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sábado, 22 de junho de 2019

Hypnos (Epílogo: Os Gêmeos)



- Não esperava por isto.

- Nem fales nada. Isto é de loucos!

- Não consegui dizer tudo que vi, na frente deles. Pareceu-me absurdo e obscuro demais.

- Mas temos que lhes dizer. Não é justo guardarmos este… segredo, por assim dizer… se é que podemos chamar assim.

- Deixa-me pensar. Temos que ter cuidado. Vão-nos questionar por que não dissemos nada… ou vão-nos chamar de loucos.

- O tempo está correndo. Temos que ser rápidos. Se o que viste, for…

O rapaz hesitou, por um momento.

- O perigo se aproxima rapidamente. Mesmo assim, vou ter que fazer uma pesquisa mais aprofundada, para ver se descubro mais algum detalhe. Nunca levei o assunto muito a sério.

***

- Mitologia? Vocês pensam que eu sou estúpida? Todos sabem que os mitos sempre foram invenção dos homens, para explicar o que não compreendem. Não posso aceitar uma asneira destas. Eu sou uma cientista. Vocês também!

- Sabemos que é difícil. Nós também custamos a acreditar, mas…

- Vocês fumaram alguma coisa? Estão sob o efeito de drogas?

Os dois riram, meio sem jeito. Sabiam que a mulher tinha razão. Quem poderia acreditar numa conversa daquelas?

***

- O que vamos fazer?

- Não sei. O que nós poderemos fazer, afinal? A história toda é muito absurda e nem sabemos se não foi um delírio, somente.

- E se estivermos errados?

- É possível que estejamos… É bem possível que estejamos…

O rapaz olhou o amigo com uma expressão, que revelava sua frustração e uma dúvida, aliada ao medo de que o que mais temiam fosse, na verdade, acontecer.

- E se não estivermos?

- Então temos que ter um plano. Nós sabemos que ninguém vai-nos apoiar, seguir ou proteger. Nem a nós, nem a ela…

***

- Mitologia… quem diria… dois malucos!

Ela sorriu, como se achasse a ideia realmente absurda, mas algo em sua mente dizia, firmemente, que não era.

Ela sentiu-se sonolenta. Passava de sua hora de deitar. Como de costume, havia arranjado a louça do jantar, que mal havia tocado, desligara o computador e apagara todas as luzes do apartamento. Na casa de banho, olhara-se no espelho, por um período mais longo que fazia, normalmente.

Seus olhos pareciam cansados e avermelhados. Ela havia chorado, mas não de tristeza. Havia uma certa nostalgia em sua alma. Tanta coisa a fazer e tão pouco tempo…

A mulher entrou no quarto e abriu a gaveta da cômoda. Sentia-se cansada. Algumas das muitas caixas de medicamentos estavam praticamente vazias. Outras estavam intocadas. Ela fechou a gaveta, sem tocar em nenhum daqueles comprimidos, como vinha fazendo na última semana, depois que havia tido a conversa com os dois jovens cientistas.

Vestiu o pijama de uma malha fina de algodão e deitou-se, calmamente.

O apartamento de dois quartos pareceu-lhe, de repente, um imenso deserto. Apagou a luz da cômoda e fechou os olhos…

***

O rapaz, extremamente atraente, aproximou-se. Ela já o conhecia, de outras ocasiões. Ele estendeu-lhe a mão, num gesto convidativo e gentil, que a mulher aceitou, como se fossem amigos, de longa data.

Pela primeira vez, porém, dirigiu-lhe a palavra, pois nunca se sentiu encorajada para tal. Ele sempre lhe pareceu distante, intocável, de imenso poder.

- Vais-me dizer quem és, afinal?

- Tu sabes quem eu sou. Meu nome é Hypnos, o guardião dos sonhos.

- Eu não acredito em deuses, nem me curvo em idolatrias, por nenhum ser vivo.

- Não esperava que o fizesses, apesar de não ser considerado um ser vivo.

Ela quase riu. Esperou. Ele simplesmente olhou, profundamente, em seus olhos escuros.

- Para onde vais-me levar?

- Por que perguntas o que já sabes? Ele está à nossa espera.

- Quero ir à praia… ver o mar.

- É lá que ele está…

Ela tremeu. Havia uma apreensão natural, em seu peito.

- Não te preocupes, ele é gentil e pacífico. Tenha calma. Não há o que temer…

Ele estava sentado no murete, ao sol. Tão atraente quanto seu irmão gémeo, o rapaz parecia mais à vontade, quando ela se aproximou. Ele sorriu. Ela, não.

- Este é meu irmão gémeo, Thanatos. Ele te conduzirá, daqui por diante. É a ele que caberá levar-te adiante, nesta viagem. Já não haverá sofrimento, mas não há volta. A passagem será tranquila e pacífica.

O rapaz estendeu-lhe a mão.

- Estás pronta?

- Não.

- Estás, sim. Vamos.

E eles seguiram pela imensa praia deserta, lado a lado e em silêncio…

***

- Ele ouviu a conversa entre os gêmeos Hypnos, o sonho... e Thanatos, a morte pacífica... e achou que se tratava dele… e se apavorou.

- Será? Achas que foi isto mesmo que aconteceu?

- Não tenho certeza, obviamente, e acho que nunca saberemos…

***