sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Como um Príncipe


Há exatamente um ano, ele fez sua viagem definitiva para o infinito. Foi sem bagagem. Embarcou leve e em silêncio. Não olhou para trás; olhou para mim, uma última vez, antes de partir para sempre... sereno... impávido... nobre…

Levou uma parte de mim com ele. Deixou atrás de si uma falta enorme e um vazio impreenchível.

Ele foi, com toda certeza, meu grande amor. Foi meu filho, meu maior amigo, minha grande paixão. Acompanhou-me por mais de treze anos, em praticamente todos os momentos, especialmente nos mais difíceis e só me trouxe alegrias, para além de uma paz sublime demais. Fez de mim, com certeza, um homem melhor e muito mais humano.

Escrever qualquer coisa sobre ele, hoje, é bastante árduo, sem ter os olhos cheios de lágrimas e a mente e o peito cheios de lembranças… todas lindas… mesmo porque todas as lembranças que eu guardo dele são mesmo as mais bonitas.

Tiger adorava estar onde eu estava. Tinha sempre que ter a certeza que não havia sido deixado sozinho. Gostava de usar minha cadeira, especialmente no inverno, quando eu ainda estava sentado nela, aninhando-se atrás de mim e empurrando-me cada vez que virava de lado. Deixava-me dar-lhe banho, uma vez por mês e escovar-lhe os dentes, duas vezes por dia. Adorava ter o corpo escovado, deitar sobre meu peito, brincar de esconder-se atrás das cortinas e das portas.

Esperava-me, invariavelmente, à porta, todos os dias. Às vezes, quando eu chegava em casa mais tarde que o normal, ele ronronava tão alto ao ver-me, que parecia que ia explodir, de tanta satisfação por ter-me de volta perto dele. Acalmava-se somente quando eu deitava a cabeça sobre seu ombro e acariciava, levemente, toda a extensão de seu longo corpo, ruivo e branco.

Meu tigre foi a melhor coisa que me havia acontecido. Ensinou-me muitas coisas, entre as quais, como viver com simplicidade e amar sem preocupações e sem quaisquer limites.

Ele tinha estilo; tinha porte; tinha presença. Foi um gato sem igual.

Passou por este mundo como um príncipe e como tal foi tratado. Foi amado, mimado, servido e respeitado como um igual...e como igual foi sempre considerado, porque éramos mesmo muito parecidos, em comportamento, apesar de todas as possíveis diferenças entre nossas espécies.

Era conversador e exigente. Claro que tinha um milhão de manias, mas eram quase todas toleráveis. Quando queria alguma coisa, era insistente. Não descansava enquanto não conseguia. A hora de dormir era sagrada. Precisava que eu desligasse a TV e apagasse as luzes. Passava uma vistoria pela casa toda e, somente depois, vinha para o meu lado, avisando quando entrava no quarto. Os horários das refeições também eram, obviamente, controlados, especialmente ao acordar e aos fins-de-semana.

Tiger era super carinhoso, sempre presente, sempre atento a tudo que acontecia à sua volta e, também e especialmente, a mim, seu brinquedo favorito.

Nasceu em África, morou cerca de seis anos no Brasil, veio a morrer em Portugal, depois de quase sete anos a conviver comigo nesta terra distante.

Meu tigre foi-se, para sempre, desta vida, mas estará sempre vivo na minha memória e no meu coração. Ele abriu-me a alma para uma espécie de sentimento que eu não sabia existir. Mostrou-me que o amor tem que ser assim, sempre: incondicional e ilimitado.

Saudades do meu príncipe... 

Ele será, eternamente, uma memória querida, que guardarei por toda a vida e que me fará, sempre, sorrir, ao ser lembrado!




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