domingo, 27 de julho de 2014

Oblivion (Phase Two)



From the soft warmth

of your exquisite mouth,

I drink a powerful,

drab,

cold

and bitter-sweet poison

of forgetfulness.

An eerie sting

of pain

heals me

from the dreary

and throbbing claws

of gloomy memories

that keep on insisting

to ascend

from my abiding past.

Those memories,

some previously more vivid

than others,

then, slowly

start fading

into a sweet

and colourless haze

of welcome oblivion,

that ends up,

eventually,

vanishing into the air

and healing my pain,

but not without leaving

some of its deep scars…

No more unsolicited

reminiscences

coming up alive

into the pale

deserted

sand dunes

of my mind.

No more recollections

of a reality

that used to be good

for nothing at all.

There is now only

a desolate emptiness left…

the immense

and comfortable void

of Lethe…

My life is now

more than ready

to be shaped

and wrought

back again

into its unique

and distinct outline

and colour...

after all...

domingo, 20 de julho de 2014

Obliviar (Fase Um do Esquecimento)



Tu ainda lembras de mim,

Minha criança?

Lembras como eu costumava

Olhar-te, sem conseguir

Esconder

Toda a afeição

Que eu sentia por ti?

Sabias que,

Às vezes,

Eu ainda penso

Em ti,

Minha criança?

(...E que meus olhos

Não conseguem

Disfarçar

O vazio

Que ficou no meu coração

Quando partiste?...)

Tu ainda lembras

Daquele último abraço,

Minha criança?

(Aquele que separou

Nossas vidas

Por todo este sempre?)

Alguma vez pensaste

Quão triste

Eu senti-me,

E por tanto tempo,

Desde aquele dia?

Mas, então,

Por alguma razão

Que eu não consigo explicar,

O Universo decidiu

Que ia dar-me

Uma outra chance

E, embora tu ainda vivas

Em algum compartimento

Secreto

No meu coração,

As lembranças que eu tinha

De ti

Foram-se tornando,

Vagarosa,

Mas firmemente,

Apenas doces recordações,

Que vão-se desbotando

Numa névoa

Irreversível

De esquecimento...

domingo, 13 de julho de 2014

Oblivion (Phase One)



Do you still remember me, 
my child? 
Do you remember how
I used to look at you 
and how I would not be able
To hide 
all the affection I felt 
towards you? 
Did you know 
I still think of you, 
every now and then, 
my child? 
My eyes cannot disguise
the emptiness my heart was left 
when you were gone… 
Do you still remember 
that last embrace, 
my child? 
The one which separated 
our lives 
for good 
and forever? 
Have you ever thought 
how miserable I had felt 
for such a long time 
since that day? 
But, then, somehow 
and for a reason
I cannot really understand,
the Universe has decided 
to give me another chance 
and although you still live 
in some secret place 
in my heart, 
your memories have turned into 
just sweet recollections 
that are slowly,
but definitely, 
fading into 
a misty 
and irreversible 
state of oblivion…  


sábado, 5 de julho de 2014

A Conjugar o Verbo... (Parte 2)


Por princípio, acredito que não exista qualquer segurança cega, nada de totalmente sólido e palpável, tampouco algum conforto completo, quando trata-se de relacionamentos. Embora nós ainda evitássemos usar a palavra, era evidente que estávamos bem longe de considerarmos nosso agradável convívio como resultado de apenas uma fortuita aventura, sem grandes compromissos.

Vínhamos nos encontrando há um bom tempo e sabíamos que as ocasiões que passávamos juntos não tinham nada de casual. Apesar de uma distância física considerável nos separar e de não ser possível nos vermos mais frequentemente, era, inegavelmente, um relacionamento, mesmo que não o chamássemos pelo devido nome, por pudor, receio, insegurança ou, simplesmente, por uma tola cautela. Éramos dois adultos, comportando-nos como hesitantes adolescentes e tínhamos total conhecimento do tipo de trama emocional em que estávamos envolvidos.

Aquela percepção, entretanto, não era suficiente para tranquilizar a mente de ninguém. Dava, apenas, uma clara noção dos factos, que já poderiam haver sido assumidos por ambas as partes, há algum tempo. Como era mais confortável deixar a situação desenrolar-se por si própria, nunca discutíamos o óbvio… pelo menos até aquele momento, em que ouvi a tal frase, imprevista e inusitada, que dava início a uma discussão, a meu ver, talvez, desnecessária.

