domingo, 29 de novembro de 2009

Pandemônio na casa de descanso - Parte 4

A directora vinha saindo do gabinete, quando viu a enfermeira-chefe passar de braços dados com o velho inquilino. Os outros olhos na sala pousaram sobre os dois, ao passarem tranquilos, com o gato acomodado confortavelmente no colo do velho. As mulheres inspiraram o ar e iam estufando o peito, num sinal de recomeço de falação, quando a directora, sábia e perceptiva, chamou a enfermeira. Esta deu uma batidinha leve no braço do homem e deixou-o ir sozinho para seus aposentos. Virou-se, simulou uma expressão tranquila, mesmo sabendo que iria ter que ouvir outro sermão. Na sua mente, ela pediu, aos Céus, paciência para aguentar as batalhas daquela vida…

- Venha comigo!

A voz da directora era autoritária, mas não demonstrava irritação. Era mais um apelo, desta vez. A enfermeira-chefe conhecia as nuances de humor da mulher. Sabia quando devia estar armada e quando devia ouvir. Aparentemente, desta vez, ela precisaria ouvir, apenas.

- O que se passou lá fora? Nós havíamos conversado sobre isso, antes. Esta preferência e esta intimidade entre vocês não pode continuar assim tão aberta. Pense nos outros que vivem aqui. Já me basta ter que ouvir as “gralhas” a reclamar, todas, ao mesmo tempo, por qualquer coisa. Se elas tiverem razão, será pior ainda…

- Eu sei. Não voltará a acontecer. Eu tentava conseguir uma explicação para a atitude dele, mas não consegui nada – defendeu-se a enfermeira, mantendo os olhos concentrados em suas próprias mãos. Ela não conseguia olhar a outra de frente, quando se sentia culpada.

- Estou cansada. Por favor, não torne os meus dias piores que estes últimos. Pode sair agora. Está na hora de servir a janta e eu espero que este homem esteja por lá. Cuide para que isso aconteça, sem muito transtorno.


O velho estava à janela, quando ela bateu, levemente, à porta do quarto. Ela entrou e ele ainda levou uns segundos para olhar a mulher que estava parada no meio do quarto a lhe observar. Ele notou uma ruga entre os olhos dela. Sabia que aquela expressão de preocupação era por sua causa.

- Tenho uma coisa para te dar. A voz do velho era baixa, meio rouca. Ela não sentiu aquela ironia de minutos atrás, nem qualquer emoção, além da seriedade de agora.

- Está na hora do jantar. Gostaria muito… Ela parou no meio da frase. Ele falou “para te dar”? Seria um presente?, pensou ela. A menina dentro de si aflorou como um raio. Ela olhou para o homem, com uma expressão desconcertada.

O homem percebeu um certo desconforto na situação. Pigarreou e disse, apontando para a caixa, em cima da escrivaninha:

- Quero que fique com isso.

Foi então que a enfermeira-chefe percebeu o objecto para o qual o velho apontara. Em sua memória, os dias passaram em alta velocidade. Ela lembrou do dia que viu, pela primeira vez, a pequena caixa de madeira, decorada com estrelas e luas, em um fundo azul-escuro.


Ela havia entrado no quarto, para chamar o amigo a sentar-se na sala de refeições e encontrou-o sentado, de costas para a porta. Ela chegou a ouvir uma gaveta fechar-se às pressas. Ele suspirou, levantou-se devagar e fitou-a com um olhar penetrante. Parecia sério e preocupado.

- Vamos jantar? - perguntou ela, tentando parecer naturalmente alheia ao momento embaraçoso que se sucedia.

Ele não respondeu. Continuou a olhá-la, com aqueles olhos que nunca pareciam sorrir. Por fim, estendeu-lhe a mão. Ela deu-lhe a sua, quase por instinto. Ele a puxou, levemente, trazendo-a para mais perto de si. Ela sentiu uma espécie de tontura. Ele moveu-se um pouco para o lado e colocou-se à sua esquerda. Virou-se para a escrivaninha, meio hesitante, suspirou e tomou uma decisão. Ela estava, ainda, meio incerta do que estava se passando.

