- Quem é este dragão pardo?
- Ele nasceu das forças do mal e é comandado por um inimigo nosso, que
vive muito ao norte, nas terras frias. Seu coração é mais gélido que as neves dos
extremos da terra. Além de um animal de muita força, ele é também muito
poderoso, perigoso e sabe onde o menino está. É só uma questão de tempo até cá chegar,
com o pior dos intuitos. Há uma profecia conhecida que diz que só poderá ser
destruído por um guerreiro alimentado com o poder dos sete dragões. Nós sabemos
quem este guerreiro é… ele também. O que nós temos que fazer é prepará-lo e evitar
o confronto direto, pois pode ser fatal para um dos dois. Se o dragão vencer,
será o nosso fim. E ele destruirá tudo e todos que forem contra o seu senhor. Vamos
precisar de toda a nossa inteligência em montar uma estratégia e…
O dragão fez uma pequena pausa.
- … e de tempo…, mas este talvez não seja o nosso maior problema.
- O pai… Acredito que ele possa ser um grande empecilho.
- Eu sei. Ele passou maus bocados por causa do acidente com aquela
criança. Não vai aceitar ceder assim fácil. Mas temos que falar com ele. Não
temos outra alternativa…
- Talvez tenhamos…
O dragão olhou o velho homem e
compreendeu, instintivamente, aquela mensagem.
***
- Wow! Isso é sério?
- Mais do que sério!
- Mas eu não serei capaz! Sou pequeno e fraco…
- Por isso nós devemos preparar-te e ensinar-te a lutar… para proteger
a ti e a todos…
Os olhos do menino brilharam, mas
uma sombra de preocupação seguiu-se á aquela momentânea euforia.
A armadura era, obviamente,
grande demais e, para empunhar uma espada verdadeira, ainda era muito cedo.
O velho, então, entregou-lhe um
bastão de madeira feito a partir de um pedaço de um tronco de laranjeira. O
artefacto era coberto por uma camada lustrosa e apesar de muito suave ao toque,
também aparentava ser bastante resistente.
E os ensinamentos começaram… Para
evitar maiores constrangimentos, as lições eram dadas muito cedo na madrugada
até o nascer do sol. A intenção era evitar serem vistos e o confronto iminente
com o pai do aprendiz que, invariavelmente, teria que saber de qualquer
jeito... quando o momento fosse mais propício.
O velho mostrava os princípios
básicos de combate e de como empunhar uma arma e fazer uso dela, especialmente
de maneira defensiva. O dragão ensinava-o a pensar estrategicamente, a procurar
os pontos fracos do inimigo e a explorar a velocidade do pensamento. O menino
era um excelente pupilo, sempre aberto a absorver os novos conhecimentos e era,
também, muito curioso. Apesar do que havia passado, suas pernas e braços eram
bastante ágeis e sua mente, extremamente sagaz.
O dragão observava o menino com
orgulho, enquanto este aprendia o que lhe era ensinado, com precisão e com a
habilidade de um verdadeiro guerreiro.
O velho sabia que o tempo corria
contra eles e que, mais cedo ou mais tarde, teriam que revelar, à família do
rapaz, o que estava acontecendo e o que viria a acontecer, no futuro. Ele,
todavia, evitava revelar toda a verdade, com receio que, se soubessem que o
dragão pardo queria a destruição do guardião, para poder reinar sobre toda a
terra, iriam duvidar da palavra deles, ou esconder o filho, por isso decidiram
que iriam inventar uma desculpa qualquer, se fossem vistos a treinar o rapaz.
Os pais, como seria de esperar, logo
descobriram e foram totalmente contra, proibindo aquele tipo de treinamento,
veementemente. Bastou alguns dias, porém, para os três arranjarem uma outra
forma de se encontrarem, retomando a tarefa, cada vez com mais afinco, sempre
que lhes era possível.
Uma madrugada, porém, o menino
não apareceu. Pensando tratar-se de um empecilho qualquer com o pai, o velho e
o dragão ficaram quietos, sem criar nenhum alarde, aguardando o amanhecer.
Algumas horas passaram, sem que o
aprendiz chegasse. O som de passos apressados deixou-os em estado de alerta. Os
dois esperaram, para ver o que acontecia. O caçador, pai do menino, vinha a passadas
rápidas e com uma mistura de fúria e preocupação estampada no rosto.
- Eu avisei que não queria meu filho envolvido nesta aventura,
brincadeira ou o que quer que vocês estejam tramando.
Pegos meio desprevenidos, os dois
não disseram nada, já sentindo-se culpados. O homem estava mesmo furioso.
- Onde está o meu filho? Quero saber agora!
Os dois trocaram um olhar
suspeito e preocupado e, quando se voltaram para o homem, aquele percebeu que
algo estava muito errado, pela expressão grave na face do velho homem.
- Oh, não! Não, não, não!
- Ele não está, nem esteve connosco hoje. E isso é grave; muito grave.
Temos que procurá-lo, imediatamente. Ele pode estar em grande perigo…
- E não está preparado para defender-se… ainda… O treino não foi
suficiente!
- Isso é outra das artimanhas de vocês, os dois? Mais uma vez ele corre
perigo por causa de vocês! Desta vez, não vou perdoá-los…
- Não. Ele está em perigo, porque ainda não está preparado para
defender-se. Tomara que não seja o que estamos pensando… Se for, é melhor nós
corrermos. Acho que temos que pedir ajuda aos nossos companheiros alados.
O velho, então, contou ao pai do
menino toda a verdade sobre a profecia e sobre o dragão pardo e seu plano
malévolo, o que aumentou a preocupação do homem… e a deles também.
Estava mais que na hora de trazer
os outros seis dragões para perto deles. O menino precisava ser encontrado,
antes que fosse tarde demais.
O dragão verde-azulado preparava-se para levantar voo e buscar os companheiros, quando o chão sobre os pés deles estremeceu grandemente, para surpresa de todos. Os homens olharam para o dragão, que olhava para o centro da clareira, com uma expressão ameaçadora.
Um grande animal pardo surgiu e aproximou-se deles, com a boca escancarada, pronto a atacá-los…