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sábado, 5 de abril de 2014

Anno Domini: 4553 (P3: Leona)



- Eu preciso voltar a falar com ele. Preciso saber o que aconteceu…

- Não. De jeito nenhum. Não podemos deixar-te arriscar. Tu viste a agressividade dele. Ele é violento e perigoso.

- Ele é meu irmão!

- Não sabemos disso ainda. Pode ser uma estratégia para nos enganar. É preciso muito cuidado.

- Eu conheço aqueles olhos e conheço a tatuagem. Não pode ser um engano!

O chefe do Conselho estremeceu um pouco, diante da menção à tatuagem, mas não deixou-se fraquejar. Segurou-lhe firmemente ambos os braços, com suas mãos pálidas de dedos longos e aparentemente frágeis. Ela parecia impassível e ele já não sabia como chamá-la à razão. Os olhos grandes de Leona pareciam, agora, duas esmeraldas banhadas por fontes de águas cristalinas. Ele sabia que estava prestes a perder uma das muitas batalhas que travara com ela, vezes e vezes sem par. Esta era outra daquelas que sabia não ter muitas hipóteses de vencer. Ele quase não conseguia resistir à súplica no olhar daquela mulher.

- Por favor…

- Liana, use a razão, por favor. Todo cuidado é pouco!

- O nome é Leona!

Ela não conseguiu manter a seriedade depois de ser chamada pela alcunha que ele lhe havia dado, há muito tempo atrás. Ela riu, mas lágrimas insistiram em turbar-lhe a visão clara das coisas. O homem puxou-a para si e abraçou-a com firmeza e carinho. Ela soluçou aninhada ao peito dele. Seu corpo escondia a fragilidade, protegida pela veste longa a cobrir-lhe da cabeça aos pés. O capuz escorregou-lhe, deixando à mostra a cabeça bem desenhada e muito diferente, em formato, daqueles seres contemporâneos que viviam à sua volta. Os cabelos, cortados muito curtos, davam a impressão que seus olhos fossem enormes…

- Eu só quero proteger-te. Não quero expor-te a um perigo desnecessário. Já passamos por perigos maiores... antes...

- Ele é meu irmão!

A voz era um sussurro desesperado, mas impotente, abafado pelo contato no peito do amante. Ele apertou-lhe o corpo, mais firmemente, contra o seu. Ela aninhou-se dentro daquele abraço. Naquele momento as memórias invadiram os pensamentos de ambos com tanta nitidez, que pareciam estar juntos no mesmo processo mental.

***

- Leona, use a rota de fuga e leve-o daqui, depressa, antes que eles o descubram.

A ordem do pai era inquestionável. Ele sabia do perigo que corriam e tinha que proteger a ambos, a qualquer custo. Alguém acabava de passar pelo sensor do alarme na entrada da propriedade onde ficava a casa em que estavam.

Eles vinham sendo constantemente atacados por um bando de assassinos, contratados por uma poderosa cooperativa químico-farmacêutica, que não tinha interesse nenhum em que suas pesquisas dessem certo, pois colocariam em risco o comércio de drogas e fármacos e, consequentemente,  os resultados estupendos daquela lucrativa indústria.

O Doutor era um renomado - mas humilde - cientista que pesquisava uma vacina capaz de recompor deformidades no DNA dos seres humanos, com o ingénuo intuito de erradicar as doenças e permiti-los viver por mais tempo. Vários testes haviam sido feitos a partir de um profundo e longo estudo do DNA das borboletas Monarca, que possuíam um ciclo de vida muito maior que qualquer outra de sua espécie e apresentavam uma resistência incomum às doenças.

Após uma série de testes, a experiência pareceu, finalmente, dar certo. Além de haver inoculado a si mesmo, como cobaia, a filha do cientista, Leona, também havia testado a vacina, com sucesso. O estranho visitante era a prova que o seu experimento havia tido sucesso. O nome do doutor era parte da história contada no futuro.

O homenzinho havia vindo ao passado, através de um portal de transporte, para contactar o Doutor, acerca da longevidade de sua espécie. Em sua época e no planeta em que habitavam, as pessoas viviam por tempo extremamente longo, livres de quaisquer problemas de saúde física. Uma onda de depressão, porém, começava a assolar os membros mais velhos, que já não viam objetivo nem sentiam prazer em viver por tanto tempo. Ele esperava que o Doutor pudesse ajudá-lo. A interrupção em seu colóquio, deu-se antes mesmo que o cientista pedisse uma amostra de seu sangue, para comparar com o seu e da filha. O interesse científico era-lhe, naquele momento, mais relevante que o problema de depressão da futura geração, mas o doutor escondeu aquela impressão do visitante.

