I ride fierce winds
And thunder bolts,
Fighting wild beasts
And startling thoughts,
While I face ghosts
I am not scared of
Anymore.
I bring anguish
And I bring solace,
The aching pressure
And warm touch
Of fingertips
On bare skin,
Rising chills
Up the spine,
While I slowly
Knead the pain away.
I ride horses
That cannot be tamed
And passions
That should not be controlled,
Making sweet attempts
To bring stillness,
Where there once
Were blowing storms.
I (just like you) had
My heart broken
Uncountable times,
Before the pieces
Were mended
In a puzzle of pain,
To allow them
Finally ascend
-Alive and anew-
From flames
That burned inside
My soul,
Like the Phoenix
Born and risen
From its own ashes,
To a fresh
And praiseworthy life.
I have touched
Strings of hatred
And distrust
To produce sounds
Of sweet harmony
And pleasure
From the cold
And tensioned steel,
Bringing a silent torrent
Of screams
That flooded
The mind and the eyes
Of my sweet
Candied loving one.
I ride the fears
Of your untouched spirit
And find myself
Missing emotions
I have never had,
While a question
Comes straight
From the reason
Of my mind
To the essence
Of your feelings:
‘What is it,
After all,
That are you so afraid of?’
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Tonight...
Tonight,
What I need
Is just someone
To hold me
In a tight embrace,
To shush me
Tenderly
And to tell me
Quietly
To slow down
For a while,
As the world can
Turn without me…
Tonight…
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Ode to G
I sing my song
To the splendor
And kindness
Of the Archangel
Who touched my cold heart
With warm affection.
I dance
To the harmony
And rhythm
Of sensuality,
Teasing –intentionally-
A Cherub who comes
From a different Heaven
And who makes my soul
Feel enlightened
With waves
Of encouragement.
I recite my verses
To the blowing wind,
Knowing - deep inside -
My voice will be heard
By the only one
Who could be proud
Of the ode
I chant
With all my emotions,
-The one whose eyes
Are like the waters
Of the oceans,
Bright and deep,
Full of astonishing beauty
And unrevealed mysteries;
The one whose smile
Melts my heart away,
Bringing more comfort
To my body,
Than a burning fire
In wintertime.-
I sing my elegy
To the one Muse
-The only one-
Who can understand
That my heart turned into
A better place
Ever since those eyes
Were set on me
With sweet
And tender gentleness
And a most watchful
And devoted friendliness.
To the splendor
And kindness
Of the Archangel
Who touched my cold heart
With warm affection.
I dance
To the harmony
And rhythm
Of sensuality,
Teasing –intentionally-
A Cherub who comes
From a different Heaven
And who makes my soul
Feel enlightened
With waves
Of encouragement.
I recite my verses
To the blowing wind,
Knowing - deep inside -
My voice will be heard
By the only one
Who could be proud
Of the ode
I chant
With all my emotions,
-The one whose eyes
Are like the waters
Of the oceans,
Bright and deep,
Full of astonishing beauty
And unrevealed mysteries;
The one whose smile
Melts my heart away,
Bringing more comfort
To my body,
Than a burning fire
In wintertime.-
I sing my elegy
To the one Muse
-The only one-
Who can understand
That my heart turned into
A better place
Ever since those eyes
Were set on me
With sweet
And tender gentleness
And a most watchful
And devoted friendliness.
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Touch of an Angel
An angel touched
My soul
With his right hand
And made me feel
A warm wave of
Love and affection
Like never before,
Bringing excitement
To a life
That was dull
For yet too long.
Before I dove
Into the unknown
And empty void,
He touched
My heart
This time
With his left hand,
Telling me to hold on
And be prepared,
For time
Would come,
When it would be right
To feel
-More-
Than just enthusiasm,
As life
And love
Are more than just
Moments set alone
In time and space
And one-night stands.
The angel touched my emotions
With his both hands
Telling me
Great things were
On the way
If I learned
How to be patient
And linger,
Until time proves
What I was feeling,
Since he laid his hand
On me,
Was worth
The waiting.
My soul
With his right hand
And made me feel
A warm wave of
Love and affection
Like never before,
Bringing excitement
To a life
That was dull
For yet too long.
Before I dove
Into the unknown
And empty void,
He touched
My heart
This time
With his left hand,
Telling me to hold on
And be prepared,
For time
Would come,
When it would be right
To feel
-More-
Than just enthusiasm,
As life
And love
Are more than just
Moments set alone
In time and space
And one-night stands.
The angel touched my emotions
With his both hands
Telling me
Great things were
On the way
If I learned
How to be patient
And linger,
Until time proves
What I was feeling,
Since he laid his hand
On me,
Was worth
The waiting.
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Em Branco...