Ele, então, girou uma chave na gaveta do meio e abriu-a, devagar. Parecia que curtia o momento, a excitação e o absurdo do que acontecia, sem que ela esperasse. Puxou-a para perto do móvel, de modo que ela pudesse ver melhor o que havia lá, mas sem colocar a mão dentro da gaveta.

Uma caixa azul, decorada com estrelas e luas amarelas, jazia por cima de um papel dobrado. Ela quase percebeu um timbre no avesso do papel, que estava sob a caixa.

O velho pegou a caixa e colocou-a em cima da escrivaninha, fechando a gaveta logo em seguida. Ela se aproximou, com cuidado, como se fosse invadir uma caverna escondida, em algum lugar secreto do mundo do velho, que continha uma arca de tesouro. Ele levantou, devagar, a tampa. Seus olhos azuis brilharam ao olhar dentro da caixa.


- Prometi à directora que lhe convencia a jantar agora, sem criar muito transtorno. Disse ela, voltando ao presente. Não sei se devo aceitar a sua oferta. Ela misturava os pensamentos e assuntos, em frases que iam aparecendo, sem controle, quando ficava nervosa.

Ele levantou a mão. Ela sabia que devia parar de falar.

- Vamos jantar, agora. Depois conversamos sobre isso. Se eu for agora, prometes que aceitas o presente?

O olhar dele era quase uma súplica… ou um apelo. Podia haver qualquer coisa escondida por trás das intenções do velho, pensou ela, desconfiada.

Mesmo assim, ela fez que sim, balançando a cabeça. Em seguida, tomou a mão do velho e se dirigiu para a porta, puxando-o atrás de si, com delicadeza.

domingo, 22 de novembro de 2009

Pandemónio (na casa de descanso) - Parte 3

- A senhora sabe a condição que ele impôs, quando entrou nesta casa a primeira vez. Nós concordamos… - tentou a enfermeira-chefe interpelar.

- Quem ficou responsável por ele, em primeiro lugar? - interrompeu a directora, seca e decididamente.

A enfermeira-chefe suspirou. Ela sabia que a directora não a ouvia, quando estava cega e ensurdecida pela ira. Chegava a ser intransigente, por vezes, e de nada adiantava tentar demovê-la, a não ser pelo bom senso, que nem sempre aparecia.

Seus olhos azuis baixaram e ela olhou para as mãos – brancas e delicadamente longilíneas - como se procurasse um argumento convincente, sem ofender a autoridade da enérgica mulher, sentada à sua frente. Ela sabia que a responsabilidade era sua, pelo bem-estar do velho. Ela havia assumido a sua parte do contrato, quando o homem chegara àquela casa, com uma única condição, que fora aceita pela direcção, depois de alguma argumentação.

A directora e o velho inquilino tinham muito em comum: eram ambos muito arraigados às suas próprias convicções e os termos eram intransponíveis e irredutíveis, de ambos os lados. Enquanto o velho queria sua privacidade intocada, a mulher queria o controle da situação, a qualquer tempo. Por fim a mulher cedeu. O homem vencera a batalha, com um argumento sem precedentes. Dispôs-se a pagar a anuidade de uma vez só e acrescentou um extra, pela sua privacidade e com a condição de não ser perturbado, quando precisasse estar só, por períodos mais longos. Esta condição preocupou a directora, mas não teve o mesmo efeito na enfermeira-chefe, que se divertiu ao ver o homem dobrar a administradora, com uma barganha daquelas. Ela não esperava, porém, que os tais períodos mais longos fossem durar tanto quanto três dias, como desta vez.

- Eu devia ter percebido que o dinheiro, que nós tanto precisávamos, iria me trazer dores de cabeça. Nada vem assim tão fácil, dizia a directora, à beira do histerismo.

