- Senta, Thomas.
Ele olhou-me com
seus olhos grandes e magnificamente verdes. Não tinha dúvidas sobre o que eu
queria, mas esperava que lhe confirmasse. Eu repeti:
- Senta, Thomas.
Ele sentou-se
sobre o tapete aos meus pés, enquanto eu preparava o nosso desjejum. O som do
pequeno pires de porcelana sendo colocado sobre o granito da pia havia chamado
sua atenção. Aquela era parte de sua rotina matutina. Ao ouvir o tilintar da
porcelana contra a pedra, ele muda a atenção de sua tigela de ração e vai até o
tapete, a esperar pelo miminho, que sempre ganha. Sentado a ouvir o som
conhecido da colher a mexer o iogurte, ele não move os olhos de mim, sabendo
que uma pequena porção vai ser-lhe dada no pratinho branco, decorado com o
símbolo conhecido de um galo português. Ele recebe com satisfação, come até não
restar nenhum vestígio e volta à sua ração habitual.
Ninguém diria que
em apenas seis meses, estaria tão ambientado à minha vida e aos meus hábitos,
como se fizesse parte dos mesmos desde sempre. Aquele gato, cuja triste história
comoveu-me no princípio, havia-me cativado completamente, fazendo-me perceber
que fora mais fácil que eu esperava, tornarmo-nos parceiros de luta. No
fim-de-semana passado havia dado um sinal de confiança que não fizera antes.
Deitara-se sobre minha barriga, comodamente, enquanto eu lia, deitado no sofá.
Vindo da criatura
que, aos poucos, tivera que ultrapassar alguns traumas que eu desconhecia
completamente, aquela era uma demonstração de progresso na relação que vinha
sendo construída aos poucos, com muita paciência e perseverança.
Thomas é um gato excepcionalmente inteligente e tem uma percepção bastante aguçada do ambiente que o rodeia. Sabe bem que confiança tem de ser conquistada e precisa estar muito seguro de que não corre nenhum perigo, antes de deixar-se levar por quaisquer demonstrações de afecto.
Thomas é um gato excepcionalmente inteligente e tem uma percepção bastante aguçada do ambiente que o rodeia. Sabe bem que confiança tem de ser conquistada e precisa estar muito seguro de que não corre nenhum perigo, antes de deixar-se levar por quaisquer demonstrações de afecto.
Desde o dia em
que entramos em contacto, pela primeira vez, o gato de aproximadamente dois
anos, havia sido respeitado e tratado como um hóspede da casa. E como tal
havia-se comportado, pelo menos no começo. O tempo deu-lhe segurança e
confiança, mas como fora adoptado já adulto, reagia de maneira desconfiada, cada
vez que enfrentava uma situação nova. Não consigo imaginar o que sofreu, antes
de ter seu lugar na minha vida, mas garanti-lhe que estava totalmente a salvo, comigo,
dali para frente.
Eu, agora, já não
troco, distraidamente, seu nome. Um sonho que tivera deu-me um sinal que eu
precisava. Tiger deitava-se numa sala separada, confortavelmente, enquanto
Thomas estava em outra, também deitado confortavelmente.
‘Somos dois
animais bastante diferentes e, portanto, nos comportamos diferentemente’.
É como uma
relação nova. Muitas vezes há a inevitável comparação, mas os indivíduos não
são os mesmos, nem se comportarão da mesma forma. Era isso que Tiger vinha me
dizer no sonho.
Thomas é muito diferente do seu antecessor. Desde a forma física, cor da pelagem e dos olhos, até a forma como se acomodou na minha rotina e eu na dele. Ele não é melhor, nem pior; é diferente e é, também, único. E eu tenho que reconhecer que estou muito feliz de tê-lo comigo... sem nenhum tipo de comparações desnecessárias.
Thomas é muito diferente do seu antecessor. Desde a forma física, cor da pelagem e dos olhos, até a forma como se acomodou na minha rotina e eu na dele. Ele não é melhor, nem pior; é diferente e é, também, único. E eu tenho que reconhecer que estou muito feliz de tê-lo comigo... sem nenhum tipo de comparações desnecessárias.
Seus hábitos são
simples e fáceis de perceber. Ele espera-me, todos os dias, à porta, ao final
do dia. Segue-me ao quarto, onde deleita-se com os carinhos que lhe dou, uma,
duas, três… sete vezes... a passar de um lado para o outro, em cima da cama,
assim que desfaço-me dos sapatos e do casaco. Depois cheira-me a cabeça, o
rosto, o pescoço e dá-me sua cabeça para cheirar.