A estranha expressão a referir que estava com a vida ‘totalmente desconfigurada’ assustou-me, inicialmente, causou-me um certo pânico e colocou-me em estado de alerta.

Conscientemente eu desejei fugir, correr dali, negar que havia ouvido o angustiante início de colóquio, mas aqueles pouquíssimos e breves segundos de reflexão não me deram hipótese alguma de escapar. Uma estranha sensação, como a de borboletas a bater asas na boca do estômago, porém, avisava-me a amplificar o estado de prontidão, quando a torrente de palavras saiu ininterrupta de sua boca, antes mesmo que eu pudesse fazer qualquer coisa para impedir.

***

- Tenho tantas dúvidas a afligir-me a cabeça… Sei que a nossa relação (e ainda tenho receio de usar esta palavra!) é injusta para ti, que nunca reclamas do pouco que eu te dou e sinto que sou egoísta em cada momento que percebo isto; e porque me sinto confortável com a situação, me fui acomodando a tudo o que me dás, gratuitamente, sem nem ao menos pedir nada em troca. Às vezes penso que não te valorizo suficientemente, nem o que temos e até acho que devias ir em busca de algo mais consistente… de alguém com uma vida menos complicada. Ao mesmo tempo que quero que sejas livre nas tuas escolhas e que encontres uma situação melhor que esta, tenho um medo terrível e insuportável de perder-te e não posso negar que sinto uma insegurança enorme... daquelas de tirar-me, das noites, o sono.

- Shhh… Cala-te, por favor. Não estás a levar em consideração que não sou nenhuma criança e que sempre soube, desde o começo, onde estava a meter-me. Achas que eu não sou livre? Achas que não sei as consequências das minhas… ou melhor, das nossas… atitudes? Quem disse que eu preciso de uma situação melhor que esta?

Eu não sentia irritação, mas minha agitação não conseguia esconder um certo desassossego. Tinha em mente, naquele momento, apenas, que precisava fazer ver o meu ponto de vista, que eu considerava ser mais que manifestamente adequado, na nossa situação. Da minha parte era a mais pura verdade. No fundo, porém, eu tinha um receio incómodo e pouco fundamentado de que aquele fosse o começo do fim…

- Como eu posso aceitar, pacificamente, que vivas em estado de martírio mental, com uma intranquilidade destas, se a vida nem ao menos nos dá certeza de nada? Se alguém, alguma vez em, qualquer tempo, teve segurança absoluta do destino de uma relação emocional com outra pessoa, que atire a primeira pedra. Se os poucos momentos, em que se desfruta o prazer da companhia da pessoa com quem se quer estar, for torturado pela inquietação e pela dúvida, de que vale estar-se juntos?

Olhou-me, com uma expressão meio constrangida, provavelmente sem conseguir encontrar quaisquer novos argumentos, que me pudessem convencer a abrir mão, sem luta, daquela espécie de mágica que havia-se consolidado entre nós.

- Não te chateies, por favor, porque foi inevitável ver-me numa situação tão… digamos… insegura. Sabes que, apesar de não dizer claramente, eu sinto algumas coisas bastante profundas a teu respeito. Às vezes não digo o quanto gosto de ti, nem como tens sido importante para o meu equilíbrio. Não falo como me sinto bem quando estou contigo e como gosto dos nossos momentos, tanto na cama quanto na mesa, quanto em qualquer outro lugar também! Sei que, normalmente, esqueço-me ou evito, propositadamente, de falar-te estas coisas; talvez por ser-me cómodo, ou por ser-me mais conveniente, mas nunca por ter as coisas dadas como garantidas, entre nós. Por isso, não tens porque te importunares. Pelo menos, valeu para dizer que gosto muito de ti!

Eu corei, instantaneamente, pois não esperava por aquela constatação, tão diversa do que ouvira minutos antes. Só consegui terminar a conversa com um último pedido... quase uma súplica.