A enfermeira-chefe escondeu um risinho, ao olhar para a austera mulher, que começava a cair na realidade. Claro que nenhuma caridade viria daquela situação. Ela sabia que a condição imposta pelo homem tinha suas dualidades, mas o dinheiro era tão necessário para fazer os pequenos reparos na casa… a pintura havia ficado uma maravilha, pensou a mulher, com os olhos distantes e sem prestar verdadeira atenção ao que a outra falava…

- … se apegaram demais! É contra a ética desta casa! E os outros?

A enfermeira-chefe levantou nos olhos e tentou captar a essência daquela conversa. O que a mulher estava dizendo?

- Ela está me acusando? pensou a enfermeira. Não consegui pegar o começo da frase e não tenho coragem de fazê-la repetir. Ela me mataria por estar falando este tempo todo, sem ter a minha atenção… Melhor me concentrar.

- Dois anos! Dois anos foram suficientes para me envelhecer os dez que eu sinto pesar sobre minhas costas. Os tempos são difíceis, mas isto parece um pacto de morte!

- Ela está exagerando… pensou a enfermeira. Dramática, como sempre. Jesus! Me tire daqui… Ela já não ouvia a conversa-sermão da outra…

Quando saiu do gabinete da directora, a enfermeira-chefe estava cansada e drenada de forças. Mesmo assim, tinha prometido ir ao jardim conversar com o velho. Ela tinha uma simpatia pelo homem, que tanto deixava as outras completamente loucas, quanto fazia a vida da administradora uma carga que ela custava carregar. Mas entre ela e o homem havia uma certa cumplicidade. Desde o início, eles haviam sido amigos. Talvez porque ela respeitava o espaço que o inquilino criou à sua volta, talvez por lembrar-lhe alguém de quem gostava muito. O velho era um mestre para ela. Ela, talvez, fosse o único elo com a realidade, que ele ainda mantinha.

Ao caminhar para a porta que dava para o jardim, ela pensou que talvez estivesse errada a este respeito. Certa vez, havia ficado até tarde arquivando os papéis na sala da directora e viu luz na saleta onde havia o computador. Apesar da maioria dos inquilinos serem idosos, alguns mantinham correspondência, através de e-mail com seus parentes ou amigos. Alguns aprenderam a usar o computador após chegarem àquela casa. Apesar de cansada, foi verificar quem estava no computador aquela hora. Não reconheceu os toques subtis nas teclas, até chegar à porta da saleta.

Ela viu o velho digitando algo, com uma boa destreza manual e até uma certa intimidade com a máquina, apesar da idade. Não castigava as teclas com força, como alguns faziam. Os toques não eram rápidos demais, nem tampouco lentos a ponto de parecer um “catar de milho”. O velho conhecia bem o teclado.

Ela pigarreou baixinho e percebeu que o velho parou de digitar. Ele estava bem à frente do monitor e tratou de fechar o arquivo ou o que quer que estivesse fazendo. Ela sentiu que invadiu um território não permitido. O velho fechou o programa e se virou. Ela sorriu, meio sem jeito. Ele levantou-se e caminhou na direcção dela, olhou-a nos olhos e disse, baixinho:

- Existem horas em que é melhor não dizermos nada.

Colocou uma mão leve no ombro da mulher, ao passar por ela e saiu, sem olhar para trás. Ele nunca olhava para trás… pensou ela.


Da porta, ela viu a bizarra figura, sentada com óculos escuros, a acariciar atrás das orelhas do gato. Arrastou levemente os sapatos, para se anunciar, sem interromper a intimidade dos dois. O gato logo levantou a cabeça e olhou para a entrada. O velho não se mexeu. Sabia que a mulher viria conversar com ele, mais cedo ou mais tarde.

- Acabo de ouvir um longo sermão. Ela não dizia aquilo com indignação. Era como se contasse uma história, sobre um acontecimento banal.

- Sinto muito. O homem não exprimiu emoção, nem se virou para olhar para ela, ao dizer aquilo.