- Venha depressa, pela passagem por trás da casa.

O homem seguiu a jovem, sem pestanejar, ambos protegendo-se contra o ataque repentino. A passagem estava escondida dentro do galpão que ficava na traseira do terreno onde a casa fora construída. Uma espécie de bunker conduzia-os por uma passagem para uma série de túneis, um dos quais levava até um outro edifício, cerca de sete quilómetros longe do local original. Os outros túneis fariam o perseguidor andar em círculos, antes de descobrir o engano. Aquele homem não tinha forças suficientes para correr todo o percurso, por isso precisou de algumas paradas, mas a moça começava a perder a paciência com o atraso na fuga. O pai ficara para trás, para defender-lhes, proteger o filho mais novo e distrair os intrusos.

Ela já havia passado por situação semelhante, mas sabia que seu coração não ficaria tranquilo enquanto não tivesse notícias da origem. Ela e o irmão mais novo já haviam passado por situação semelhante, por isso ela conhecia bem o procedimento e o caminho. A moça olhou o homem de aparência estranha a tentar recuperar o fôlego e deixou de sentir-se incomodada com o atraso. Sentiu apenas pena. Ele percebeu que era observado e olhou-a, com um ar de quem se desculpa. Ela sorriu, meio sem jeito, quase sentindo-se culpada por haver estado impaciente.

- Temos que continuar.

O homem tinha uma expressão desesperada na face. Ela puxou-o pela mão e rumaram para o lugar seguro. Depois de saírem dos túneis e do tal edifício, teriam que passar por um pequeno bosque, cruzar uma clareira e um parque, para finalmente chegar à uma outra casa, que cobria toda a área de um quarteirão, do outro lado da vila.

Ao passarem pelo bosque, esbarraram nos galhos de uma velha conífera, que tinha uma espécie de cobertura viva e colorida em tons amarelo-alaranjados, pretos e com pontículos brancos. Algumas das Monarcas da colônia, à passagem dos intrusos, levantaram voo e começaram a circular à volta deles. O homem parou, encantado com a visão.

- Oh... O que são?

- São as borboletas Monarca.

- Nunca vi nada igual. São… são…

- São lindas! E frágeis…mas estas são as únicas borboletas que têm o ciclo de vida mais longo, que pode chegar a nove meses, se não houver nenhum agente externo que cause sua morte... Como nós… As experiências do meu pai são baseadas nos estudos do DNA delas...

Ele levantou a mão e deixou-se tocar pelas asas dos insetos em voo.  Ela percebeu que ele sorriu, pela primeira vez.

Na casa havia uma cozinha enorme, um amplo espaço, com uma mesa para, pelo menos, doze pessoas. Na sala havia outra, tão grande quanto aquela. Na varanda havia outra, menor.

- Liana – há muitas mesas nesta casa…

- O nome é Leona…

- Oh... Desculpe.

Ele olhou a moça, com seus olhos estranhamente azuis, de um tom escuro, quase ultramar e pediu-lhe:

- Fale-me das borboletas, por favor.

- A migração das Borboletas Monarca  é um dos mais maravilhosos eventos que ocorre em nosso planeta. Começa no final do verão e elas viajam cerca de cinquenta quilômetros por dia. Esse período também marca o nascimento de uma nova geração de borboletas que emergem de suas crisálidas. Essas novas borboletas não acasalarão ou colocarão ovos até a primavera seguinte. Durante o ciclo da migração muitas perdem suas vidas nos obstáculos. No total, as Monarcas viajam quatro mil quilómetros,  para fugir do inverno e a gordura armazenada no seu abdômen garante combustível para um voô  de até cinco mil quilômetros. Acredita-se que as borboletas "economizam" combustível viajando, soltas, a aproveitar as correntes de ar.

- Que coisa absolutamente maravilhosa. Nunca pensei que tal coisa existisse. É realmente fascinante.

