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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Receios & Desencontros


- Olha para mim. Olha para mim. Só um bocadinho. Um segundo que seja...

Isso...  Tu não tens ideia do que se passa, não é? 

Eu venho cá todos os dias, à mesma hora, sento-me à mesma mesa e espero ansiosamente pela tua chegada. Tu me olhas, mas não me vês, como se eu fosse transparente… e eu sou… completamente transparente. Basta veres como os talheres escapam-me das mãos, cada vez que teus olhos cruzam os meus. 

Às vezes tu sorris, quando me olhas e pensas que eu não noto, mas basta eu te olhar e tu desvias e disfarças, como se a minha invasão te ferisse. 

Tenho medo de ferir-te. Tenho medo de ferir-me, na tentativa de não ferir-te. 

Receio que teu riso seja de troça e que o desvio de teu olhar seja por impaciência. Receio dirigir-te a palavra. Tenho medo da rejeição. Prefiro que troces de mim e rias do meu mau-jeito do que nunca mais me olhes ou evites minha presença desajeitada. 

Só queria ter mais coragem e cumprimentar-te, mas este pensamento assusta-me.  

Já não consigo engolir a comida. Já não consigo organizar meus pensamentos. Já nem consigo tirar os olhos de ti. 

Droga! Corei. 

E se fugires, ao perceberes, impaciente, que eu passei do limite, corando deste jeito?  

Devo ir, antes que faça uma vergonheira. Meu coração está destroçado, mas meu orgulho está intacto. Mas nem ficaria triste se meu orgulho deixasse minha coragem entrar em cena… em grande! 

Não me olhes agora. Tenho as faces afogueadas. Meu corpo inteiro arde. Apesar do frio, sinto um calor infernal. 

É verão dentro de mim… Mas teus olhos não perceberão. Tuas mãos não sentirão. Teus lábios não tocarão. 

Tenho que ir, antes que caia à tua frente e peça-te para falares comigo. Antes que eu perca o controlo e te diga como me sinto. 

Tenho medo de mim. Melhor sair correndo, já que, se ficar, dói-me o peito. Adeus. Amanhã volto cá e faço este filme todo outra vez. Quem sabe o destino aja a meu favor e faça-te sentar perto de mim… Se isso acontecer, não serei capaz de almoçar. 

Melhor que fiques longe de mim... Assim, numa distância segura, onde nossos olhos possam olhar e cruzar, sem que nossos outros sentidos sejam afetados, assim, no meio da multidão. 

Vou-me, que meu peito dói muito. Minha cabeça dói. Minha garganta está seca. Melhor eu ir… já… antes que seja tarde demais...
 
***

- Oh! Foi-se... Como todos os dias...

Daria tudo para ter certeza que aquele olhar tão tímido volte amanhã. Passo os dias a pensar naquele olhar e tentar perceber porque deixa cair os talheres cada vez que eu olho naquela direção. 

Às vezes sorrio, desajeitadamente, só para ver se recebo, pelo menos, um traço de resposta, mas qual nada! Só desvias o olhar. E quando isso acontece, meu peito dói e minha cabeça diz-me para esquecer, de vez, que aquele olhar, tão magnético, poderia, um dia, olhar-me para sempre, admirar-me, desejar-me, como eu desejo. 

Tenho medo. De machucar-me. De magoar-te. 

Não consigo tirar meus olhos de ti, por mais que tente, mas não consigo sustentar tua timidez com a minha. Vejo-te enrubescer e sinto que invadi tua tão salvaguardada privacidade. Mas ficas tão bem, assim, com esse rubor a decorar-te as faces pálidas. 

Quem me dera ter coragem para dizer-te olá. Queria tanto sentir teu cheiro, o calor da tua pele, o toque de tua boca. Queria sentir a força das tuas mãos a apertar as minhas e fazer-te as promessas que tenho medo de ouvir. 

Por que a coragem falta-me justamente quando mais devia dar-me incentivo? Tenho que seguir-te. 

Tenho que chegar perto de ti, mas tenho medo que rias de mim. Tenho receio que ao ver-me, assim tão perto, chames a segurança e levem-me para longe de ti. 

Tenho medo de mim. Tenho medo de não conseguir controlar-me amanhã, quando sentar à mesa à tua frente, tão cuidadosamente escolhida por mim, para não perder-te de vista... naqueles poucos minutos em que estamos frente a frente... tão perto e tão distantes...

 Sinto um calor quando levantas e sais. Depois, minha alma congela, por sentir tanto tua falta perto de mim. 

Passas, sem olhar-me. Meus olhos, desejosos de ti, não te perdem, jamais, de vista. 

Amanhã tenho que tomar coragem. Não consigo mais viver assim, sem poder chegar mais perto de ti. Quem sabe, amanhã, eu consiga dizer-te algo estúpido, só para ter tua atenção e para ouvir tua voz... 

Quem sabe até sorrias para mim e respondas com algo mais estúpido ainda... e aquilo nos faça rir do ridículo da situação... e nos aproximemos... e... 

Amanhã... Quem sabe, amanhã não fujas de mim, como foges todos os dias... 

Amanhã... 

Hoje... infelizmente... já perdi-te... mais uma vez!

***