- Não, não sente… Ela sorriu, ao fazer a constatação e viu que ele riu também.

- Não, não sinto… mas é educado dizer que sinto muito. Ele se voltou para olhar a mulher.

Ela era jovem, talvez beirando os 35 anos. Não tinha uma beleza que o faria virar a cabeça, quando passasse por ele na rua, mas tinha os olhos de um azul profundo, que pareciam pedir socorro. Ele adorava olhar para aqueles olhos. O velho corou um pouco e ela percebeu que por trás dos estranhos óculos, ele a observava com simpatia.

- Vamos entrar? Está esfriando. Ginger já está meio encolhido, mentiu ela e se levantou.

Estendeu a mão ao velho e este cedeu, levantando-se do banco, na tarde que já esfriava lentamente.

O gato pulou à frente dos dois e correu para a porta de entrada, com a trela arrastando atrás de si. Na varanda, parou e esperou pelos dois, que vinham de braços dados. Entrelaçou-se nas pernas do velho e a mulher se abaixou, retirou a trela do corpo do animal e deixou-o livre. O velho se abaixou e tomou o gato no colo. O bichano esfregou a cabeça afectuosamente no peito do homem. A enfermeira-chefe coçou a cabeça do bichinho e este retribuiu, ronronando de satisfação.


- O senhor me deve uma satisfação, não deve? Ela sabia que a pergunta era meio retórica, somente.

- Ficarei feliz em satisfazê-la, disse o velho… mas não sei se serei capaz…

Ela riu. Sabia que aquela conversa estava encerrada. Mas, para sua surpresa, o homem disse:

- Venha. Vou-lhe mostrar uma coisa…

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Pandemônio (na Casa de Descanso) - Parte 2

Lá fora, o velho usa um jornal seco, que apanhara de cima de uma mesa na varandinha, para secar o banco de madeira do pátio, onde iria se sentar logo em seguida.

O gato, percebendo que o chão está molhado, salta sobre o banco e senta-se sobre as patas traseiras, ao lado do homem, atento aos movimentos dos pequenos pássaros, que voam de um galho ao outro do grande flamboyant e, por vezes, brincam entre as flores cor de magenta da buganvília mais adiante. Os olhos atentos do felino estão no movimento das aves, mas suas orelhas giram na direcção do homem sentado, absortamente, a olhar na mesma direcção que ele, com os olhos aparentemente vazios de emoções.

O velho sacode a cabeça levemente e sorri para si mesmo, discretamente. Ele lembra que a enfermeira-chefe costumava dizer que os seus olhos nunca sorriam.

Se ela soubesse… O homem apalpa alguma coisa no bolso esquerdo da calça e meneia, um pouquinho, a cabeça. A mesma canção, que já havia mexido com suas memórias, recomeça a tocar em sua cabeça…

I heard telephones, opera house, favourite melodies
I saw boys, toys, electric irons and TV’s
My brain hurt like a warehouseit had no room to spare
I had to cram so many things to store everything in there*

O velho tira um pedacinho de papel do bolso. Ele acaricia o papelzinho dobrado e amarelado pelo tempo. Com mãos um tanto trémulas, desdobra-o e observa a caligrafia miúda, quase rebuscada. Teria sido, a pequena mensagem, escrita para impressionar?

…And all the fat-skinny people… and all the tall-short people…*

Um nome, escrito em um pedacinho de papel, guardado com tanto cuidado, por tanto tempo… Uma memória de um único encontro e uma mensagem simples. Simples como a sua vida havia sido. O velho volta a dobrar, em dois, o papelzinho amarelado e a guardá-lo no bolso.

… And all the nobody people and all the somebody people…*

A canção continua a repetir, sem parar, na sua cabeça. Ele lembra do dia em que entendeu claramente o sentido daquelas palavras, colocadas tão simples e sabiamente na letra da canção. Lembra como repetiu aquela frase, inúmeras vezes, como se tentasse interiorizar a força e a veracidade de tão manifesta declaração.