Leona olhou aquele homem estranho, com a cabeça praticamente sem pelos, olhos grandes e pele muito pálida e pensou como uma coisa tão banal e que tinha tão pouca importância para muitos, podia impressionar alguém, daquela forma, naqueles tempos conturbados. Quanta coisa simples estava sendo deixada para trás. Quanta beleza passando despercebida aos olhos dos humanos cheios de medos e preocupações banais.

***

- É a terceira vez que eu venho... O que é esta marca no teu braço? Oh. É uma Monarca…

- É uma tatuagem. Não pode ser apagada. Significa muito para mim...

O olhar interrogador do homem para a moça fê-la corar imediatamente. Ela fora surpreendida e não sabia como explicar porque havia feito a tatuagem.

- É tão linda. Como faço para ter uma igual?

O olhar que a moça dirigiu-lhe foi tão terno que o homem sentiu uma sensação desconhecida vir de suas entranhas. Ela aproximou-se e beijou-lhe os lábios pálidos. Uma outra sensação estranha turvou-lhe os pensamentos e provocou-lhe uma série de reações físicas, que ele desconhecia totalmente. Instintivamente, passou os braços à volta dela, apertando-a contra si. Seu corpo reagiu imediatamente e o dela também.

***

- Coça e arde um pouco. É normal?

A mulher olhou o homem deitado a seu lado: o corpo pálido, os braços pouco musculosos e a cabeça grande e quase sem cabelos e pensou na ingenuidade e transparência dele. Ele acariciava, com os dedos longos e pálidos, a tatuagem recém impressa na pele. Ela percebeu que estava cada vez mais envolvida.

- É normal, sim. A tatuagem é um pouco agressiva, no começo, mas ficou muito bonita na tua pele assim tão branca e fina.

A borboleta Monarca tatuada no braço do homem era idêntica à dela, representando o símbolo da transformação e resistência e, também, da fragilidade efêmera da beleza. Passou a ser também a assinatura da relação entre ela e o chefe do Conselho. Agora acostumado com o carinho dela, o homem beijou-a.

- Liana… o que é isso que eu sinto?

- O nome é Leona.

Ele riu. Ela também.

- É afeto, o que tu sentes, meu querido…. Deve ser amor!

Leona beijou-o como se sentisse um misto de desespero e fome. Naquele momento, ele era como um oásis no meio da aridez do deserto de medo e incerteza em que vivia. Quase se sentia segura, ali, protegida pelo calor ameno do corpo dele…

Então, como se os deuses estivessem a brincar com ela, ouviu-se um estrondo vindo da entrada. Ela saltou da cama, com a agilidade de uma gata e espiou pela janela, enquanto vestia uma t-shirt e os jeans surrados. O grupo de invasores acabava de explodir a entrada e entrar na casa. O esconderijo já não era seguro.

- Temos que fugir… agora…

O homem mal conseguira vestir-se, quando ela puxou-o pela mão e correu para o fundo do corredor no segundo andar. Havia ali uma passagem para o lado de fora, através de uma escada, que ficava ao lado oposto da entrada recém-bombardeada. Fazia algum tempo que tal não acontecia e já quase sentiam-se seguros. Um trajeto alternativo até os túneis teve que ser usado. Uma vez lá, tiveram que encontrar a passagem para o portal de transporte. Este havia sido movido para um local seguro, de modo a garantir a volta do homem ao seu tempo e lugar no futuro. Ao chegar lá, ouviram outra explosão e os gritos dos invasores. Leona, mais uma vez, liderou a fuga.

- Vá depressa. Eu fico a salvo. Sei defender-me e tenho que ver como estão os outros.

Ele olhou para a entrada do túnel e viu que os invasores estavam chegando perto demais. Ela gritou que ele fosse rápido. Num cálculo mental rápido, ele percebeu que ela não ia conseguir escapar daquela situação, então ao invés de fugir sozinho, puxou-a para dentro do portal e programou a autodestruição para três segundos depois da transferência. O túnel explodiu antes mesmo de os invasores chegarem perto deles.

***

O som estridente e insistente de uma sirene começou a soar poucos segundos depois. A mulher, abraçada ao corpo do homem pálido, olhou a volta e não reconheceu o lugar. Um facho de luz branca muito forte desceu do teto, criando um potente campo de força à volta dos dois, imobilizando-lhes os movimentos.