Dor… Letargia...
Por que não consigo abrir meus olhos. Que zumbido é este na minha cabeça? Onde estou eu?
Meus pulsos doem, meus braços estão imóveis. Com esforço, abro os olhos, devagar. As imagens vão se ajustando, aos poucos, na luz quase ofuscante do quarto onde estou. Este lugar é estranho.
Flash… Branco…
Tudo aqui é branco. As paredes são brancas. A cama e os lençóis são brancos. A camisa deste jovem é branca…
Não…
Ele está todo trajado em branco. Quem é este homem, que me olha com uma expressão engraçada?
“Calma”, ele pede, ao me ver forçar os braços. Sua voz é calma, branda, relaxante, quase me causa mais sonolência. “Não se mexa muito, para não abrir os ferimentos”.
“Que ferimentos?”, pensei eu. Ele toca minha fronte, como se tentasse perceber se tenho febre.
A pele dele é pálida - talvez pálida demais - mas os olhos… os olhos… são azuis… profundamente azuis. Eles me fazem lembrar… Acho que estou enlouquecendo.
Flash… Azul…
Os olhos de outro homem adornam a face deste jovem, que me olha com um misto de compaixão e curiosidade. Ah! Como eu lembro bem… amei o dono daqueles olhos com todo o meu coração…
Ele sorri, ao me ver fixar o olhar no dele e gemer, baixinho, com dificuldade. Um sorriso tão suave e encantador. Aquela curvinha adorável, decorando o canto da boca bem desenhada. Ele se aproxima e acomoda o travesseiro atrás da minha cabeça. Chego a sentir o perfume suave da pele dele. Parece até que conheço este cheiro, de outra época, de outro lugar…
Este homem me traz o passado de volta, tão nitidamente…
Minhas pálpebras pesam. Tenho sede. Peço água. Quase não reconheço minha própria voz. Estou fraca. Fecho os olhos e as lembranças vêm claras na minha mente.
Vejo a figura dele - seu sorriso, seu porte altivo e encantador… e seus olhos. Quando o vi, pela primeira vez, pareceu-me que dois faróis azuis iluminaram a sala de espera próxima ao portão 21, que se tornou vazia, de repente, no meu delírio momentâneo. Ele era magnífico, como uma grande e imponente fortaleza, não necessariamente intransponível.
Na minha cabeça era mais belo que o era, na realidade, mas eu também não via muita diferença na ocasião. Não percebi que não era tão alto quanto a impressão que me causou.
“Beauty is in the eye of the beholder”…
“Cuidado com os movimentos bruscos”- pediu-me o enfermeiro.
Eu ainda não sabia do que ele falava. Tentei me concentrar, para buscar uma memória que fosse, que explicasse os tais ferimentos.
Minha cabeça dói. As luzes enfraquecem… meus olhos pesam… Acho que vou desfalecer.
Outras vozes se aproximam. A única coisa que consigo distinguir, nesta confusão de sons é uma frase solta: …”os pulsos cortados”…
Flash… Vermelho…
Não queria perder os sentidos, mas meus esforços não pareciam surtir efeito.
Algum deus brincalhão aproximou-o de mim naquele voo. Meu coração deu um salto quando ele se sentou ao meu lado. Surpresa e extasiada pela sua presença, fiz de tudo para que me visse melhor que eu realmente era. Aqueles cativantes olhos de safira mostraram uma certa melancolia que me comoveu de imediato…
- Ah, meu anjo caído! –
… Como eu queria refrescar a sua aflição. Ele mostrou que confiava em mim. E abriu a alma, para que eu pudesse ver que ele era uma pessoa normal, embora não o fosse. Falamos de coisas que outros não falariam, dissemos coisas que o coração queria partilhar - parecíamos grandes amigos, daqueles que a gente não tem vergonha de dizer que ama. E eu percebi que já o amava.
Mais do que deveria… menos que poderia.
Quando ele falava de sofrimento, eu sofria mais que ele. Se ele sorria, eu me alegrava como se fosse a minha própria felicidade. Eu já nem era mais eu. Me tornara confidente e conselheira, mas não era isso que eu queria ser. Eu queria ser mais importante. Queria ser parte da vida dele. Observava-lhe, com cuidado e atenção, os gestos, a forma de falar, a risada dele, solta como de uma criança. Eu me concentrava só nele. Havia sido uma paixão imediata. Justamente eu, que tenho meus pés firmes no chão e que não tenho tendência para obsessão…
Onde está o enfermeiro? Deus me ajude! Não quero deixar aqueles olhos saírem de perto de mim. Não sei se vou suportar isso… outra vez...
