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domingo, 11 de março de 2018

Pelo Litoral (Parte 5)


- Eles têm uma filial no sul, na Capital. É para lá que vamos. Fica mais difícil de sermos detetados e encontrados. Quando perceberem, já estaremos longe… espero eu!

- Se eu for contra esta ideia, não vai adiantar nada, vai?

O rapaz de óculos parecia desconsolado, derrotado e assustado. O outro ignorou a pergunta. Estava mais concentrado em fazer os planos para a viagem até a Capital.

- E vamos de comboio. Se formos de carro alugado, eles podem ter meios de saber. Não temos ideia das redes de contacto que eles têm, mas esse pessoal é muito perigoso. Usando os transportes públicos permaneceremos incógnitos, por mais tempo.

- Eles pensam que estamos mortos.

- Por enquanto… e é melhor deixá-los pensar assim, até…

- Até sermos mortos de verdade?

Os dois trocaram olhares sérios e preocupados.

***

- Pelo menos estamos mais tranquilos. Até agora, todas as informações passadas estão corretas. As amostras comportaram-se lindamente, conforme o relatório. Agora, temos que aguardar a última parte do material, para iniciarmos a produção…

- Podemos confiar nele?

- Temos alguma razão para duvidar? Até agora, ele foi impecável… embora bastante imprevisível… mas a impressão que deu foi que tudo o que tem feito tem sido por excesso de cautela. Dado a origem dele, tem mesmo que ser prudente. Isso atrasou o projeto um pouco, mas não íamos longe, sozinhos, de todo jeito.

- Não devemos ter pressa. Se apressarmos as coisas, poderemos levantar suspeitas indesejáveis. O homenzinho tem razão. Tudo a seu tempo… 

A reunião da direção da N.M.E. foi interrompida pelo som do telefone. O executivo atendeu com rispidez, dizendo:

- Eu disse que não queria ser interrompido. O que pode ser tão importante…

Aparentemente interrompido, ele mesmo, por notícias urgentes e de relevância inquestionável, o homem ouviu, em silêncio e, sem dizer mais nada, desligou. Menos de cinco segundos depois, a secretária entrava com um envelope pardo nas mãos. 

- Senhores, temos boas e más notícias. A boa é que o material que esperávamos acabou de chegar, por correio especial. Será suficiente para concluirmos as análises e começarmos a produção dos fármacos, que serão um grande passo na história dessa empresa. Estamos entrando numa era muito particular. É o começo do futuro.

- E a má notícia, então?

O homem olhou para os outros membros do Conselho Diretor da N.M.E. e pigarreou. Abriu cuidadosamente o envelope, de onde tirou um bloco de apontamentos, aparentemente bastante desgastado pelo uso. Não parecia nada com o relatório que ele havia recebido anteriormente. A secretária, então, entregou-lhe um outro envelope menor, aberto e que continha uma carta. Ele retirou o papel de dentro do envelope e desdobrou-o, lendo a mensagem em voz alta.

***

- Eu não contava com essa. Temos que ser muito cuidadosos. Se formos descobertos, estamos em uma grande confusão. Os olhos, todos, voltar-se-ão para nós.

- Não seremos descobertos. Ninguém, nunca, saberá que fomos nós.

- Espero bem que não.

- Não se preocupe. A empresa nunca será associada ou responsabilizada por um acidente num laboratório de pesquisas na Universidade. Acidentes acontecem, todos os dias, em laboratórios de pesquisas, mormente no campus Universitário.

- Mesmo assim, devemos estar preparados. Melhor evitar qualquer contacto com as pessoas. Vamos aproveitar que já é tarde da noite. Assim fica mais fácil de não levantar suspeitas ou dar na vista.

- Vou buscar a carrinha. Se acontecer algo, que possa suscitar quaisquer tipos de perguntas, aquele é o veículo que já frequenta o campus com mais frequência e, portanto, pode parecer mais natural… 

- OK.