Um homenzinho de olhos azuis muito claros olhava-os com um ar bastante grave, entre o de preocupação e o de desaprovação…

A sirene tocava sem parar. Ela olhou o rosto do amante e percebeu que, pela primeira vez, desde que o conhecera, ele parecia constrangido…


***

sábado, 29 de março de 2014

Anno Domini: 4553 (P2: Limbo)




O terminal de transporte ficava na outra extremidade do edifício, onde os cientistas haviam-se reunido inicialmente. Qualquer indivíduo que lá chegasse e não tivesse uma espécie de chip de dentificação implantado num ponto atrás da orelha direita, ou um respectivo código de barras impresso na pele, na mesma região, era automaticamente transferido para a sala de segregação. Uma vez segregado, o transeunte deveria ser devidamente  identificado, reconhecido e transferido para a correspondente unidade. Ironicamente, a área onde ficava a sala de segregação chamava-se ‘Limbo’, por ser utilizada com a funcionalidade de suspender, temporariamente – ou não -, a transferência do passageiro captivo que estivesse sem a identificação, para o próximo nível.  
O grupo chegou ao terminal poucos minutos após sair da sala onde haviam-se encontrado com o chefe do Conselho. O técnico aguardava-os à entrada para levá-los logo ao seu destino. Ao entrar, alguns dos cientistas mais jovens tiveram um choque.
Envolto por um forte campo magnético circundado por um facho de luz branca, que vinha de uma fonte no teto, bem no centro da sala de segregação do ‘Limbo’, estava uma espécie aparentemente desconhecida de humanoide. Com boa parte do corpo coberto de pelos escuros, a criatura parecia ser uma anomalia genética. Os pelos no alto e à volta da cabeça eram mais longos e estavam desgrenhados e sujos. A pele tinha características humanas, mas parecia mais espessa e escura que as dos cientistas a observarem o estranho. Os olhos eram verdes; profundamente verdes. Havia neles uma certa loucura selvagem, claramente estampada. Ele estava aparentemente imobilizado pelo campo magnético à sua volta, mas não escondia uma agressividade manifesta pelos músculos visivelmente desenvolvidos e tensos.
- Já conseguiram comunicação com ele?
O técnico - um homem jovem e alto – respondeu, prontamente e sem titubear, ao chefe do Conselho.
- Ainda não. Ele expressa-se em uma espécie de linguagem que o tradutor automático não consegue distinguir. Já tentamos todas as variantes possíveis e não obtivemos nenhuma solução clara. O pouco que conseguimos não faz muito sentido, por isso acreditamos que deva ser uma língua ou muito nova ou muito antiga.
- E se for um dialeto?
- O tradutor não consegue distinguir nenhum dialeto conhecido… Já não temos alternativas viáveis…
- Acredito que temos, sim.
O chefe do Conselho olhou o homenzinho de frente e com uma expressão preocupada. Os olhos quase transparentes pareciam desafiá-lo.
- Ah, não. Não temos. Esta hipótese nem pode ser cogitada. Não mesmo…
- É nossa única alternativa… ou então mandá-lo de volta.
Desta vez o técnico quase entrou em pânico.
- Mandá-lo de volta para onde, senhor? Nem sabemos de onde veio… nem de quando…
O rosto do chefe do Conselho não escondeu o assombro que aquela declaração causou-lhe. Ao ver-se observado, o humanoide recomeçou a emitir os sons, que vinha repetindo sem parar, desde que fora apreendido, numa língua completamente irreconhecível.
- Ele sempre repete esta mesma fala, no mesmo tom desesperado e agressivo. Parece querer dizer-nos algo importante ou transmitir-nos uma mensagem qualquer… um aviso ou uma súplica...
O homenzinho sabia que não ia ser fácil convencer o chefe do Conselho. Olhou-o novamente com aquela expressão inquiridora em seus pálidos olhos azuis. Mas o chefe já não tinha paciência.
- Continuem a tentar. Reconfigurem o tradutor. Façam algo diferente. Tem de haver uma maneira…
O homem virou-se e saiu apressado, não sem antes olhar novamente para dentro da sala de segregação. Seu olhar cruzou com o do ser envolto pelo campo de luz e ele sentiu uma súbita dor no estômago. Precisava descansar. Aquele não era um bom sinal.