Perdi a vergonha de me tornar ridícula, desde que ele soubesse que eu o amava. Ele percebeu, por isso pareceu-me que teve o cuidado de não me dar corda demais. Mas eu já nem tinha mais freio. Deixei-o saber que estava totalmente apaixonada por ele. Ele riu. Eu também. Já ansiava por um reencontro, que ele dizia que também desejava. Por fim, trocamos endereços de e-mail e Messenger. Nossos contactos on-line haveriam de ser frequentes. Pelo menos eu assim pensava.
Como era possível que tanta coisa tenha acontecido em apenas uma viagem com cerca de 10 horas de duração?
Como o mundo parecia pequeno. Como a vida é incrivelmente engraçada e nos dá tanto, em tão pouco tempo. Como aquelas horas passaram rápidas, na viagem que havia sido a maior alegria que eu tivera em muitos anos. A partir daquele dia, passei a amar o Oceano Atlântico e os céus por nos terem aproximado daquela maneira inusitada.
Quando ele partiu, pela mesma porta que eu cruzei, momentos depois, senti meu peito apertar. Ia pegar a conexão para longe e eu ficaria neste lugar. Prometera-me a mim mesma que faria de tudo para diminuir a distância e abreviar o tempo em que ficaríamos afastados um do outro.
Mas não foi tão fácil quanto parecia, a princípio. Ele tinha uma vida toda dele. Eu queria fazer parte dela. A distância lhe dava segurança e mantinha a intimidade debaixo de um chapéu protector, ao qual meu acesso era limitado. Tentei várias vezes programar um reencontro, mas algo sempre se interpunha no meio.
Quando ele estava bem, espaçava os contactos. Quando estava mal e precisava desabafar ou pedir algum favor, ligava-me ou mandava-me mensagens. Eu estava sempre lá. Compreendia as razões dele, mas me martirizava. Para ele, estava sempre pronta, sempre disponível, sempre disposta a ajudar. Em meu coração, cada vez mais, sentia uma insegurança corroer meu espírito, como um veneno, que agia devagar, mas constantemente. Fiz-lhe vários favores, liguei quando teve crises de depressão, incentivei-o a manter-se vivo e ter objectivos palpáveis… enfim, esqueci de mim mesma.
Ele era um sonhador. Eu sonhava com ele. Ele era um deus e, eu, uma simples adoradora. Ele voava. Eu mantinha meus olhos em suas asas e em seu magnífico voo. Ele me inspirava a querer ser melhor… sempre… para impressioná-lo.
Me mordia de ciúmes, quando falava de outras mulheres em sua vida, mas dizia que tudo ia ficar bem, que ele merecia ser feliz, da forma e com quem escolhesse. Era mentira, claro, mas ele tinha que pensar que eu era a rocha onde ele poderia se apoiar. O que eu queria, na realidade, era que ele fosse meu, só meu. E eu estava disposta a fazer qualquer coisa para que isso acontecesse…
Eu nunca perdia a esperança de revê-lo e comecei a insistir sem parar. Ele cedeu aos meus muitos apelos, depois de algum tempo. Me aventurei numa despretensiosa viagem de cerca de três horas, por uma estrada cheia de desvios, até a cidadezinha onde se encontrava, num morno e nublado domingo de verão.
Ele me esperava, sentado num banco da pracinha, em frente à igreja. Veio e sentou-se ao meu lado. Olhei aqueles vívidos olhos azuis e aquela boca magnífica dele. Ele sorriu e eu derreti, ali mesmo, na sua frente… Que sorriso esplêndido ele me presenteava. Toda aquela ansiedade havia valido a pena. Tentei parecer natural, apesar de completamente extasiada pela sua presença. Ele me estendeu a pequena - mas não exactamente delicada - mão e eu apertei-a. Mas não me contentei somente com aquilo. Abracei-o como se fossemos velhos amigos. Minha vontade era bem outra, mas eu não podia ultrapassar nenhuma fronteira, antes do tempo. Almoçamos juntos e, depois, andamos sem destino certo pelas ruas.
(Ah! Como eu fazia questão de caminhar devagar e esbarrar despropositada - mas, ao mesmo tempo, propositadamente - nele, só para sentir o contacto com seu corpo, que eu já desejava loucamente).
Paramos para tomar sorvete e ele disse, então, que tinha que ir para a casa da namorada. Fingi que não percebi a subtileza da saída e dei-lhe mais um abraço, despedindo-me. Desta vez meu coração apertou-se mais que o abraço que lhe dei. Eu queria que ele me tomasse nos braços, que me dissesse que ia sentir minha falta e que me amava. Talvez me amasse… mas somente como um amigo. Aquilo não era justo, depois de tudo que eu havia passado por aquele encontro.