Assim que o colega saiu, o chefe da Segurança pegou o telefone e digitou um número da lista de speed dial. Esperou um par de segundos e falou, em voz baixa:

- Estamos prontos. Vamos agora para a Universidade… 

Ouviu, em silêncio, a resposta. Sentia-se ansioso e tenso. Uma gota de suor brotou-lhe na testa e escorreu-lhe pelo rosto abaixo. Ele sentiu o perfume de sua própria loção de barba, a exalar. Não era bom sinal que suasse assim.

- Sim… OK. Pode deixar...

***

- Para que lado vamos?

- Pelo que sei, deve haver um hotelzinho numa destas ruas, perto da estação. Deixa-me pensar.

- Devem haver muitos, afinal estamos na Capital. Não será melhor irmos fazer o que viemos fazer, primeiro?

- Ir à empresa? Talvez seja melhor irmos à Universidade… Tive uma ideia.

O rapaz de óculos sorriu. Preferia ir à Universidade, mas sabia que era questão de tempo até ter que enfrentar o desafio, para o qual não se sentia minimamente preparado.

- Já que cá estamos, vamos descer e tomar o metro para a Universidade.

***

A Universidade estava bastante movimentada, como nos dias normais. Havia muita gente a andar de um lado para o outro. Grupos mais silenciosos, estudantes solitários, com fones nos ouvidos, outros ocupados com os telefones de última geração, mocinhas em grupos, dando risadas, pessoas de muitas faixas etárias diferentes, dos mais jovens, ainda adolescentes, até os mais velhos, provavelmente doutorados, todos contribuíam para fazê-los passar despercebidos no meio daquela multidão de rostos desconhecidos. 

- Vamos procurar o laboratório de pesquisas. Aquele artigo que lemos mencionava pesquisas no campo da genética de alimentos, mas que levava à uma mudança na estratégia, mais para o lado da genética humana e alterações no DNA. Isso pareceu muito estranho. Aqui há coisa…

- Se eles estiverem alterando a genética dos alimentos para promover uma mudança no DNA humano, isso é, no mínimo, um crime ou a tentativa de um… genocídio?

- Vamos ver o que descobrimos.

O rapaz de óculos consultou as placas de sinalização e apontou para o oeste, onde deveria estar o Departamento e os laboratórios de Biologia. Os dois apresaram os passos. Pareciam ansiosos para descobrir mais e ainda tinham que planear o próximo passo.

Os dois caminhavam em silêncio, quando, de repente, o rapaz de óculos parou e segurou o braço do amigo, com força. 

À frente deles e parada no estacionamento da área reservada aos pesquisadores estava uma carrinha branca. Nas laterias, escrito em grandes letras vermelhas, a sigla da empresa: N.M.E.

- Essa não! Parecem uma praga!

- Vamos voltar, antes que nos vejam. Vamos para a biblioteca. De lá podemos verificar umas coisas, até conseguirmos uma hipótese de voltar para o laboratório. Tomara que eles não fiquem muito tempo por cá.

A Biblioteca não ficava longe, e tinha uma vista para onde o ponto de interesse dos dois estava mais voltado. Eles sentaram perto de uma das janelas voltadas para o oeste e ficaram a vigiar o movimento do veículo. Decidiram que seguiriam para lá, assim que estivessem seguros. Era uma aposta mais acertada e um passo mais seguro.

O dia passou lentamente e eles não viram movimentos da carrinha. 

O motorista saiu algumas vezes de dentro veículo, para fumar. Parecia impaciente, dentro de seu fato escuro. O outro homem entrava e saía do carro, ia até o bar, voltava, ia até o outro lado. Parecia desconfortável também. A noite aproximava-se e eles tinham uma missão a cumprir.

Para desapontamento dos dois rapazes, a biblioteca estava para fechar e eles tinham que sair. Pior ainda, a carrinha ainda estava lá. O movimento dos estudantes e profissionais do campus havia diminuído bastante. 

Eles sentiam que haviam perdido a viagem. Não conseguiram descobrir muita coisa sobre a pesquisa, além do pouco que já sabiam. A única novidade, que ainda conseguiram descobrir, foi que a nova pesquisa estava ligada a um estudo ligado à longevidade, não à uma tentativa de genocídio, como desconfiavam inicialmente. 

Aquela era uma boa coisa. Restava saber a razão deles estarem ali, plantados a tarde toda e também de tentarem acabar com a vida dos dois. 

