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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Outros Estudos em Vermelho e Azul... (Parte 4)


- A senhora sabe porque está aqui?

A mulher, com aspecto um tanto lívido, sentada à frente do homem de branco, balançou a cabeça, positivamente.

- Teve uma síncope: uma forma de ataque de pânico, ocasionado pelo excesso de trabalho, provavelmente compulsivo. A senhora tem trabalhado demais, não tem? Provavelmente não se alimenta, nem dorme direito… A senhora sabe as consequências disso?

O médico de plantão já conhecia o diagnóstico, sem precisar fazer mais que uns simples exames à paciente à sua frente. Os sintomas eram evidentes demais, para quem já estava acostumado a ver, repetidamente, as pessoas terem comportamentos indecentemente obsessivos em relação ao trabalho.

- Sei, mais ou menos… mas o ‘SENHOR’ (ela usou uma dose de ironia ao pronunciar a palavra, fazendo uma pausa quase imperceptível) vai dizer-me de todo o jeito, não vai?

O médico fingiu não perceber o sarcasmo e disparou:

- Se não procurar ajuda profissional especializada, imediatamente, vai ter que voltar aqui e com certeza será muito pior… Além de alguns exames médicos e um acinético, vou-lhe passar o nome de uma óptima psicóloga, mas a senhora vai ter que se comprometer, sem desculpas, a seguir a terapia à risca…

(Se ele me chamar de ‘senhora’ mais uma vez, juro que, no mínimo, furo-lhe os olhos!!!)

- Ok, doutor. Eu vou seguir suas instruções à risca… Prometo!

- Já falei com seu superior e ele concorda comigo. A senhora VAI seguir a terapia à risca.

(Aaarrrghh!!! Agora ele pediu. E ainda teve a audácia de colocar a ênfase no verbo… Vou-lhe directo ao pescoço… sem dúvida alguma! Alguém me segure, senão ele não me escapa das unhas…)

Levantou-se, estendeu-lhe a mão, com educação fingida e, com um sorriso forçado, virou-se e saiu pela porta afora, com a prescrição médica de um forte calmante dentro do bolso da calça…

***

Um rapaz com profundos olhos azuis entrou no Café. Avistou a mulher sentada, sozinha, à janela e aproximou-se.

-‘Posso sentar-me aqui?’

Ela olhou-o, visivelmente pasmada ante a ousadia do rapaz que acabara de chegar. Ele acomodou-se, antes mesmo que ela tivesse tempo de responder. Sua acção não passou despercebida de todo. Ele observou com cuidado o ambiente e o desconforto dela. Viu também que um dos atendentes de mesas que estava de pé, próximo ao balcão do Café, não tirava os olhos de cima deles. Uma veia perversa inundou-se o sangue com sede de vingança, mas ele soube permanecer impassível. Precisava de mais certeza. 

Chamou o rapaz para pedir um café, mas com um intuito bem mais específico. Percebeu o nervosismo de ambos. Suas dúvidas dissiparam-se, imediatamente, assim que viu a troca de olhares entre os dois. Misha sorriu-lhe e seu sorriso foi o mais encantador que ele conseguiu produzir. Ela retribuiu, meio desajeitadamente, sem saber exactamente o que fazer. O rapaz, que os servia, franziu o cenho.

(Bingo!)

 A semente da dúvida havia sido plantada. Agora era somente uma questão de tempo… e, este, ele tinha à sua inteira disposição… e mais que de sobra. Misha não precisou, entretanto, de um segundo assédio.

Naquela noite, quando estavam juntos, após amarem-se como dois náufragos desesperados, em busca de uma tábua de salvação, enquanto o calor arrefecia seus corpos, o rapaz rolou para o lado e ficou, em silêncio, a olhar o teto. Ela percebeu que ficou um clima algo estranho a pairar no ar.  Mesmo assim, falou, com cuidado:

- Eu gosto tanto de estar aqui…

Mas o rapaz parecia estar muitas milhas distante dela. Uma lágrima de tristeza rolou-lhe pelo lado da face, quando ele deu um longo e angustiado suspiro…

***

Misha passou a observar, de perto, os passos da mulher. Viu que suas idas ao Café da esquina cessaram após aquela ocasião em que esteve presente. Certificou-se, primeiro, que estava certo, depois decidiu aproveitar-se da situação. Deixou passar um tempo e voltou ao Café, dirigindo-se ao funcionário de mesa que já conhecia.

Perguntou, como se fosse a coisa mais natural do mundo, como estava a namorada. Apesar das tentativas do rapaz em afirmar que não havia nada entre ele e a investigadora de polícia, o outro não pareceu convencido.

Após uns poucos minutos, Misha então, desafiou o rapaz. Apostou que conseguia levar a mulher para cama.