(You´re so fucking special… I wish I was special…)*
A caminho de casa, estava feliz, por havê-lo reencontrado… e tragicamente triste, ao mesmo tempo, lutando para aceitar a minha condição de amiga, somente. Eu não podia deixar a magia quebrar. Não ia desistir assim tão facilmente. Tentei, desesperadamente, manter a comunicação activa. Vigiava o Messenger o tempo todo, iniciando conversa assim que ele entrava. Pedi-lhe que não desistisse de mim. Ele prometeu que isso não iria acontecer, mas não cumpriu a promessa e eu sabia porque. Escrevi-lhe muitas mensagens, fingindo que estava tudo bem. Por fim, disse-lhe que sentia a distância aumentar entre nós. Ele, porém, não se deu ao trabalho de responder. Nossos contactos cessaram, assim, abruptamente.
Eu entrei em depressão profunda. Sofri muito com aquele silêncio, pois não estava preparada para o fim de uma relação que eu considerava tão importante e que me havia feito feliz por tanto tempo. Me sentia triste, decepcionada e rejeitada. Eu tinha que fazer alguma coisa, urgentemente, antes que perdesse, por completo, a vontade de viver.
Foi então que decidi reprimir, bloqueando de vez, tudo que eu pudesse sentir por alguém – tanto as coisas boas quanto as más. Para evitar sentir a dor da solidão e a sensação de abandono, endureci meu coração e passei a não sentir mais nada por ninguém. Mergulhei de cabeça no trabalho e somente nele… No começo foi difícil me concentrar, mas acabei me adaptando.
Um dia, quando menos esperava, voltou a contactar-me, brevemente… laconicamente. Apesar de uma sensação estranha manifestar-se em meu peito, tentei parecer natural. Perguntei-lhe como se sentia. Me disse que estava tranquilo. Não me disse que estava feliz. Mas percebi que eu já não me impressionava tanto com a sua sorte. A vida brincava comigo.
Aquilo me fez pensar na forma que estava me conduzindo. Eu não sabia se sentia necessidade de alguém ou saudade de mim mesma - daquela que havia sido. Havia-me transformado numa mulher amarga e sem consideração pelas pessoas. No meu peito havia, apenas, um bloco de gelo, envolto numa capa de aço. Eu não era triste, nem feliz – era indiferente.
Meu coração estava calejado, machucado e frio… mas havia algo vivo, ainda pulsando, lá no fundo… Senti, então, que aquela circunstância me fazia envergonhada do que havia-me tornado. Aquela sensação estranha, que se manifestara no meu peito, me fizera sentir a vontade de experimentar, novamente, alguma sensação real… Nem que fosse alguma dor…
A dor física, na verdade, não me incomodava… Ela não chegava nem perto da outra, que afligia meu espírito…
Flash… Vermelho…
Ao abrir a porta, chegando em casa, há poucos dias, meus olhos captaram o brilho do aço inoxidável, no instrumento em cima da mesa…
… Os ferimentos nos meus braços… Agora lembro... Cortei-me, para ter certeza que ainda sentia alguma coisa… Uma atitude desesperada e radical, para garantir-me que ainda estava viva por dentro.
Já sei como devo ter vindo parar neste lugar…
O enfermeiro se aproxima, provavelmente ao perceber que meu semblante mudou. Agora que vejo estes seus “faróis azuis” assim tão perto, iluminando minha alma alquebrada, quase esqueço o que passei, por um homem que não mereceu meu amor. Apesar de muitas semelhanças, este outro mostra uma dedicação diferenciada pela pobre mulher deitada, com os braços atados e pulsos envoltos em uma longa faixa de gaze. Eu até consigo perceber quão especialmente ele me vê, somente pela forma com que me olha e me trata nesta cama de hospital.
Minha alma está atraída como magneto, por estes olhos. A roda-viva recomeçou seu movimento contínuo, dentro da minha cabeça. Sinto uma chama reacender-se em meu peito e borboletas voarem no meu estômago.
Um simples olhar pode mudar o rumo dos acontecimentos e da minha história? Já sonho em estar em seus braços, em fazer aquilo que não fiz anteriormente…
Não hesitarei em fazê-lo ver-me por uma lente mais especial ainda. Nem que para isto tenha que voltar cá… de alguma maneira.
Flash…. Branco…
Tenho notado aqueles mesmos olhos a me observarem, quase acidentalmente, de uma mesa à frente da minha, no restaurante em que almoço. Procuro sempre avistá-los, para ter certeza que, mesmo disfarçadamente ou fingindo desinteresse, há a curiosidade de saber onde eu estou. Eu sei que ele tem interesse em mim, sem dúvida nenhuma. Não o perco de vista, do momento em que entra, até a hora em que sai do meu campo de visão. O destino quer, definitivamente, brincar mais um pouco com meu coração.