…I never thought I’d need so many people…*

Ele percebera como aquela canção o fazia abominar esta dependência, que ele agora sentia, mais do que nunca antes. E, no entanto, a melodia tão bela e, ao mesmo tempo, tão desesperada, o fazia voltar no tempo e lembrar de coisas que o deixavam com vontade de chorar. Seus olhos perdiam-se no vazio. Ele já não estava interessado nos sons e os acontecimentos à sua volta. Sua mente viajava no tempo, para trás e para frente…

As luzes da sala de espera, em frente ao portão 22, de repente, pareceram apagar, excepto por uma: aquela que estava acima dos olhos azuis, que fingiam não ver o homem sentado, a ler um jornal e a demonstrar uma certa inquietação. Os olhos da alma do homem perceberam a luz do outro lado da sala, antes que ele levantasse a cabeça. Ao olhar naquela direcção, pensou, consigo mesmo, em como a vida, às vezes, podia ser injusta. Uma pessoa tão linda e não ia ter a oportunidade de conhecer. Ele, que não tinha o hábito de conversar facilmente com estranhos, daquela vez, não podia estar mais enganado…


Os olhos, por trás dos estranhos óculos escuros, momentaneamente entristeceram. O velho lembrou-se, com uma certa melancolia, de outras pessoas e sentimentos… Não sabia dizer se sentia saudades do que passara. Pode-se sentir saudades dos erros do passado? Nostalgia ou simples auto comiseração – que importava agora, se sua alma se sentia abraçada por um sentimento tão antagónico e sedutor? Era quase confortável experimentar, pelo menos, aquela sensação de tristeza, misturada com saudades de uma certa pessoa, que lhe deixara, de concreto, somente o pedacinho de papel, agora já amarelado pelo tempo e guardado com extremo cuidado em seu bolso.

O gato, sentado ao seu lado, percebeu uma ponta de angústia passar pelo semblante do homem e, chegando mais perto, deu uma cabeçada amiga no velho companheiro, nostalgicamente sentado, em silêncio, ao seu lado. O homem levou a mão à cabeça do felino e acariciou-lhe ternamente. O ronronar de aprovação fê-lo sorrir, apesar da estranha sensação que experimentava, naquele momento.

- Sempre um amigo… sempre atento às mudanças do meu humor…, disse baixinho o homem.

O gato moveu-se e apoiou as patas dianteiras sobre a perna do velho, pedindo mais um pouquinho de carinho e atenção, como se soubesse que esta atitude tinha o efeito exactamente contrário da intenção. O receptor se comprazia em dar ao outro o prazer da afeição que recebia… e ronronou de satisfação.


Lá dentro, as mulheres iam pouco a pouco se dispersando entre seus afazeres e outros interesses momentâneos, deixando de se preocupar com o homem sentado do lado de fora, que não lhes dava ouvidos, nem às suas lamúrias e protestos. Elas sabiam que seria inútil reclamar a ele, pois não lhes dava atenção, especialmente quando todas falavam ao mesmo tempo, facto que o velho ostensivamente abominava. Ele sabia que a directora servia de suporte às “aves palradoras”, pela sua simples presença. Elas usavam as parcas ocasiões em que a mesma se encontrava por perto, para instilar seus venenos e reclamações, completamente ignoradas pela paciência do velho.

Como a directora ia, agora, se ocupar com a enfermeira-chefe, a força das outras se dissolvera no ar, como nuvens ao vento. O som das vozes estridentes foi-se apagando e elas voltavam à sala de TV, ocupadas com seus crochés, revistas de fofocas e jogos de dominó.

Lá fora, o velho dá um suspiro de alívio, ao sentir que as mulheres se calavam. O gato se aninha ao seu lado e se prepara para uma tranquila soneca. O velho observa o felino a proceder com suas lambidas rápidas pela pelagem do dorso, barriga e patas, como se precisasse tomar um banho antes de dormir.


- Vamos ao meu gabinete, disse a directora à enfermeira-chefe. Precisamos conversar… e muito!