- Se não há nada entre vocês, não há porque se preocupar, não é mesmo?

-‘Por que estás fazendo isso?’

- ‘Para provar que as coisas não são o que aparentam ser’

O verdadeiro intuito, porém, estava longe de ser tão simples.

***

-Tenho percebido que andas muito sozinha. Cada vez que te vejo, tenho a impressão que estás mais triste. O menino deixou-te?

- Que menino?

- Achas que eu não sei o que se passa? Só porque não frequentas mais o ‘Templo’, não quer dizer que passas despercebida… Tu és uma mulher atraente, mesmo por trás desta fachada séria de policial durona. E eu sei que me achas interessante.

(‘E arrogante’ - pensou ela, fazendo um leve muxoxo…)

- Vejo o jeito que me olhas e sei que também me deves desejar...

- Se alguma vez te olhei com algum desejo, deve ter sido há muito tempo atrás. Essa atracção já não existe. Agora eu estou interessada em outro homem, muito diferente de ti.

- O menino do Café…

Ela meio que entristeceu. Ele riu, vitorioso.

Ela não negou, nem confirmou. A afirmação tinha um grande fundo de verdade. Estava-se apaixonando pelo outro rapaz, embora, naquela ocasião, estivessem separados, depois do incidente em que ele lhe pedira um tempo para pensar. Seus olhos encheram-se de lágrimas a recordar a estranheza do último encontro que tiveram. Já haviam-se passado vários dias…

Ele percebeu o estado dela e aproveitou-se da situação e fragilidade demonstrada no momento. Chegou-se mais perto, olhou-a nos olhos e sorriu. Ela não conseguiu desviar o olhar. Ele tocou-lhe, com delicadeza, a face morna e ela, em reacção, fechou os olhos…

***

Misha era um mestre na arte. Sabia todos os segredos da sedução, como preparar um ambiente sensual e conhecia os pontos sensíveis do corpo da mulher. Deu-lhe prazeres que ela não sabia que existiam, mesmo quando estava com seu jovem amante. Era evidente que ele era um profissional do ramo e sabia muito bem como agradar.

- Agora vais ter que mentir ao menino…

- Eu não minto; só não preciso falar toda a verdade… Nunca prometemos fidelidade, nem tampouco exclusividade, um ao outro…

Sabia, porém, que o que acabara de dizer não era bem uma verdade incontestável… e sentia muito que assim fosse.

Como se numa encenação bem ensaiada, o telefone dela tocou…

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Propostas


- Nunca deves fazer-me este tipo de propostas. Eu posso acreditar nelas e cobrar-te, com juros, mais tarde…

Disse aquilo com um sorriso e com uma naturalidade, que pareceu-me tratar-se de uma simples brincadeira de sedução. Mal sabia que a intenção, por trás daquela brincadeira, era mais séria que se podia imaginar.

- Tens medo?

- De quê? De acreditar? Claro que não!

Deu uma risada alta e jogou a cabeça para trás. Aquele gesto era-lhe absolutamente adorável e, aquele sorriso, deliciosamente apaixonante.

No meio daquela galhofa, íamos dizendo pequenas verdades, apalpando o terreno, nos aproximando aos poucos e propiciando um crescendo de expectativas. No fundo, queríamos mais do que verbalizávamos e desejávamos mais que tencionávamos demonstrar.

Minhas pupilas devem haver-se dilatado, quando olhou-me subitamente nos olhos, pois notei que simulou um sorriso maroto, que fez-me enrubescer, como se houvesse desvendado um mistério, sem necessariamente pretender. Eu estava à sua mercê, como um navio entregue nas mãos de um experiente timoneiro, mesmo que navegando em águas desconhecidas…

Aquela deixa não passou despercebida de todo. Um toque de pluma contornou-lhe o desenho das sobrancelhas, em volta dos olhos, desceu pela curva do nariz e, finalmente, seguiu o delicado traçado dos lábios… Nossos olhos encontraram-se novamente, quase por acaso, enquanto nossas bocas somente seguiram o curso natural das coisas.

Em poucos segundos estávamos grudados um no outro, num beijo tão ávido e num abraço tão firme, que parecia que um queria virar tatuagem impressa na pele do outro.

Suas mãos procuravam minhas costas, minhas nádegas, minhas coxas… meu corpo inteiro.

Minhas mãos seguravam firmemente seus cabelos e sua cabeça, buscando o pescoço, descendo com força, quase arranhando suas costas, trazendo seu corpo para mais perto do meu, como se aquilo fosse, de alguma maneira, possível…

Não sei onde nossas roupas foram parar, no meio daquele descomedido frenesi. Só sei que já não conseguia mais pensar, nem usar a razão ou mesmo a coerência… Havia-me transformado no mais servil escravo da emoção, do desejo e da luxúria.