- Deixa-te de cobrar uma certeza sobre o incerto. Se sabes o que sentes, deixa-te levar pelo momento. De que valem as preocupações se temos tão pouco tempo juntos? Abandona-te, pelo menos enquanto estiveres comigo… fica comigo e somente comigo… deixa as tuas preocupações lá fora…

Olhou-me como se não tivesse mais fundamentos plausíveis e como se aceitasse, finalmente, que os meus argumentos faziam sentido, afinal. Recostei, então, a cabeça em seu peito macio e aninhei-me ali, sentindo-me em completa proteção. Deixei-me envolver por um abraço, que trazia-me um conforto morno e a impressão que a vida real ficava tão distante de nós, naquele momento, que estávamos completamente resguardados de todo o mal. Éramos, pelo menos naqueles breves instantes, simplesmente, invencíveis e imortais.

Cerrei as pálpebras e tentei relaxar, ao mesmo tempo que engolia as lágrimas, que somente eu sabia estarem a brotar, involuntariamente, em mim. Dei um longo suspiro e deixei-me cair num imenso vazio…

***

- Adormeci…

Sussurrei aquela frase minimalista, sem virar-me, nem abrir os olhos. Não tinha ideia de quanto tempo havia-se passado.

- Eu percebi… Ver-te assim, a dormir, como uma criança, aparentemente tão frágil e vulnerável, deu-me uma vontade quase incontrolada de abraçar-te, mas não quis perturbar teu sono inocente. Por isso apenas afaguei teu corpo, teus cabelos e teu rosto e beijei-te bem suavemente, tentando não despertar-te. Tive a impressão que tocava um anjo adormecido, tão desamparado… tão indefeso. Meu desejo, na verdade, era ficar ali, a acariciar-te e proteger-te para sempre… nos meus braços… até fundir-me em ti...

Virei-me para olhar em seus olhos. Havia, neles, uma ternura com a qual eu não sabia se alguma vez já imaginara contar. Embora aquela expressividade não me fosse conhecida, eu tinha consciência do que significava. Era evidente demais para ser ignorada. Beijei-lhe os lábios e colei meu corpo no seu, num abraço apertado, deixando as nossas inseguranças e imperfeições encaixarem-se umas nas outras, como se fossem peças de um doce quebra-cabeças.

Sabia que estávamos mais envolvidos que jamais estivéramos e também sabia os riscos que corríamos… mas eu não tinha receio nenhum de enfrentá-los. O que é a vida, final, sem desafios? O que é o presente, senão uma coleção de momentos simples e plácidos, como aquele?

Se tudo o que eu vivera em meu passado havia representado a perfeita ilustração de um Pretérito Imperfeito, daqueles que ficam suspensos entre as eras, inacabados e em modo de espera, o presente havia-se transformado em um novo tempo… como se o Universo estivesse a ensinar-me a conjugar o verbo ‘viver’ em tempo Mais-Que-Perfeito, do Modo Indicativo…


domingo, 22 de junho de 2014

A Conjugar o Verbo... (Parte 1)


Fechei os olhos e deixei a textura do tanino amadurecido espalhar-se total e vagarosamente pelas papilas, tentando absorver daquele momento, muito mais que apenas o sabor do vinho recentemente aberto. No prato, a refeição meticulosamente preparada para agradar não somente a mim, fumegava e exalava o perfume suave e atrativo das especiarias e do camarão. O cardápio da noite, criado recentemente pela destreza instintiva do cozinheiro, era um strogonoff de gambas, delicadamente adensado com natas aromatizadas a funghi.

- Sensualista!

Abri os olhos e sorri. O contacto suave de sua pequena mão a tocar na minha, firme, mas delicadamente, era uma demonstração de carinho, que já me era conhecida e que eu, apesar de ainda sentir-me pouco habituado, apreciava grandemente.

Chamava-me de sensualista quando percebia que eu usava - e, por vezes, quase abusava - de todos os sentidos, tanto à mesa, quanto… bem, manifestamente em quase tudo…

Divertia-se, por vezes, a observar em silêncio, a forma como eu apreciava todos os detalhes daqueles momentos raros que partilhávamos a companhia um do outro. 

A ténue luz do crepúsculo de uma amena Primavera já pouco iluminava a copa-cozinha do apartamento. A ampla porta de vidro, voltada para a varanda do segundo andar, acima do pátio da praceta, estava fechada, dando a impressão que os sons da noite, que aproximava-se lentamente, ficavam quase distantes demais, como as nossas vidas individuais e suas consequentes atribulações diárias.

