua volta,
atormentavam-na sem lançar um simples vestígio de como encontrar uma saída…
Encurralados na mente grandemente
perturbada pelo sentimento de perda, seus devaneios iam e vinham, misturando
realidade e imaginação, num processo habilmente conduzido pela terapeuta, que
ia dando inputs para uma e outra
linha de reflexão, a fim de encontrar uma forma de escapar do labirinto em que
se encontrava. Era importante trazer à memória os factos e tentar captar mais
detalhes escondidos nos acontecimentos. Sua maior preocupação, porém, era
desvendar o mistério que envolvia o evento recentemente vivenciado e que a
abalara tão grandemente. Cada uma com um objectivo distinto, ambas trabalhavam
para encontrar as respostas certas.
Quem me dera não haver estado naquele lugar, nem naquele momento
difícil de suportar. Se pudesse reviver este último dia da minha vida, eu
mudaria tudo… quantos equívocos podem-se fazer no mesmo dia? Quantas vezes o
mesmo erro pode ser cometido, até se perceber que é um erro? Quantas vezes
pode-se insistir, até que a vida canse e mostre, com tratamento de choque, que tudo
não passa de uma grande estupidez e que desta forma tem ser reconhecida e
assumida?
- Vais ter que te acostumar a viver com teus erros, disse a
terapeuta. Eles fazem parte do
aprendizado…
- Mas este custou a vida de um inocente, mulher… será que é tão difícil
perceber isto? E não me trate como uma adolescente. Eu sei a extensão dos meus
erros e conheço estas teorias de psicologia...
Ela mordeu o lábio, para não
soltar um palavrão, que estava a ponto de sair. Às vezes era mesmo difícil
controlar-se, especialmente quando sua irritação fugia das raias do aceitável
eticamente.
- A culpa pelo que ocorreu não é tua. Tu não és responsável pelos actos
de outros… especialmente, de maníacos e assassinos…
- Mas fui eu que provoquei a ira ”de outros”, disse ela, colocando
uma boa dose de ironia e um certo deboche na voz, ao pronunciar a expressão
recentemente dita pela outra. E eu me
sinto responsável…
A terapeuta abanou a cabeça, num
gesto conhecido, que ela já sabia interpretar e que significava que não
adiantava discutir, pois nenhum argumento seria suficientemente forte para
fazê-la aceitar ou mudar de opinião.
Não havia nada mais que pudesse
ser feito, era verdade, mas não era - de maneira alguma - tarde demais.
Ao contrário, a investigação – e
talvez muito mais que um simples processo policial - apenas começava. Era sua
questão pessoal de honra ir ao fundo do caso e descobrir não somente as razões,
mas também punir severamente o culpado.