- Vamos comer,
filhote?
Ele percebe logo
a mensagem. Segue-me à cozinha, onde recebe a sua porção de ração, come
enquanto eu preparo minha refeição e, logo em seguida, fica disputando atenção
com minhas tarefas. Por cerca de uma hora, ele corre, brinca com umas bolinhas
de papel alumínio amassado, revira os tapetes, sobe na mesa da sala, para beber
água do frasco que lá é posto, propositadamente, desloca o rato do computador
para o lado, de modo a sentar-se sobre meu braço, ou fica a provocar-me de uma
das cadeiras, espiando por baixo do tampo transparente da mesa e dando-me patadas
nas mãos, para ganhar carinho, um cumprimento, ou alguma conversa.
Passado o frenesi
diário do reencontro e do dispêndio de energia acumulada, ele acalma-se e
deita-se no tapete ou no sofá, especialmente se estiver a ouvir música. Estes
rituais repetem-se nos dias de semana e, muitas vezes, aos sábados também. Aos
domingos, como já era de esperar, sente falta do sono que não usufruiu no dia
anterior e dorme a tarde inteira, em algum lugar quieto e escuro, como dentro
do armário, em baixo da cama ou outro nicho qualquer, que ele encontra ou cria.
Geralmente não
mia, não reclama, não faz sons estranhos. Excepção se dá quando tem de ir à
clínica veterinária, pois não gosta de viajar de carro. Algum trauma anterior?
Não tenho a mínima ideia...
Seu ronronar é
muito suave e quase imperceptível. Seus olhos, porém, estão sempre muito atentos,
assim como as orelhas. Às vezes, quando tudo está em silêncio, ouço um ressonar
baixinho vindo de onde ele dorme profundamente. Dou uma risada discreta, feliz
por saber que está tão relaxadamente confortável no ambiente que lhe é, agora,
tão familiar e que é, também, sua casa.
Como um bom
animal de companhia, Thomas normalmente está perto de onde estou, como se
quisesse ter a certeza que estou protegido por sua presença. Como um pai
adoptivo, eu preocupo-me em saber se ele está bem aconchegado, alimentado e
tranquilo, ou se as suas inúmeras bolinhas de brinquedo já não estão acumuladas
em baixo do sofá da sala.
Recentemente
aprendeu a responder convenientemente, quando eu digo:
-‘Bom dia, gato. Estás bem?’
Ele levanta a patinha direita em altura suficiente para que eu o cumprimente com um ‘aperto de mãos’ e olha-me com uma carinha engraçada.
-‘Bom dia, gato. Estás bem?’
Ele levanta a patinha direita em altura suficiente para que eu o cumprimente com um ‘aperto de mãos’ e olha-me com uma carinha engraçada.
Thomas dá-me
suporte. Dá-me alegria. Dá-me companhia e ensina-me a ser paciente,
condescendente e, ainda por cima disto tudo, tornou-me extremamente emocional.
Neste momento,
está deitado no sofá, 'envelopado' no
cobertor, como se fosse uma chamuça de gato, a ouvir música e a dormitar confortavelmente,
sem saber que estou a escrever uma homenagem/agradecimento à sua presença nesta
casa e na minha vida, sentindo meu coração leve e aquecido, por tê-lo aqui comigo.
Vê-lo assim, faz-me ter certeza que adoptá-lo foi a melhor coisa que eu fiz por nós dois... sem dúvida nenhuma.
Seis meses aprendendo a conviver...
ResponderEliminarUm blelisimo texto
EliminarMuito obrigado. Sempre bom receber apreciações ao meu trabalho.
EliminarAmigo Elcio não quero comentar o ensaio propriamente.
ResponderEliminarGostei da homenagem que faz a um companheiro que provavelmente é fonte imensa de serenidade.
Parabéns
Obrigado, Mesquita. É mais que fonte de serenidade... é uma excelente companhia.
EliminarLindo.
ResponderEliminarAlex.
Obrigado, Alex. Faço com o coração...
EliminarBelo texto, e que sorte ambos têm.
ResponderEliminarObrigado pelo apoio... pois, acho que ganhei a sorte grande!
EliminarFiquei emocionada ao ler o seu texto... pois me revi nas suas palavras... Também sinto a mesma cumplicidade com o meu amiguinho felino de 4 patas.
ResponderEliminarParabéns
Obrigado, Helena. Nem sei dizer o que seria a vida sem ele...
Eliminar