Ele sempre veste branco. Descobri seu nome recentemente. Fiz umas pequenas investigações, por conta própria. Uma mulher tem que saber usar seus recursos para obter informações. E eu, diga-se de passagem, sei muito bem como fazer isto, já que frequentamos o mesmo local, todos os dias de semana, no mesmo horário. Já sei que este jovem homem de lindos olhos azuis faz plantão esta noite.
A tentação tem sido impossível de resistir. Tive uma ideia que me aproximaria dele, de maneira casualmente premeditada... Planeei a estratégia cuidadosamente, para parecer aquilo que não é, na realidade…
Quanto tempo leva o tempo a fechar os sulcos abertos pela dor da saudade ou da indiferença, afinal?
Ainda tive uma última visão do fio da tesoura, sujo de sangue, quando fui socorrida pelos homens da emergência, antes de perder os sentidos, momentaneamente, em meio à grande poça de líquido vermelho, formada no chão, à minha volta…
Ele sorri subtilmente ao me ver entrar. Não me pareceu surpreso, quando a ambulância me trouxe, deitada na maca, entrando às pressas pela emergência a dentro, com os pulsos vertendo sangue. Mal sabe ele que eu faria de tudo para voltar a ter a sua atenção, só para mim, outra vez…
Ainda ouço, antes de desfalecer de fraqueza, vozes que não sei se são reais ou não.
“Déja-vu?”
“Pois é. Parecem mais profundos, desta vez.”
“Por que ainda não internaram esta maluca num manicómio? Preparo os instrumentos de cirurgia?”
“Sim, claro…. Como de costume! Deixe-os perto da mesa, na sala, ao alcance da mão.”
“Depois, colocamos no mesmo quarto? A Administração vai ter que saber disso…”
“Tenho certeza que sim. Certifique-se somente que não haja nenhum instrumento cortante por perto! Mande trazer talheres de plástico, por via das dúvidas.”
Por que não consigo abrir meus olhos. Que zumbido é este na minha cabeça? Onde estou eu?
Meus pulsos doem, meus braços estão imóveis. Com esforço, abro os olhos, devagar. As imagens vão se ajustando, aos poucos, na luz quase ofuscante do quarto onde estou. Este lugar é estranho.
Flash… Branco…
Tudo aqui é branco. As paredes são brancas. A cama e os lençóis são brancos. A camisa deste jovem é branca…
Não…
Ele está todo trajado em branco. Quem é este homem, que me olha com uma expressão engraçada?
“Calma”, ele pede, ao me ver forçar os braços. Sua voz é calma, branda, relaxante, quase me causa mais sonolência. “Não se mexa muito, para não abrir os ferimentos”.
“Que ferimentos?”, pensei eu. Ele toca minha fronte, como se tentasse perceber se tenho febre.
A pele dele é pálida - talvez pálida demais - mas os olhos… os olhos… são azuis… profundamente azuis. Eles me fazem lembrar… Acho que estou enlouquecendo.
Flash… Azul…
Os olhos de outro homem adornam a face deste jovem, que me olha com um misto de compaixão e curiosidade. Ah! Como eu lembro bem… amei o dono daqueles olhos com todo o meu coração…
Ele sorri, ao me ver fixar o olhar no dele e gemer, baixinho, com dificuldade. Um sorriso tão suave e encantador. Aquela curvinha adorável, decorando o canto da boca bem desenhada. Ele se aproxima e acomoda o travesseiro atrás da minha cabeça. Chego a sentir o perfume suave da pele dele. Parece até que conheço este cheiro, de outra época, de outro lugar…
Este homem me traz o passado de volta, tão nitidamente…
Minhas pálpebras pesam. Tenho sede. Peço água. Quase não reconheço minha própria voz. Estou fraca. Fecho os olhos e as lembranças vêm claras na minha mente.
Vejo a figura dele - seu sorriso, seu porte altivo e encantador… e seus olhos. Quando o vi, pela primeira vez, pareceu-me que dois faróis azuis iluminaram a sala de espera próxima ao portão 21, que se tornou vazia, de repente, no meu delírio momentâneo. Ele era magnífico, como uma grande e imponente fortaleza, não necessariamente intransponível.
Na minha cabeça era mais belo que o era, na realidade, mas eu também não via muita diferença na ocasião. Não percebi que não era tão alto quanto a impressão que me causou.
“Beauty is in the eye of the beholder”…
“Cuidado com os movimentos bruscos”- pediu-me o enfermeiro.
Eu ainda não sabia do que ele falava. Tentei me concentrar, para buscar uma memória que fosse, que explicasse os tais ferimentos.