O grupo de cientistas olhou para o homenzinho de olhos azuis, que abanou a cabeça, num gesto de impotência diante de uma autoridade maior que a sua. O brado do intruso, vindo de dentro da sala protegida por um material transparente e resistente começou a deixá-lo muito mais nervoso que já estivera. Não compreendia porque seu superior não concordava com sua alternativa. Ele já havia visto olhos como os daquele humanoide antes e sabia que havia uma forma muito rápida de resolver aquela situação. O homem contemplou a cabine e seu desesperado prisioneiro, que o olhava com aparência cada vez mais insana. Ele ainda não sabia se o pobre coitado gritava imprecações ou se tentava passar alguma mensagem…
- Procedam com a higienização.
Um tubo transparente desceu do teto, à volta do humanoide, quase que imediatamente à ordem do cientista. A sessão de higienização começara. Após a queima total dos pelos, por um processo químico limpo, transformando-os em uma cinza a cobrir o corpo, segue-se uma nuvem de spray húmido e morno que faz a parte de depuração e remoção da cinza e, por fim, uma aspiração completa o processo.
Quando o tubo sobe, o humanoide está bastante diferente. De pé, sem a cobertura de pelos e sem a sujeira, parecia-se muito com os cientistas a observarem-no com curiosidade, com algumas óbvias exceções. Era mais alto, mais musculoso, tinha o formato da cabeça um tanto diferente - um pouco menor que nos novos humanos - mas era humano, com certeza. Havia uma marca impressa na pele do braço, onde os bíceps mostravam-se firmes e desenvolvidos. Aquela tatuagem, agora visível, não passou despercebida ao cientista.
O homem de olhos azuis escondeu um leve sorriso, ao olhar o homem de pé à sua frente, completamente desnudo e desprotegido e soube que estava certo ao propor a alternativa para o enigma da linguagem. 
- Chamem o chefe do Conselho, de volta, com urgência…. Ou melhor: deixem que eu mesmo vou até ele!
***
- Ainda tem dúvida? Temos que trazer Leona até aqui, com urgência. Por mais que tentais evitar, somente ela pode trazer alguma luz à esta questão. Embora queirais mantê-la longe disto, não há como negar que somente ela pode nos ajudar neste momento. Se há uma chave, não há dúvida que ela a possui.
- Pois bem. Façamos o que deve ser feito. Mas que fique bem claro que eu não gosto nada disso.
Os olhos do chefe do Conselho não esconderam a grande preocupação que ele sentiu naquele momento, mas o cientista estava certo. Não era prudente esperar mais, diante da evidência relatada por seu subordinado.
***
Leona chegou-se à frente, para observar melhor o homem dentro da cabine. Ela usava uma veste inteira, de uma peça só, quase justa ao corpo, que cobria-lhe da cabeça aos pés. Um capuz cobria-lhe a cabeça, deixando à mostra muito pouco da face bastante diferente daqueles cientistas, ansiosos por saber se ela conseguia mesmo decifrar o mistério. Seus grandes olhos, profundamente verdes, não pareceram reconhecer aquele ser, mas quando ele levantou a cabeça e avistou-a, sua expressão mudou completamente.
O homem, ao vê-la, jogou-se contra campo de força, gritando algo que parecia-se com a pronúncia do nome dela. O embate contra o campo de força foi tão violento, que o homem foi jogado para trás, caindo sobre suas costas, quase nocauteado. Aquela reação assustou-a imensamente, fazendo com que desse um passo para trás, em resposta involuntária. Ele, porém,  levantou-se, ainda meio tonto e começou a falar a frase que já havia repetido tantas vezes, mas que não fizera nenhum efeito... pelo menos até aquele momento.
Leona falou devagar, tentando mostra-se calma, mas seus grandes olhos eram expressivos demais.
- Ele fala num dialeto muito antigo. Havia muito que eu não ouvia nada parecido.
- E o que diz?
Ela olhou o chefe do Conselho com um ar muito grave, depois baixou o olhar, como se estivesse constrangida. Sua voz parecia, agora, muito tênue, num tom grave, baixo - quase um sussurro - muito diferente daquele que havia usado antes. Evitando olhar o homem de frente, ela passou a informação. Ele teve que fazer um esforço enorme para compreender bem o que ela dizia, mas a mensagem era bem clara.
- Ele disse: devolvam minha irmã!

***