sábado, 1 de julho de 2017

Partida




















E partes…

No silêncio solitário

Da manhã de verão,

Das águas e do sol,

Entre os aromas do café

Fresco,

Do leite e do mel,

Na rotina domingueira

Dos bichos e dos homens.

Partes,

Porque partir faz parte

De um processo

Que não pode ser,

Senão e absolutamente

Natural.

Já nem olhas para trás

E teus passos já não são instáveis,

Nesta estrada ladeada por flores,

A cobrir imensos campos

De cobre e aço.

Partes…

E deixas, partidos,

Em incontáveis pedaços,

Os corações

De quem te amou,

Estilhaçando as emoções,

Que já nem sei sentir,

Nesta confusão estranha,

Que manifesta-se, talvez,

Tarde demais.

E partes,

A romper o frágil e físico fio

Que te prendia a este mundo,

Deixando as recordações

De momentos

Que, agora,

Já são apenas, doces lembranças

A flutuar nas memórias voláteis

Dos tempos.

Partes tranquilo,

Porque a tua viagem é,

Agora,

Outra…

E o caminho desse lado

Já foi trilhado.

Partes, enfim,

Porque partir é o objetivo

Final

Desta curta

E solitária jornada.

Partes sem um adeus,

Sem um aviso

E sem o peso desnecessário da bagagem.

Partes,

Porque esta partida é um novo início,

Tanto para quem vai,

Quanto para quem fica,

Porque viver é preciso,

Sempre,

Mesmo que seja,

Somente,

Na memória

De quem não vai contigo…



5 comentários:

  1. Uma homenagem ao meu pai, que partiu, talvez, rápido demais...

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  2. Na ilustração, tentei amenizar as marcas do tempo no rosto dele. Espero ter feito jus ao original...

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  3. Neste gesto seguro de aceno e saudade, fica a imagem do interminável, como o mistério do amor e da indiferença, do encontro e da despedida.
    Um recomeço sempre no abraço, de outro, de outros. Vivemos de olores, de lembranças é que se tece a vida.

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  4. Simplesmente maravilhoso. Obrigada por suavizar com palavras tão lindas a dificil hora da despedida. Grande beijo no teu coração amigo querido. Que Deus continue te abençoando com este dom de transformar o óbvio em poesia.

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