Minha cabeça dói. As luzes enfraquecem… meus olhos pesam… Acho que vou desfalecer.
Outras vozes se aproximam. A única coisa que consigo distinguir, nesta confusão de sons é uma frase solta: …”os pulsos cortados”…
Flash… Vermelho…
Não queria perder os sentidos, mas meus esforços não pareciam surtir efeito.
Algum deus brincalhão aproximou-o de mim naquele voo. Meu coração deu um salto quando ele se sentou ao meu lado. Surpresa e extasiada pela sua presença, fiz de tudo para que me visse melhor que eu realmente era. Aqueles cativantes olhos de safira mostraram uma certa melancolia que me comoveu de imediato…
- Ah, meu anjo caído! –
… Como eu queria refrescar a sua aflição. Ele mostrou que confiava em mim. E abriu a alma, para que eu pudesse ver que ele era uma pessoa normal, embora não o fosse. Falamos de coisas que outros não falariam, dissemos coisas que o coração queria partilhar - parecíamos grandes amigos, daqueles que a gente não tem vergonha de dizer que ama. E eu percebi que já o amava.
Mais do que deveria… menos que poderia.
Quando ele falava de sofrimento, eu sofria mais que ele. Se ele sorria, eu me alegrava como se fosse a minha própria felicidade. Eu já nem era mais eu. Me tornara confidente e conselheira, mas não era isso que eu queria ser. Eu queria ser mais importante. Queria ser parte da vida dele. Observava-lhe, com cuidado e atenção, os gestos, a forma de falar, a risada dele, solta como de uma criança. Eu me concentrava só nele. Havia sido uma paixão imediata. Justamente eu, que tenho meus pés firmes no chão e que não tenho tendência para obsessão…
Onde está o enfermeiro? Deus me ajude! Não quero deixar aqueles olhos saírem de perto de mim. Não sei se vou suportar isso… outra vez...
Perdi a vergonha de me tornar ridícula, desde que ele soubesse que eu o amava. Ele percebeu, por isso pareceu-me que teve o cuidado de não me dar corda demais. Mas eu já nem tinha mais freio. Deixei-o saber que estava totalmente apaixonada por ele. Ele riu. Eu também. Já ansiava por um reencontro, que ele dizia que também desejava. Por fim, trocamos endereços de e-mail e Messenger. Nossos contactos on-line haveriam de ser frequentes. Pelo menos eu assim pensava.
Como era possível que tanta coisa tenha acontecido em apenas uma viagem com cerca de 10 horas de duração?
Como o mundo parecia pequeno. Como a vida é incrivelmente engraçada e nos dá tanto, em tão pouco tempo. Como aquelas horas passaram rápidas, na viagem que havia sido a maior alegria que eu tivera em muitos anos. A partir daquele dia, passei a amar o Oceano Atlântico e os céus por nos terem aproximado daquela maneira inusitada.
Quando ele partiu, pela mesma porta que eu cruzei, momentos depois, senti meu peito apertar. Ia pegar a conexão para longe e eu ficaria neste lugar. Prometera-me a mim mesma que faria de tudo para diminuir a distância e abreviar o tempo em que ficaríamos afastados um do outro.
Mas não foi tão fácil quanto parecia, a princípio. Ele tinha uma vida toda dele. Eu queria fazer parte dela. A distância lhe dava segurança e mantinha a intimidade debaixo de um chapéu protector, ao qual meu acesso era limitado. Tentei várias vezes programar um reencontro, mas algo sempre se interpunha no meio.
Quando ele estava bem, espaçava os contactos. Quando estava mal e precisava desabafar ou pedir algum favor, ligava-me ou mandava-me mensagens. Eu estava sempre lá. Compreendia as razões dele, mas me martirizava. Para ele, estava sempre pronta, sempre disponível, sempre disposta a ajudar. Em meu coração, cada vez mais, sentia uma insegurança corroer meu espírito, como um veneno, que agia devagar, mas constantemente. Fiz-lhe vários favores, liguei quando teve crises de depressão, incentivei-o a manter-se vivo e ter objectivos palpáveis… enfim, esqueci de mim mesma.
Ele era um sonhador. Eu sonhava com ele. Ele era um deus e, eu, uma simples adoradora. Ele voava. Eu mantinha meus olhos em suas asas e em seu magnífico voo. Ele me inspirava a querer ser melhor… sempre… para impressioná-lo.
