“Down on my knees, down on
my knees once again...
I'm down on my
knees, down on my knees once again...
Breaking in
tears, breaking in tears once again...
It's hard for
me, but I'm trying”… (Adam Evald; “That Day”)
(De joelhos, de joelhos mais uma vez...
Estou de joelhos, de joelhos mais uma vez...
Desabando em lágrimas, desabando em lágrimas mais
uma vez...
É difícil para mim, mas estou tentando) …
***
- O que é que tu fizeste?
- Se ele não for meu, também não será de ninguém...
- Estás louco? E o que fazemos agora?
Ele revelou aquele sorriso maléfico novamente, enquanto falava muito
lenta e claramente.
- Eu… não vou fazer nada... Acabei de fazer o que
queria... Tu é que precisas fazer alguma coisa, agora.
- Meu Deus! O que eu faço, então?
- Toma o teu remédio e eu desapareço... e tu terás que
enfrentar um crime... sozinho... Ou podes chamar de acidente. Talvez
eles acreditem, ou então...
- Porra! Que merda!
***
- Tu estás delirando! Não há nada lá.
- Juro que havia um corpo. Um homem morto! E estava ali!
- Quando foi a última vez que tomaste o comprimido?
- Não tenho certeza. Perdi a noção do tempo.
- Olhe para mim. Foco. Agora! Quanto tempo?
- Eu não sei. Algumas semanas, talvez.
- Semanas? Estás louco? Tu sabes que deves tomá-lo todos os dias!!! Como
tu sabes que não estás alucinando?
- Eu não estou. Quero dizer, acho que não...
- Achas que não? Achas que não?!?!? O que
significa isto? Não vês que podes ser condenado como cúmplice de
um crime? Se houve realmente um crime!
- Eu não sou um cúmplice! Não incentivei e nem
participei daquilo...
- Vais ter que provar a tua inocência, se encontrarmos o
corpo.
Ele
ajoelhou-se no chão, segurando a cabeça com as duas mãos e chorou, como uma
criança, quando ouviram o som da sirene se aproximando.
***
Havia silêncio na escuridão. Havia escuridão naquele silêncio.
O homem olhou em volta. Parecia estar sozinho e não tinha certeza
de onde estava. Ouviu um clique seco e, de repente, uma porta foi
aberta. A luz pareceu perfurar seus olhos. Ele tentou cobrir o
rosto com as duas mãos, mas não conseguiu movê-las. Já não estava mais
sozinho.
- Como está se sentindo?
- O que é isso? Onde estou?
- Não se preocupe. Está seguro agora. Nós cuidaremos de você...
Os homens vestidos de branco se aproximaram mais. Ele teve a
impressão de conhecer um deles. Viu seu amigo no canto da sala,
mas aquilo poderia ser apenas uma impressão... ou sua mente
brincando com ele.
Uma picada repentina no braço esquerdo o fez arregalar os olhos, mas
logo sentiu que não poderia mantê-los abertos, por muito tempo. Ainda
podia ouvir o barulho das pessoas conversando, mas as
palavras foram desaparecendo, naquela mistura confusa de
vozes diferentes.
Então, tudo ficou escuro... e silencioso...Novamente…
***
- Como ele está?
- Ele tem seus altos e baixos. Está saindo de outra crise. Seu caso
tornou-se cada vez mais complexo, com o passar do tempo e com o fato
de ele não ter tomado o medicamento por meses.
- Entendo…
O médico estava sendo o mais honesto e prático possível.
- Ele precisa ficar em terapia intensiva por um tempo ainda,
antes que possamos liberá-lo.
- E vai ficar curado? Quero dizer, mesmo com um processo de
prescrição vitalícia?
- Nunca
teremos certeza... A vida é cheia de surpresas...
***
- Tu me vais ajudar a sair daqui?
- É isso que estou fazendo…
- Não. Assim não...
- É o único jeito, agora.
- Por favor…
- Uma vez tu me perguntaste se eu sabia o que
sentias por mim e eu te disse que não era bom em
expressar o que se passava em meu coração. Bem, eu pensei muito sobre
isso, e concluí que a única forma de sair, é ficando cá.
E digo isto, porque eu realmente me importo contigo. Mais do que
qualquer outra coisa... eu estarei aqui para ti, o tempo
todo.