 Uma entrada de queijo cremoso de cabra e as pequenas torradas crocantes e cobertas com azeite virgem e ervas, haviam estimulado o apetite de ambos, que regado ao tinto de qualidade, abria-se agora ao prato principal. Seus olhos pousaram, divertidos, sobre mim, por cima da taça de cristal recentemente servida de uma segunda dose.

Levantei o copo e acedi ao brinde proposto, como de costume, dizendo, com um sorriso maroto:

- Brindar sem beber? Nem pensar!

Era uma de nossas piadas privadas. Rimos, como sempre fazíamos, a sorver o agradável líquido escarlate, que descia, agora, já aerado e mais aveludado, por nossas gargantas.

A refeição era apenas a primeira parte da noitada. Era como se tudo estivesse planejado na dose certa.

- Que tal?

- Está ‘jeitosito’…

Outra piada privada. Quando usava aquela expressão, queria dizer, simplesmente, que havia gostado muito. Isso havia-me ficado evidente, quando repetiu, para meu deleite – e também o seu - a não tão modesta porção servida. A insegurança que eu sempre sentia, antes de experimentar o prato, desaparecera à primeira garfada. Eu não costumava provar o sal ou os temperos, enquanto cozinhava e, muitas vezes, ficava mesmo em dúvida se acertava. Mas aquela refeição estava bastante ao meu agrado…

Da despretensiosa e simples entrada de fatias de pão torrado com queijo, às delicadas trufas de chocolate amargo, com uma leve textura de amêndoas doces, no final, o jantar havia sido extremamente bem apreciado e a conversa fluíra naturalmente, digna do informalismo quase formal do momento.

Levantei-me, recolhi os pratos e os talheres e deitei-os na pia, com cuidado, enchendo os copos com água e deixando-os sobre a parte metálica da mesma, ao lado.

Ainda estava ocupado naquela tarefa, quando senti seus braços passarem à volta da minha cintura e o calor do seu corpo trazer uma sensação de conforto ameno nas minhas costas. Segurei-lhe os braços e movi a cabeça levemente para trás, com os olhos semicerrados. Senti o toque morno de seus lábios no meu pescoço e gemi, baixinho. Movi a cabeça para o lado e senti sua boca procurar a minha.

Aquela era uma prática bastante frequente entre nós. A provocação delicada, a aceleração da pulsação e o calor do sangue a procurar seu caminho pelas veias mais bem direcionadas, provocavam reações físicas visíveis e sensações mais que evidentes nas funções hormónicas. A testosterona agia rápido, acelerada pelo efeito da controlada dose de álcool contida no sangue.

Havia algumas semanas que não nos víamos e minha paranoia já andava a mandar-me mensagens de cautela, às quais eu evitava, a todo custo, dar ouvidos. Embora não fossemos muito eloquentes a respeito do que sentíamos, deixando sempre as palavras em modo Subjuntivo e as ações mais no modo Indicativo, reconheço que aquele abraço bem sabia à uma boa ideia de paraíso. Meu corpo respondia com evidências incontestáveis e eu não fazia nenhuma questão de escondê-las. Ao contrário, só nos dava mais motivos para continuarmos com a brincadeira. O toque da pele morna, o roçar das mãos no meu peito, os lábios a saborearem os meus, delicadamente… tudo aquilo contribuía para estimular a libido e intensificar o desejo.

Tomei-lhe a mão e dirigi-me ao quarto, sem acender a luz. A penumbra favorecia o estímulo aos sentidos e aos impulsos conduzidos ora por um, ora por outro de nós. Nosso contato não era somente físico. Havia uma função bastante cerebral, meticulosamente usada, com pouca hesitação, que intensificava desde as mais ténues preliminares até o ato final.

Aprendi a deixar-me tocar e gozar das carícias que recebia; de um simples e leve contacto com as pontas dos dedos, à investida mais lasciva de um abraço apertado, com direito a todas as sensações da pele.