- Falta uma peça importante neste quebra-cabeças. O que pode ser?

Quatro pessoas caminhavam ligeiras, na direcção do laboratório, assim que os dois estavam a sair do prédio da biblioteca. Àquela hora, não era muito normal, mas nada preocupante. A mulher parecia preocupada. O rapaz que estava com ela, também. Um homem mais velho e um mais jovem, muito pálido, vinham atrás deles. Não perceberam a carrinha e foram até a porta de metal do prédio da área de Biologia.

O que aconteceu, naquele instante, foi tão rápido, que os dois rapazes só tiveram tempo de se esconder, atrás de um dos prédios e observar de longe, com receio de ficarem metidos naquela grande confusão.

O motorista, assim que viu o grupo de pessoas chegar à porta, saiu da carrinha e sacou de uma arma automática, atirando neles. O grupo ainda conseguiu entrar no prédio, trancar a porta, que não ficou fechada por muito tempo. Em poucos minutos os homens, armados, entravam no prédio e, não muito tempo depois, uma grande explosão acontecia no recinto.

Enquanto observavam, assustados, o desenrolar daquela guerra particular, viram que quatro pessoas corriam pelo outro lado, na direcção da floresta. Em pouco tempo, os dois seguranças, ainda armados, seguiam na mesma direcção. 

- O que foi isso, pelo amor de Deus? Estamos ferrados. Agora é que não descobrimos mais nada. O laboratório está todo destruído e não conseguiremos sair daqui, agora.

- Vamos ter que sair, de todo jeito. Em pouco tempo isso vai estar um manicómio. Deve haver um alarme de incêndio, que já deve ter sido accionado. 

Antes mesmo que terminasse de falar, ouviu o som das sirenes. 

Não podiam ser vistos ali. Se testemunhassem qualquer coisa, estariam expostos e a N.M.E. saberia que estavam vivos. Bem na hora que eles viraram, para ir na direção da saída do Campus, viram um homem parado, de pé, atrás deles. 

- Vocês não deviam estar aqui!



***


sábado, 6 de janeiro de 2018

Pelo litoral (Parte 2)