Me mordia de ciúmes, quando falava de outras mulheres em sua vida, mas dizia que tudo ia ficar bem, que ele merecia ser feliz, da forma e com quem escolhesse. Era mentira, claro, mas ele tinha que pensar que eu era a rocha onde ele poderia se apoiar. O que eu queria, na realidade, era que ele fosse meu, só meu. E eu estava disposta a fazer qualquer coisa para que isso acontecesse…
Eu nunca perdia a esperança de revê-lo e comecei a insistir sem parar. Ele cedeu aos meus muitos apelos, depois de algum tempo. Me aventurei numa despretensiosa viagem de cerca de três horas, por uma estrada cheia de desvios, até a cidadezinha onde se encontrava, num morno e nublado domingo de verão.
Ele me esperava, sentado num banco da pracinha, em frente à igreja. Veio e sentou-se ao meu lado. Olhei aqueles vívidos olhos azuis e aquela boca magnífica dele. Ele sorriu e eu derreti, ali mesmo, na sua frente… Que sorriso esplêndido ele me presenteava. Toda aquela ansiedade havia valido a pena. Tentei parecer natural, apesar de completamente extasiada pela sua presença. Ele me estendeu a pequena - mas não exactamente delicada - mão e eu apertei-a. Mas não me contentei somente com aquilo. Abracei-o como se fossemos velhos amigos. Minha vontade era bem outra, mas eu não podia ultrapassar nenhuma fronteira, antes do tempo. Almoçamos juntos e, depois, andamos sem destino certo pelas ruas.
(Ah! Como eu fazia questão de caminhar devagar e esbarrar despropositada - mas, ao mesmo tempo, propositadamente - nele, só para sentir o contacto com seu corpo, que eu já desejava loucamente).
Paramos para tomar sorvete e ele disse, então, que tinha que ir para a casa da namorada. Fingi que não percebi a subtileza da saída e dei-lhe mais um abraço, despedindo-me. Desta vez meu coração apertou-se mais que o abraço que lhe dei. Eu queria que ele me tomasse nos braços, que me dissesse que ia sentir minha falta e que me amava. Talvez me amasse… mas somente como um amigo. Aquilo não era justo, depois de tudo que eu havia passado por aquele encontro.
(You´re so fucking special… I wish I was special…)*
A caminho de casa, estava feliz, por havê-lo reencontrado… e tragicamente triste, ao mesmo tempo, lutando para aceitar a minha condição de amiga, somente. Eu não podia deixar a magia quebrar. Não ia desistir assim tão facilmente. Tentei, desesperadamente, manter a comunicação activa. Vigiava o Messenger o tempo todo, iniciando conversa assim que ele entrava. Pedi-lhe que não desistisse de mim. Ele prometeu que isso não iria acontecer, mas não cumpriu a promessa e eu sabia porque. Escrevi-lhe muitas mensagens, fingindo que estava tudo bem. Por fim, disse-lhe que sentia a distância aumentar entre nós. Ele, porém, não se deu ao trabalho de responder. Nossos contactos cessaram, assim, abruptamente.
Eu entrei em depressão profunda. Sofri muito com aquele silêncio, pois não estava preparada para o fim de uma relação que eu considerava tão importante e que me havia feito feliz por tanto tempo. Me sentia triste, decepcionada e rejeitada. Eu tinha que fazer alguma coisa, urgentemente, antes que perdesse, por completo, a vontade de viver.
Foi então que decidi reprimir, bloqueando de vez, tudo que eu pudesse sentir por alguém – tanto as coisas boas quanto as más. Para evitar sentir a dor da solidão e a sensação de abandono, endureci meu coração e passei a não sentir mais nada por ninguém. Mergulhei de cabeça no trabalho e somente nele… No começo foi difícil me concentrar, mas acabei me adaptando.
Um dia, quando menos esperava, voltou a contactar-me, brevemente… laconicamente. Apesar de uma sensação estranha manifestar-se em meu peito, tentei parecer natural. Perguntei-lhe como se sentia. Me disse que estava tranquilo. Não me disse que estava feliz. Mas percebi que eu já não me impressionava tanto com a sua sorte. A vida brincava comigo.
Aquilo me fez pensar na forma que estava me conduzindo. Eu não sabia se sentia necessidade de alguém ou saudade de mim mesma - daquela que havia sido. Havia-me transformado numa mulher amarga e sem consideração pelas pessoas. No meu peito havia, apenas, um bloco de gelo, envolto numa capa de aço. Eu não era triste, nem feliz – era indiferente.
Meu coração estava calejado, machucado e frio… mas havia algo vivo, ainda pulsando, lá no fundo… Senti, então, que aquela circunstância me fazia envergonhada do que havia-me tornado. Aquela sensação estranha, que se manifestara no meu peito, me fizera sentir a vontade de experimentar, novamente, alguma sensação real… Nem que fosse alguma dor…
A dor física, na verdade, não me incomodava… Ela não chegava nem perto da outra, que afligia meu espírito…
Flash… Vermelho…
Ao abrir a porta, chegando em casa, há poucos dias, meus olhos captaram o brilho do aço inoxidável, no instrumento em cima da mesa…
… Os ferimentos nos meus braços… Agora lembro... Cortei-me, para ter certeza que ainda sentia alguma coisa… Uma atitude desesperada e radical, para garantir-me que ainda estava viva por dentro.