Eu olhava os detalhes e admirava a pele rosada, sardenta… os pelos ruivos… a verdade sempre se esconde por baixo de tudo… Afinal, eles eram encantadora e atraentemente ruivos - e minha euforia ficou tão rubra quando a cor daqueles pelos, que inflamaram minha libido, transformando nossos corpos em pontos de ignição de um incêndio, a espalhar-se, incontrolável, com a velocidade de um furacão de prazer.

Deixei-me conduzir por labirintos de carne e músculos, peles e pelos, linhas tão bem desenhadas - por onde minhas mãos deslizavam sem parar -, salivas e secreções, sons e cores, sussurros e gemidos, num tempo atemporal e infinito… até que um grito abafado prenunciou um orgasmo, enquanto um vulcão em erupção lançava sua lava quente e imobilizava os espasmos do momento, num abraço apertado, envolvendo braços, pernas, bocas… e corpos tão emaranhadamente unidos…

No calor da exaustão que seguiu-se, as palavras, os gemidos e os sussurros transformaram-se em riso… e o derradeiro riso, num único compromisso:

- Podes fazer-me as propostas e as promessas que quiseres; quando quiseres; onde quiseres; mas nunca mais me deixes partir! Nunca!

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Um Vazio...


Pela janela, eu olhava a faixa escura, além das luzes da cidade. Um desconfortável e negro vazio esmagava-me a alma, sem piedade alguma, pintando minhas recordações com tons sombrios. O som da campainha a tocar trouxe-me, subitamente, de volta à realidade.

Abri porta e convidei-o entrar. Com um sorriso maroto e atraente, puxou-me para si. “Abraçou-me, como se abraça o tempo, a vida num momento, em gestos nunca iguais”*...

Depois disse-me ao pé do ouvido, que sentia saudades minhas e fez-me navegar naquela onda de carinho. Suas mãos tornaram-se suaves instrumentos de deleite, ao tocar minha pele, meus cabelos, minha boca… Ele experimentou o sabor do meu corpo, minha saliva, meu suor… fazendo-me gemer, como se sentisse alguma dor… tão próxima do prazer, que confundia-me os sentidos.

E olhou-me como se visse através de mim… e consumiu-me, como se faminto estivesse… e bebeu-me, com a sede de um andarilho no meio do deserto… e sufocou-me, com seu beijo voraz, um grito incontrolado, como se quisesse alimentar-se do meu gozo…

Se pudesse ler-me os pensamentos, perceberia que nos carinhos dele eu ganho asas… poderosas e imensas. E sinto que “uma asa voa a cada beijo”* seu e que ele dá-me aquilo que eu nunca pensei ansiar: a loucura de voar e ganhar outros céus…

E quando, depois de nos rendermos ao desvario da entrega, o calor de nossos corpos arrefece e ficamos abraçados, quietinhos, a aproveitar o doce remanso da paixão, ele fala de suas incertezas e inseguranças. E diz-me que tem receio de pensar que nossa relação não seja o que eu espero, nem o que ele pode oferecer-me. E, às vezes, até chora… um choro angustiado e quase silencioso…

Eu, porém, sinto-me em segurança, num conforto preenchido por uma paz, que bem pode ser falsa, mas que não importa, realmente, contanto que esteja ali, com ele, pelo menos naqueles intensos momentos em que o sinto só meu.

Às vezes apetece-me também chorar, no abrigo de seus fortes braços, sentindo o calor de seus lábios a roçar-me o pescoço e arrepiar-me a pele, numa impressão controversa de frio e quente, que o diverte e o faz rir-se de mim, fazendo-me enrubescer com falso pudor… mas, sentindo-me, ao mesmo tempo, mais que especial.

Ele, então, recomeça a brincadeira de tocar-me o corpo, com a delicadeza de suas mãos grandes e mornas, fazendo-me desabrochar com seu contacto, como se das cinzas revivesse e a descobrir-me sensual, como nunca dantes pensara ser...

Uma explosão vermelha faz-me imaginar que o mundo lá fora parou de girar… distante de nós, numa outra galáxia, talvez… até que o despertador do telemóvel, insensível e cruel, toca outra vez e ele levanta-se da cama quente - em um silêncio, que não sei, ao certo, compreender – veste-se e sai, por fim, (...),”levando-me o perfume de tantas noites mais”.*

Eu, então, encolho-me com as cobertas entre as pernas, como se fosse uma flor a murchar ao frio e ao vento e volto a sentir aquele imenso vazio negro a dilacerar-me por dentro, com seu frio e afiado punhal, que vai cortando, lentamente, todas as minhas alegrias e esperanças.

Vejo-o a partir novamente, após a breve despedida… e penso nele a chegar a casa e abraçar a fiel esposa…


(* Extraído de Pedro Abrunhosa: Eu não sei quem te perdeu)