sábado, 29 de dezembro de 2012

Milagres...


…E ao ouvir tua voz,
Assim tão familiar e,
Ao mesmo tempo,
Tão além 
Do meu campo
De visão,
Do calor do meu corpo
E do meu abraço,
Minha própria voz me falta
E meu coração se alvoraça,
Como um bando de pardais
A levantar voo,
Numa morna tarde
De Verão.
Minha emoção assenhora-se
Da minha razão 
E flui,
Livre
E arrebatada,
Para além de meus olhos,
Como um rio
Que, serpenteando
Por verdes vales,
Vai desaguar
Nos braços
Do oceano…
E enquanto, assim,
Tão distante de ti,
E suspenso
Entre o delírio,
A saudade
E o desejo
De te rever,
Sinto,
Por vezes,
Que já nem pertenço
- Mais -
A mim somente…
Só então compreendo
Que, enquanto eu contemplava
Asas nascidas
Em costas alheias,
Não percebia
Que era o teu carinho
- E tão-somente ele -
Que permitia a mim
O milagre
- Único -
De tirar os pés do chão
E alçar meu próprio
Voo…

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