Uma faixa de luz do sol infiltrava-se entre as folhas da árvore e pareciam acender e apagar contra o rosto do rapaz de óculos. Ele abriu os olhos, devagar, ainda meio tonto e com uma terrível dor de cabeça, como se estivesse de ressaca. As imagens foram entrando em foco, como num filme de arte contemporânea.
Deitado num banco da praça, sujo e desalinhado, ele passava por um mendigo ou um drogado, que adormecera ao relento, por falta de lugar melhor. Os poucos transeuntes, que passavam por perto, esquivavam-se da sua figura, como se fosse perigoso ou inconveniente. Ele sentou-se e olhou à volta. Não sabia onde estava. Pela posição do sol, parecia ser já a meio do dia, mas ele não tinha a mínima ideia de como viera parar naquele lugar. Ele sentia o cheiro de comida, recém-feita, bem temperada, no ar. Sentiu fome. Procurou a carteira, mas sem muita esperança de encontrá-la. Sentia-se roubado e aquilo deixava-o nervoso. Não sabia onde estava e não sabia como conseguir ajuda. Olhou à volta, mais uma vez. Precisava lavar-se, trocar de roupa e comer algo.
- Que belas férias!
O rapaz levantou-se e começou a caminhar. Sua cabeça girava. Ele parou e esperou um pouco, tentando recuperar as forças. Respirou fundo e caminhou, decidido a não deixar-se abater, nem perder o equilíbrio.
- Que droga! Eu sou um soldado treinado. Não vou cair aqui, agora. Preciso chegar ao mar, ou ao rio.
Olhou para cima, para tentar seguir o curso do sol. Um sino bateu uma vez. Ele procurou localizar de onde vinha o som. Se há um sino, há uma igreja e deve haver um relógio. Cruzou a praceta e viu que estava bem à frente de uma pequena capela, cuja fachada era toda decorada com azulejos pintados. O relógio marcava 1:15.
Ele caminhou na direcção da igreja, que estava na parte mais alta do lugar. Atrás dela, viu o rio, que corria para a sua esquerda. Aquela era, certamente, a direcção do mar. Passou a mão pela roupa bastante amarrotada e começou a descer a rua.
***
O homem, de aparência estranha, mas vestido com um alinhado terno escuro, feito à medida, caminhou, devagar, até a janela. Tinha o cenho franzido e uma expressão carregada, no rosto. Estava bastante preocupado.
O sol brilhava do lado de fora, num dia típico de verão. A sala refrigerada, para a temperatura constante de 18ºC, tinha poucos móveis. Além de uma mesa com uma dúzia de cadeiras, havia apenas um pequeno móvel, onde uma moderna máquina de café estava instalada, discretamente, num nicho, no canto do aposento. Estava no segundo andar do prédio, na sala mais distante da entrada, onde decisões importantes eram tomadas e, muitas vezes, estas tinham consequências bastante grandes na indústria alimentícia. A N. & M. Enterprises também tinha influência em negócios não tão inocentes quanto a produção de alimentos, mas pouca gente sabia, com certeza, em quais negócios seriam.
O homem observava o movimento que acontecia, naquele momento, ao rés-do-chão, sem mover qualquer músculo da face pouco expressiva. Ele levantou os olhos e concentrou-se num ponto além do jardim bem cuidado, junto a um pequeno bosque, mais adiante, praticamente escondido de quem vinha pelo lado da frente do edifício.
Escolhido com cuidado, o escritório ficava na parte traseira, mais silenciosa e mais discreta. Na rua, uma carrinha branca estacionada, tinha grandes letras vermelhas pintadas nas duas laterais. Ele passou a mão muito pálida pelo topo da cabeça calva e pelo rosto sem nenhum vestígio de barba.
A porta abriu-se às suas costas e ele ouviu a voz do secretário, baixa, mas muito firme:
- Eles estão aqui.
O homem respirou fundo e virou-se, devagar.
- Já era hora. Tragam-nos para dentro.
O secretário saiu e voltou logo em seguida com dois homens vestidos de preto e um outro rapaz mais jovem que eles. Um pouco mais atrás, um outro homem, também vestido como segurança, arrastava, pelos braços, um outro rapaz, de óculos, que tinha as roupas muito sujas e amarrotadas. Este último estava, ainda, meio desacordado.
***
- Não. Eles não sabem de nada. Aquilo deve ter sido um infeliz acidente. Uma coincidência…
- Mas eles agora vão desconfiar de que existe algo grande por trás desta história toda. Aliás, eles não são tolos. Já devem ter suspeitado…
- Temos que nos livrar deles. Não podemos deixar pontas soltas.
- Já deixamos. Agora temos que consertar esta burrada.
- Com cuidado e um bom plano, para não deixar nenhuma sombra de dúvidas a respeito de nossa integridade…
- Com certeza. A N.M.E. não pode ser associada a nenhum tipo de falcatruas. Temos que manter-nos insuspeitos. O sucesso dessa empresa depende de nossa discrição e de certos segredos.
- Teremos o máximo cuidado. Pode deixar.