Aprendi a fazer o mesmo e deleitar-me com o prazer que sentia ao perceber as reações daquele corpo. Tive a boa ideia de iniciar um jogo interessante. Tomei um frasco de óleo discretamente perfumado e aqueci uma pequena porção ao esfregá-lo nas mãos e iniciei uma massagem na base da coluna, deslizando os dedos, com vigor, para cima, até a base do pescoço e depois desci novamente até o cóccix. Uns pequenos nódulos de tensão muscular dissolveram-se pela pressão dos meus dedos e mãos e senti seu corpo relaxar aos poucos até que a massagem, por assim dizer, inicialmente terapêutica, tornou-se um jogo mais sensual.

O roçar das mãos na parte interna das coxas encetou uma outra sequência de ousadas carícias. Diminuí a pressão do contacto e comecei a estimular toda a extensão da pele, alternando a forma com que tocava, ora com as pontas dos dedos, ora com as costas das unhas, delicadamente, em sentido contrário, tentando descobrir como seu corpo reagia. O próprio passear dos dedos sobre a epiderme eriçada causava-me interesse maior em explorar pontos mais suscetíveis, no que era prontamente aceite, incentivando-me a continuar. Acreditei que muitas daquelas sensações eram-lhe novas, pela forma como a respiração entrecortava-se, à medida que o jogo evolvia. Perceber aqueles pormenores e sua cadeia de reflexos, divertia-me imensamente.

Deslizei meu corpo sobre o seu, lentamente, fazendo questão de assegurar-me que nossas peles ficavam em suave contato o mais longamente possível. Entrelacei minhas mãos nas suas e mordisquei-lhe, de leve, o lóbulo da orelha. O que seguiu-se foi uma sequência de atos lúbricos, manifestamente sem censura e sem tabus. O limite era o que nos fosse consensual, mesmo que não trocássemos mais do que poucas palavras, quase todas sussurradas, para não quebrar o doce encanto daquele momento lascivo.

Em mim, havia muito mais que um simples prazer sensual. Eu mergulhara, de cabeça e por completo, com corpo e mente, razão e emoção, no erotismo impulsivo daquele momento. E sabia que não estava sozinho…

Nossos corpos ainda quentes e ainda exalando suor, ainda encaixados um no outro, ainda usufruindo daquele momento de relaxamento - em que o mundo começa a voltar ao normal, mas não se quer deixar o fogo extinguir-se, por completo, agarrando-se desesperadamente ao último resquício daquela doce insanidade – pareciam flutuar entre diferentes estados. Por um lado, estavam exauridos, mas fisicamente saciados e, por outro, sentiam-se embriagados pelo conforto do gozo, que somente uma grande compatibilidade emocional proporciona.

- Tu usas todos os sentidos e ainda o cérebro… Acho isto incomum e impressionante…

Eu ri.

- É por conta do sensualista…

Disse-lhe aquilo num sussurro, conhecendo o peso da verdade quase hedonista que aquela expressão carregava e que eu aceitava, espontaneamente, naquele momento.

Tinha plena consciência que somente conseguia contentar-me se tivesse muito mais do que uma simples satisfação física e orgânica. Eu tinha que ter tempo, usufruir lentamente todas as sensações, todas as carícias, todos os sentidos e, ainda, abandonar-me completamente ao momento, por tanto tempo quanto me fosse possível. Era-me também imprescindível que aquele prazer desancorado fosse intuitivo, evidente, compartilhado e reciprocado por quem estivesse comigo…

***

- Minha vida está completamente desconfigurada…

A frase expressava, para mim, a ideia de um anticlímax. Era um balde de água fria, jogada contra minha confortável coerência.

Era a primeira vez que eu ouvia aquela palavra usada para referir-se à vida de alguém. Um verbo extremamente moderno, sendo usado para definir uma evidente e velha situação. Quem poderia ter uma vida normal, integralmente ‘configurada’, por assim dizer, nos loucos dias de hoje?


Um inesperado desconforto, entretanto, instalou-me em alguma parte da minha mente, naquele momento, pela estranha forma com que a frase soou-me. Eu não sabia se estava preparado para ouvir a continuação daquela conversa… 

domingo, 15 de junho de 2014

À Deriva (Ilustração)



Inicialmente a intenção era ilustrar o poema, mas demorei a gostar da pintura... uma pequena viagem ao surrealismo.