Mãos habilidosas de artífice
Me construíram largas asas,
Que vesti
Como se fossem partes de mim
Desde todo o sempre
E pelo límpido ar da tarde
Alcei meu suave voo
De estréia.
O vento me acariciava o rosto
E o sol me aquecia o corpo,
Atraindo minha coragem
E tornando-me audaz,
Como se fosse um invencível super-herói.
Mas como menino que se empolga
- Demasiado -
Com seu brinquedo novo,
Me deixei levar
Pela beleza e pelo prazer de voar
E me permiti subir alto demais…
Perto demais do calor
Que ao mesmo tempo que me encantava,
Me derretia
O compacto suporte de cera
Artesanalmente manuseada que,
A sustentar minhas asas,
Me permitia continuar no ar.
Caí,
Como se fosse um pássaro
Ferido e incapacitado,
Cujas asas já não lhe valem
O verdadeiro intuito,
No meio de um oceano
Azul-escuro,
Que engoliu meu corpo
E meu desejo,
Imediatamente
E com uma frieza
Súbita e desumana.
Um abraço gelado
De morte
Paralisou meu coração
Mas meu medo não teve tempo
De se manifestar
Em meu espírito.
Foi então que tuas mãos
Me resgataram,
Inesperadamente,
Do mar de trevas
Em que estava
Completamente submerso
E embora já sem asas,
Ressurgi
No contacto
Com o calor do teu corpo
E do teu abraço.
Meu sopro de vida
Foi prudentemente
Resgatado
Por tua boca, que
- Colada à minha –
Trouxe-me de volta
À consciência e à realidade.
Não me presenteaste
Novas asas,
É verdade,
Mas, com certeza,
Me restituíste o poder
De voar
Outra vez…
Uma imagem e um sentimento... resgates, sempre resgates...
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