O homem olhou sério para o chefe da Segurança e não pareceu muito convencido, mas fez um leve aceno com a cabeça, assentindo, para que o homem saísse logo e ele pudesse ficar sozinho na sala. Precisava pensar.
***
O rio parecia calmo, tranquilamente correndo na direção do mar. O rapaz aproximou-se e entrou com os pés na água fresca. A sensação era bem boa. Ele abaixou-se, lavou o rosto e a cabeça com aquela água e até sentiu vontade de nadar um pouco. Por um momento, esqueceu-se que não sabia, exatamente, onde estava e que não tinha ideia de como fora parar naquele lugar.
Continuou a seguir na direcção do mar. Minutos depois, quando já estava na praia, avistou os velhos moinhos. Ele não reconheceu o lugar, mas seguiu adiante. Precisava encontrar algumas respostas. Teve receio que fosse mal compreendido, com as roupas naquele estado, por isso evitou contacto directo com as pessoas que passavam por ele, enquanto caminhava pela orla.
Mais à frente, avistou uma estação de serviço, foi até lá e entrou. No balcão, viu um homem sentado, de costas, vestido com um terno escuro, tomando café. Com aquele calor, não pareceu-lhe a melhor indumentária, mas quem era ele para estranhar qualquer coisa. Antes que falasse com o empregado, a porta atrás de si abriu-se e ele viu outro homem, um grandalhão, também vestido de terno escuro, entrar. Não percebeu que uma carrinha branca estava estacionada ao lado das bombas de combustível. Só sentiu uma pancada e teve a impressão que começava a cair num poço escuro.
***
- Estás bem?
- Olha para mim. Pareço bem? Estou todo sujo, fui batido, drogado, arrastado e não sei o que está acontecendo. Como posso estar bem?
- É verdade. Foi uma pergunta estúpida…
- Onde estiveste? Quem são esses?
- Só posso dizer o que sei… o que não é muita coisa.
- Tu saíste, com eles, da pensão. A moça da recepção me contou.
- Sim. Estava sob a mira de uma arma. Tive que parecer natural, para não levantar mais confusão, ou ser morto ali mesmo. Estes homens são perigosos.
- Quem são eles?
- Eles trabalham para a N.M.E., uma empresa ligada ao meio alimentício, mas isso é só uma fachada. Há muito mais coisas por trás disso tudo.
- E como tu sabes disso?
- Eu fingi que estava desacordado e ouvi a conversa. Aqui há muito mais que as aparências querem mostrar.
- E por que nós estamos envolvidos nisso?
- Estávamos no lugar errado, na hora errada… ainda estamos…
- Como assim?
- Eles não sabem quem somos, mas pretendem livrar-se de nós. Temos que dar um jeito de sair daqui.
- Como? Se eles vão-nos matar… Que saída temos?
- Eles querem que pareça um acidente. Ouvi quando eles falavam com o chefe. Talvez tenhamos uma hipótese, mas vai depender de quantos daqueles gorilas teremos que enfrentar.
- Enfrentar homens armados, com aquele tamanho? Péssima ideia. Péssima ideia!
- Tens uma melhor?
***
“Estava tudo tão bem planeado, com tanta precisão, antes de enviar... “
O homem tentava encontrar uma falha no procedimento, mas não conseguia.
“Por qual razão estes intrometidos tinham que aparecer, logo naquela hora? Como não foi possível prever? Que detalhe passou, assim, tão despercebido?”
Ele não tinha dúvidas que ia ganhar muito dinheiro e mudar o curso da humanidade, quando aquele pequeno detalhe fosse resolvido. Ia ser um homem muito rico e poderoso. Sua ambição não tinha limites e passava por cima de muitos princípios, incluindo aqueles relativos aos escrúpulos.
Mas aquela interferência, naquele momento, não era bem-vinda e tinha que ser resolvida logo, de maneira eficaz e eficiente… E logo!
- Que droga!
Ele pegou o fone e discou um número conhecido. Em menos de dois minutos o chefe da Segurança entrava, apressado, na ampla sala. O homem estava de costas para a porta. Sem virar-se para cumprimentar o recém-chegado, ele falou, baixo, firme e tentando controlar a emoção ao extremo.
- Dêem um jeito naqueles dois. E tratem de não deixar nenhum vestígio. Agora!
- Sim, senhor.
O chefe da Segurança saiu, fechando a porta, com cuidado, atrás de si. Conhecia bem seu chefe. Aquele controlo todo era apenas uma capa protectora. Ele devia estar a ponto de explodir.
O homem continuou a olhar para o lado de fora, através do grande e bem cuidado jardim. No fundo podia ver o pequeno bosque de pinheiros, cujo limite era coberto com serralhas e outros tipos de asclépias, formando um bonito efeito, mas que tinham, na verdade, sido plantadas com um objectivo muito específico. Ele viu as borboletas a voar à volta das florzinhas coloridas e sorriu.
Enquanto estava a observar, distraidamente, aquela bela criação, uma porta abriu-se no lado esquerdo do jardim e um grupo de homens atravessou o pátio. Dois deles, vestidos com trajes escuros, carregavam, visível e ostensivamente, poderosas armas automáticas.