Já sei como devo ter vindo parar neste lugar…
O enfermeiro se aproxima, provavelmente ao perceber que meu semblante mudou. Agora que vejo estes seus “faróis azuis” assim tão perto, iluminando minha alma alquebrada, quase esqueço o que passei, por um homem que não mereceu meu amor. Apesar de muitas semelhanças, este outro mostra uma dedicação diferenciada pela pobre mulher deitada, com os braços atados e pulsos envoltos em uma longa faixa de gaze. Eu até consigo perceber quão especialmente ele me vê, somente pela forma com que me olha e me trata nesta cama de hospital.
Minha alma está atraída como magneto, por estes olhos. A roda-viva recomeçou seu movimento contínuo, dentro da minha cabeça. Sinto uma chama reacender-se em meu peito e borboletas voarem no meu estômago.
Um simples olhar pode mudar o rumo dos acontecimentos e da minha história? Já sonho em estar em seus braços, em fazer aquilo que não fiz anteriormente…
Não hesitarei em fazê-lo ver-me por uma lente mais especial ainda. Nem que para isto tenha que voltar cá… de alguma maneira.
Flash…. Branco…
Tenho notado aqueles mesmos olhos a me observarem, quase acidentalmente, de uma mesa à frente da minha, no restaurante em que almoço. Procuro sempre avistá-los, para ter certeza que, mesmo disfarçadamente ou fingindo desinteresse, há a curiosidade de saber onde eu estou. Eu sei que ele tem interesse em mim, sem dúvida nenhuma. Não o perco de vista, do momento em que entra, até a hora em que sai do meu campo de visão. O destino quer, definitivamente, brincar mais um pouco com meu coração.
Ele sempre veste branco. Descobri seu nome recentemente. Fiz umas pequenas investigações, por conta própria. Uma mulher tem que saber usar seus recursos para obter informações. E eu, diga-se de passagem, sei muito bem como fazer isto, já que frequentamos o mesmo local, todos os dias de semana, no mesmo horário. Já sei que este jovem homem de lindos olhos azuis faz plantão esta noite.
A tentação tem sido impossível de resistir. Tive uma ideia que me aproximaria dele, de maneira casualmente premeditada... Planeei a estratégia cuidadosamente, para parecer aquilo que não é, na realidade…
Quanto tempo leva o tempo a fechar os sulcos abertos pela dor da saudade ou da indiferença, afinal?
*
Ainda tive uma última visão do fio da tesoura, sujo de sangue, quando fui socorrida pelos homens da emergência, antes de perder os sentidos, momentaneamente, em meio à grande poça de líquido vermelho, formada no chão, à minha volta…
Ele sorri subtilmente ao me ver entrar. Não me pareceu surpreso, quando a ambulância me trouxe, deitada na maca, entrando às pressas pela emergência a dentro, com os pulsos vertendo sangue. Mal sabe ele que eu faria de tudo para voltar a ter a sua atenção, só para mim, outra vez…
Ainda ouço, antes de desfalecer de fraqueza, vozes que não sei se são reais ou não.
“Déja-vu?”
“Pois é. Parecem mais profundos, desta vez.”
“Por que ainda não internaram esta maluca num manicómio? Preparo os instrumentos de cirurgia?”
“Sim, claro…. Como de costume! Deixe-os perto da mesa, na sala, ao alcance da mão.”
“Depois, colocamos no mesmo quarto? A Administração vai ter que saber disso…”
“Tenho certeza que sim. Certifique-se somente que não haja nenhum instrumento cortante por perto! Mande trazer talheres de plástico, por via das dúvidas.”
domingo, 2 de janeiro de 2011
Sobreviver
Sentado,
À beira do mar,
Olhei a distância
Com uma ponta
De nostalgia
Perfurando meu peito.
Duas lágrimas lavaram
Meus olhos e,
Talvez,
Minha alma,
Queimando seu caminho,
Face abaixo.
Chorei
Pela beleza do que foi…
- Uma melancolia somente –
Nem mágoa,
Nem desespero.
O tempo é,
Por demais,
Um sábio “senhor”.
Filtra as dores,
Deixa, apenas,
As boas lembranças
E as saudades.
Por ora,
Eu precisava estar
Só.
Tinha muita coisa
A acertar
Com meus fantasmas
E minhas dores.
Mas, pensei:
Eu vou sobreviver…
Sei que vou…
(sempre soube).
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