sábado, 7 de junho de 2014

De Aço



Deste álgido

E árido coração,

Que palpitava, sem emoção,

A bombear, mecânico,

O denso e frígido

Veneno escarlate,

A irrigar, rigoroso e constante,

As veias mais ténues

Do fatigado corpo,

Dilacerei as entranhas,

Arrancando, dele,

Um delgado,

E gélido filamento,

Resistente e afiado como o aço,

Determinado a decepar,

Do passado,

Todo o mal

E deixar quase intactas,

Unicamente,

As memórias

De uns poucos

E doces momentos,

Vividos num tempo

Antes mesmo do existir.

Quando, distendido

Entre o que foi

E o que devia ser,

A frieza inanimada

Daquele filete de metal

Foi tocada

Pelas cálidas e suaves

Pontas dos teus dedos,

A tensa linha pulsou,

Languidamente,

Gerando a mais doce melodia,

Que cingiu,

Com seus etéreos braços,

A atmosfera à nossa volta,

Fazendo tanger

Outros delicados fios,

Que controlavam, até então,

E apenas,

Os tristes movimentos

Das eternas almas

De todos os sentidos…



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