Seus olhos estavam fixos no parceiro amado. Havia uma mistura
de pena, preocupação e verdadeiro carinho. Ele tocou o rosto do amigo, muito
levemente.
- Tu és tão bom para mim…
- E tu estás tão chapado...
Ele fechou os
olhos e adormeceu com um sorriso no rosto.
***
O tempo, paciência, medicação e vigilância rigorosa provaram ser o
tratamento mais eficaz para aquela sua esquizofrenia.
Os médicos o dispensaram do centro de tratamento, depois de decidir que
estava pronto para voltar à sua vida quase normal, e para as coisas e
pessoas a que estava acostumado, já que os sintomas pareciam haver
desaparecido completamente.
Ele ficou aliviado e seu melhor amigo e mentor também. Eles precisavam
de uma comemoração. Decidiram ir à casa de praia, pois ele
queria passar um tempo à beira-mar, longe de médicos e enfermeiras.
Pegaram o
carro e dirigiram-se para o litoral, para passar mais
do que apenas naquele fim-de-semana fora.
***
- Não vás embora. Não quero mais que tu vás embora.
- Eu estou bem aqui. Não te preocupes. Eu não vou a lugar nenhum.
- Fico triste quando penso que ele morreu daquele jeito. Eu ainda me
sinto culpado por toda esta confusão...
- Ele não está morto, bobo!
- Como assim?
- Como ele podia estar morto? Ele nunca foi real.
- Tu também não deverias estar aqui. Não
mais... pelo menos... mas...
Ele sorriu. Aquele sorriso estranho de novo.
- Tua mente é mais poderosa do que tu consegues admitir! Já
tomaste o medicamento hoje?
- Sim, claro.
- Então?
- Tu ainda estás aqui.
- Vês? Se depois de todo esse tempo tu ainda me vês... Bem, tu sabes
somar dois e dois. Fico feliz que tenhas mantido nosso segredo, de
que eu, nunca, realmente, desapareci. Agora, olhe em volta.
Vês onde ele está? Naquele lado da praia, perto das pedras?
Ele deu alguns passos tímidos naquela direção.
Sua perceção de tudo ao seu redor parecia mais precisa e clara do que
nunca: a brisa... o mar revolto... um som que ele conhecia
muito bem...
O disco caiu
perto de seus pés. Quando ele se inclinou para pegá-lo, ouviu uma
risadinha e ergueu a cabeça. Os cabelos ruivos do homem
brilhavam ao sol.
- Oh!
Deus!
Ele deu-se conta do quanto amava aquele rosto bonito e
masculino e aquele sorriso brilhante, quase mais radiante que o sol.
Ele olhou para o recém-chegado, sorrindo e sentindo-se
aliviado. Os dois se abraçaram em silêncio e começaram a
chorar, sentindo uma felicidade estranha e autêntica.
O céu acima deles estava muito límpido e azul. O
vento rodopiou em volta deles e pareceu-lhes que recebiam um
abraço e um beijo. Ouviu-se uma risada divertida.
Ele
sabia o que acontecia. Zéfiro ria deles, naquele
momento de intimidade, sem interferir mais que o necessário, para
deixar-lhes saber que estava por perto.
***
Era um dia ensolarado e quente, e a brisa era realmente agradável.
A mão de seu amigo pousou sobre seu ombro e ele se sentiu protegido, amado
e, se aquilo fosse mesmo possível, tão livre quanto
uma gaivota.
- Tu és a criatura mais gentil e mais amada do Universo! Eu
nunca poderei agradecer o suficiente pela paciência,
cuidado, atenção e...
- Oh! Pare com isso! Eu, realmente, me
importo muito contigo…. e não tenho mais medo de dizer
isso.
Tirou a t-shirt e livrou-se dos tênis e
bermudas, depois caminhou direto para o mar,
seguido de seu melhor amigo, que também estava nu e se
sentindo tão livre quanto ele.
Duas figuras os observavam, sentados nas rochas, a uma distância segura.
Ele fingiu não
vê-los, mas sentiu que ambos sorriam, divertindo-se com aquela cena.
***
A parte final em Português. Revelações, processos e uma amizade levada ao extremo.
ResponderEliminarboa pintura ... homem sexy :)
ResponderEliminarObrigado, Dylan.
Eliminar