O som estridente das sirenes ecoou pelos corredores do grande edifício, com uma insistência pouco usual. Em um pequeno espaço de tempo, pessoas começaram a deslocar-se, apressadas, pelas galerias, numa estudada ação de evacuação. Fazia tempo que tal não acontecia e alguns elementos pareciam realmente perdidos no procedimento e limitavam-se a seguir os mais experientes.
O Conselho de Segurança fora chamado às pressas para uma reunião de
emergência. A maioria nunca havia participado em nada parecido em, pelo menos, mais
de um par de décadas, após o grande blackout
que havia acontecido pelo sistema de emergência haver apresentado uma falha.
- Senhores Membros do Conselho. Ainda não sabemos o que aconteceu, mas
por medida de segurança, devemos colocar esta unidade em estado de alerta. Não
deve ser nada grave, mas se houver perigo, temos que estar protegidos. Não deve
ter sido mais que uma falha no fornecimento de energia, como aconteceu uma vez
antes, há muito tempo atrás e que não passou de um grande susto para todos nós.
- Há algum perigo de invasão?
A voz daquele jovem, no meio da
grande sala, pareceu ribombar, quando o silêncio seguiu-se e caiu pesado como
uma rocha sobre o ambiente. Os olhos todos voltaram-se ao rapaz extremamente
pálido, de olhos esverdeados, que levantara-se para ter sua pergunta ouvida. O
chefe do Conselho falou, com voz calma, mas com o cenho um tanto franzido.
- Invasão? Não acreditamos que seja algo desta natureza. Nós somos um
povo pacífico. Não fazemos mal a quem quer que seja, nem temos nada em nosso
domínio que alguma outra civilização possa querer tomar. Na verdade, somos uma
raça despreparada para invasões ou para guerras. Somos cientistas e estamos
preocupados apenas com o bem-estar da nossa civilização e deste planeta.
Uma sombra, entretanto, pareceu
passar sobre o semblante sério do Chefe do Conselho.
‘O bem-estar deste planeta estéril… para quê, afinal? Já nem sabemos a
razão pela qual ainda estamos cá… nem sabemos porque nos mantemos vivos ou a este
sistema sem sentido.’
O pensamento passou-lhe como um flash, abandonando-o logo em seguida,
mas deixou o seu incômodo peso na mente do homem. Ele passou o olhar pelas fileiras
de cadeiras e sentiu um pouco de pena dos elementos que ali estavam. As faces,
tão pouco diferentes umas das outras, demonstravam apreensão. Ele tinha que
extinguir qualquer sinal de dúvidas em relação ao perigo, mas não tinha
informações concretas ainda, para poder sustentar seu discurso.
- Voltem para seus aposentos. A segurança tratará de mantê-los a salvo.
As portas permanecerão fechadas até que se tenha alguma resposta para dar-vos.
Agora vão.
A audiência saiu em silêncio e
tomou os corredores que davam para as galerias, onde estavam os aposentos.
Assim que entravam, o sistema de segurança bloqueava as portas e os monitores
ligavam, mostrando imagens captadas por câmeras instaladas do lado de fora do
edifício central.
O chefe do Conselho esperou que
todos saíssem, evitou o olhar questionador do jovem que fez a pergunta e que o
deixara inquieto, virou-se, antes que pudesse ser interpelado uma outra vez e entrou
por uma abertura por trás do púlpito, onde estivera por poucos minutos. Dali,
teria acesso à sala de controlo central do edifício, onde a segurança lhe daria
informações atualizadas sobre o incidente.
Enquanto caminhava pelo corredor
pouco iluminado, sua mente trabalhava com rapidez, a preparar-se para o que poderia
vir a constatar. As sirenes já lhe soavam bastante distantes e pouco audíveis,
mas ainda teriam que permanecer ligadas, até que todos estivessem recolhidos
aos seus aposentos. Ele esperava que agora fosse questão de apenas uns poucos
minutos a mais.
Entre um pensamento e outro, as
lembranças de um passado um tanto remoto iam preenchendo os espaços na mente do
chefe do Conselho com uma série de preocupações, que desde há muito tempo já não
o assombravam. O homem respirou fundo e entrou na sala de controlo central,
onde outros velhos e conhecidos cientistas já o aguardavam, com expressões de
preocupação estampadas nas faces. Um outro pequeno grupo entrou na sala, logo
em seguida, em silêncio.
- Não me parece nada tranquilizador…
O pensamento saiu-lhe pela boca,
antes que ele pudesse controlar ou evitar. Um homenzinho de olhos azuis muito
pálidos, quase transparentes, adiantou-se e disse, sem cerimônia e sem
demonstrar qualquer sinal de emoção:
- E não é, na verdade… Agora que estamos todos aqui, quero que me sigam
até a sala de segregação do Limbo.
O chefe do Conselho seguiu o
homenzinho, com uma expressão bem mais preocupada do que aquela com que entrou
na sala em que estavam. O caso parecia ser mais sério que ele imaginara. Atrás
de si, além do grupo dos mais experientes, um pequeno grupo de jovens cientistas
caminhava quieto, mas sem conseguir esconder a carga de curiosidade que sentiam
naquele momento. Suas mentes bem treinadas para resolver problemas físico-matemáticos
trabalhavam em ritmo acelerado, tentando antecipar o que estava por vir.
Mal sabiam eles que estavam
totalmente despreparados para o que iriam enfrentar dentro de poucos minutos.
***
Esta é a parte introdutória do novo conto. Mais uma tentativa de variar os temas...
ResponderEliminarsuspense,vou aguardar pela continuação.
ResponderEliminarVais ter uma surpresa, Mesquita.
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